Um grupo de mulheres conversam entre si, bem-dispostas, enquanto uma delas é maquilhada. Poderíamos pensar que se preparava uma produção de moda, não fosse o facto de todas terem mais de 45 anos. Margarida, 61 anos, reformada, Isabel Amado, 48, e Cristina Vasconcelos, 47, ambas advogadas, estão prestes a enfrentar a objectiva de Vera Eloy.
Envelhecer com orgulho
O convite endereçado pela Dove à fotógrafa para que, inspirando-se na campanha da nova gama Pro-Age da marca que ‘despiu’ mulheres de todo o mundo entre os 45 e os 65 anos, mostrasse como as portuguesas assumem com orgulho as marcas dos anos foi aceite com entusiasmo. ‘A ideia era trabalhar com mulheres normais trabalho que eu já desenvolvo na minha empresa, a Spoil e queriam que fosse uma fotógrafa do sexo feminino a fazê-lo.’ O objectivo da iniciativa? Mostrar que a beleza não é sinónimo de juventude.
Para manter o espírito do projecto, não se fez nenhum casting. ‘Começámos a ver quem, do nosso leque de conhecimentos, se enquadrava no objectivo pretendido. Tinham de ser mulheres que gostassem e tratassem de si. Todas as convidadas aceitaram sem receber nada em troca.’
As rugas… como elas são
Nenhuma destas mulheres fez cirurgia plástica. E se o objectivo nesta produção é torná-las mais bonitas, isso não significa disfarçar as marcas do tempo: ‘Se têm olheiras, escondem-se, mas sem usarmos uma maquilhagem carregada; não vamos tirar os poros, nem as rugas, pois pretende–se que assumam a idade que têm.’ Habituada a transformar mulheres normais em modelos, Vera tem noção que o sucesso deste tipo de trabalho passa por estabelecer uma relação de à-vontade.
‘Têm de ser guiadas e é preciso tirar cem fotografias para que as últimas trinta resultem, porque as ‘modelos’ estão tensas.’ Quando à inexperiência se junta a idade, o desafio cresce: ‘As mulheres mais velhas retraem-se, pois têm medo do ridículo.’ Por isso, exige-se uma sensibilidade extra.
Sem medo da idade
‘Tenho os cuidados normais de beleza, faço ginástica e tenho atenção com a alimentação. Hoje sinto-me no auge.
Acredito que esta vai ser a época das novas balzaquianas, das mulheres entre os 45 e os 60 anos.’ Com tranquilidade, Cristina Vasconcelos prepara-se para entrar no estúdio e garante que as rugas não a afectam. ‘O que me preocupa é envelhecer mal, primeiro por dentro e, depois, por fora. Mas se me manter activa, espiritual, intelectual e fisicamente, o envelhecimento não me assusta.’ As fotografias que resultarem da sessão vão ficar expostas aos olhos de todos a partir de 11 de Maio, na Sala Fernando Pessoa do Centro Cultural de Belém.