Anabela Saraiva apanhou um valente susto quando o marido, que tinha ficado em casa a tomar conta da filha de 2 anos com bronquiolite, lhe telefona para o trabalho a perguntar se o medicamento que ele tinha acabado de dar à filha era mesmo para ser dado à colher. Anabela mora perto do trabalho e em 10 minutos voou até casa. Confundido e pouco habituado a ter para si a responsabilidade de dar os medicamentos aos filhos, Miguel tinha dado um medicamento à filha que era para ser diluído em soro e posto no nebulizador para ser inalado e não ingerido. Algo o fez confirmar com a mulher e quando ouviu um grito mudo do outro lado do telefone percebeu que tinha errado. Quando Anabela chegou a casa já Miguel tinha telefonado para o número de urgência das intoxicações, que o orientaram e acalmaram.
Felizmente foi só um susto e nada aconteceu à criança, mas este é apenas um dos muitos casos em que os pais se enganam, por descuido, distração, cansaço ou desconhecimento.
O problema com as crianças é que os nossos erros podem ter graves consequências, porque, se pensarmos bem, os seus corpos são bem menores que os nossos, os órgãos não atingiram a sua maturidade (sobretudo bebés), não metabolizam os medicamentos da mesma forma que um adulto, tornando-se assim mais vulneráveis aos enganos.
Não faça as medições a ‘olhómetro’
Quem diz 5ml, diz 6ml ou 4ml? Não, 5ml são 5ml, são 5ml. E não pegue nas colheres lá de casa para dar o xarope ou antibiótico. A sua colher de sopa, sobremesa ou café pode ser diferente da da vizinha do lado ou da sua prima, e quando o médico diz uma ‘colher’ está a falar informalmente, na receita ele vai indicar a medida certa.
Atualmente, os medicamentos trazem colheres de medição, use-as. Como há sempre a possibilidade de as perder, de se partirem, tenha uma seringa como medida de segurança (peça na farmácia para estar prevenida).
Se o medicamento é vendido sem receita médica e tem o aval do médico, pergunte-lhe sempre a medida exata (ou ao farmacêutico) não se fique pela ‘colher de sopa’ que a sua amiga dava ao filho dela.
Não calcule a dose com base na idade
Ora aqui está outro erro muito frequente. Pense nos coleguinhas de sala do seu filho. podem ter todos a mesma idade mas tamanhos e pesos muito diferentes. As crianças metabolizam os medicamentos de maneira diferente se pesarem 20 ou 30kg, podendo ter, no entanto, a mesma idade. Para terem efeito, as doses dos medicamentos são calculadas em função do peso e não da idade.
Quando for ao pediatra, e este lhe perguntar quanto é que o seu filho pesa, não diga um número aproximado (ou o que ele pesava há seis meses, você sabe como os miúdos crescem depressa) porque se a dose for calculada para um peso que não é o verdadeiro, esse remédio já não será tão eficaz.
Geralmente há uma balança nos consultórios, portanto as crianças (e adultos se for o seu caso) podem ser pesadas ali na hora.
Leve as indicações dos pediatras à letra
E não interrompa uma medicação antes do fim do tratamento prescrito porque a criança já está melhor. Se o médico diz que são 10 dias de antibiótico, faça mesmo os 10 dias, tal e qual, mesmo quando a criança já não tem sintomas.
Quando os pais deixam de dar o antibiótico aos filhos a meio de um tratamento, ou não cumprem os horários estipulados, isso só vai fazer com que o problema volte mais tarde e com mais força. É que as bactérias são seres muito resilientes e adaptam-se facilmente, criando resistência ao antibiótico.
O uso indevido e indiscriminado do antibiótico está a fazer com que estejamos a assistir a um aumento de superbactérias, seres microscópicos esses a quem o antibiótico comum nada faz e tem de se recorrer a outros medicamentos muito mais fortes.
Não use medicamentos abertos há vários meses
Sim, mesmo que estejam dentro da validade, é um erro. Um antibiótico prescrito a alguém deve ser tomado só por essa pessoa, durante o tempo estipulado, nas tomas adequadas.
Depois deve ser descartado (Numa farmácia, não no lixo). Não pode ser usado passadas duas ou três semanas e muito menos dado a outra pessoa com um problema que parece ser semelhante.
Com os anti-histamínicos em xarope acontece um problema parecido. Quando o frasco é aberto tem uma validade de perto de um mês (leia a bula que está lá tudo escrito), portanto de nada vale tomar o resto do xarope passados 3 meses depois de aberto, porque já não tem efeito. Para se lembrar, escreva na embalagem a data de abertura do frasco e até quando deve ser consumido.
DEI O MEDICAMENTO ERRADO E AGORA?
Para tirar as suas dúvidas, ligue ao pediatra ou, em caso de urgência, para:
Centro de Informação Antivenenos (808.250.250).
Neste caso, são feitas algumas perguntas para determinar o grau de perigo.
Quem: idade, sexo.
O quê: produto, animal ou planta, cogumelo.
Quanto: quantidade de produto e tempo de exposição (há quanto tempo).
Onde: em casa, na escola, no trabalho.
Como: jejum, com alimentos, com bebidas alcoólicas.