Já pensou que o bebé, antes de ver o rosto da mãe, ouve a sua voz? A voz sempre encantou o Homem, desde as musas da mitologia grega, às sereias que, com o seu canto, amaldiçoavam os marinheiros. Quem não se lembra da história da Pequena Sereia? A voz é o elemento-chave, o elemento de encanto… É o elemento de identidade!
A nossa voz diz muito sobre nós. Faz parte de quem somos, das nossas raízes. Com ela, relacionamo-nos e expressamos emoções e ideias.
Para que a voz possa existir, vários mecanismos e interações têm de ocorrer, nomeadamente ao nível do sistema nervoso central e periférico e na função pulmonar. Na produção de voz, estão envolvidas múltiplas estruturas como as cartilagens, ligamentos, músculos e mucosa que constituem a laringe, o órgão onde se localizam as cordas vocais.
O passar dos anos transforma o nosso organismo, e a voz é um forte alvo dessas mudanças. Ao processo de envelhecimento da laringe denominamos de presbilaringe, que pode provocar um envelhecimento da voz (presbifonia). Estima-se que, acima dos 65 anos, esta possa ser responsável por 25% das causas de rouquidão.
A que sintomas devo estar atento?
Muitas vezes, a primeira queixa que surge é o cansaço vocal. Os dias de reuniões ou de convívios começam a ficar cada vez mais penosos, sentindo que se cansa com mais facilidade, que precisa de respirar mais vezes, para falar, ou podendo mesmo passar a experienciar algum desconforto ou dor, na zona da laringe.
Outros sintomas que, normalmente, se seguem são a dificuldade em falar mais alto ou frequências mais agudas, sentir a voz trémula, mais áspera, com mais tensão, mais soprosa (como se tivesse mais ar) ou alterações no seu timbre. Numa fase mais avançada, pode mesmo acontecer que já não se reveja na sua voz.
Qual deve ser o primeiro passo?
Em primeiro lugar, deverá recorrer a uma consulta com o médico otorrinolaringologista especialista em voz. É essencial estabelecer o correto diagnóstico, o mais cedo possível, excluindo doenças como nódulos ou pólipos das cordas vocais, tumores das cordas vocais, paralisia das cordas vocais, entre outras. Alterações da função do sistema nervoso central, respiratório ou da tiroide, por exemplo, também podem provocar alterações vocais e têm, igualmente, de ser consideradas.
Quando fazemos a avaliação clínica, a alteração típica característica de presbilaringe é a atrofia das cordas vocais. Estas ficam mais finas e arqueadas, o que conduz a uma passagem de ar aumentada, quando se fala. Dá-se, então, uma diminuição da eficácia da voz, que denominamos por insuficiência glótica.
Gostava de melhorar a minha voz. Que soluções existem?
Há muito que pode ser feito. Podemos dividir as intervenções em dois tipos: alterações comportamentais e cirurgia.
O primeiro comportamento a adotar é a correta hidratação. Em caso de existirem hábitos tabágicos, recomenda-se a sua cessação.
Além disso, a prática regular contribui para a competência de uma determinada função. Por exemplo, todos nós já vimos ou assistimos a filmes ou concertos dos nossos artistas preferidos, que mantêm uma qualidade vocal incrível. De facto, o treino vocal e/ou a formação em canto permitem colmatar as alterações vocais que se vão registando, ao longo do tempo. Fazer terapia da fala, participar num coro amador, em grupos de debate ou de leitura também podem ser parte integrante do tratamento.
Nos casos em que os cuidados gerais e as técnicas de terapia vocal se revelam insuficientes, surgem as opções cirúrgicas. À semelhança das soluções que existem para reverter as rugas e o envelhecimento da pele, também nas cordas vocais é possível aplicar alguns produtos que permitem melhorar a sua função, como o ácido hialurónico, a gordura, e os implantes de silicone, por exemplo.
A opção mais adequada é definida de acordo com o caso de cada doente, tendo sempre como objectivo final resolver as queixas de cansaço vocal e permitir uma voz mais forte, mais limpa, com menos esforço e mais próxima daquilo que considera ser a sua voz.
Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a ACTIVA nem espelham o seu posicionamento editorial.