Quando João Osório, 36 anos, acordou com a cara cheia de borbulhas, percebeu logo que não se tratava de um ataque de acne tardio nem de nenhuma alergia. Este director de contas numa agência de comunicação foi logo ao médico e saiu de lá com um diagnóstico de varicela, uma doença bastante comum em crianças, mas rara nos adultos. ‘Tive de ficar 10 dias em casa e, nessa altura, fui à Internet pesquisar para estar mais bem informado.’
Também Rui Rei, 29 anos, já não se imagina sem a Internet para tirar dúvidas. O programador informático conta que recorreu à web quando o dentista lhe disse que tinha de desvitalizar um dente. ‘Fui saber como se fazia, que produtos usavam, quais eram as etapas.’ Carla Antunes, 27 anos, teve a mesma motivação quando foi procurar informação sobre a operação ao coração a que o pai ia ser sujeito: ‘Pesquisei os pormenores técnicos, quanto tempo demorava e quais eram os riscos. Fui eu que expliquei ao meu pai o que lhe ia acontecer.’
Vantagens: médicos sob controlo
Como eles, são cada vez mais as pessoas que recorrem à web para tirar dúvidas sobre problemas de saúde. Qualquer motor de busca apresenta milhares de resultados sobre qualquer doença. Em muitos deles, os médicos disponibilizam-se a tirar dúvidas e existem fóruns onde pessoas com as mesmas patologias trocam informações.
E é claro que isto tem um lado positivo: encontra informação e grupos de apoio, mesmo quando se trata de doenças raras. ‘A Internet é a maior biblioteca do mundo’, diz Mário Freitas. O delegado de saúde pública é um dos gestores do portal www.portaldasaude.pt, vocacionado para profissionais de saúde, mas onde o cidadão comum também encontra informações sobre gripe ou acupunctura e pode participar em fóruns de discussão. ‘Mesmo se pensarmos numa doença que atinja apenas meia dúzia de pessoas no mundo inteiro, é certo que há-de haver um site sobre o assunto’, garante.
Outra das grandes vantagens da Internet é que permite exercer alguma ‘vigilância’ sobre a classe médica. ‘O facto de os pacientes estarem mais bem informados faz com que possam confrontar os médicos, é uma forma de ‘fiscalização’ que pode ser muito saudável’, sublinha o otorrino Fausto Machado.
Precauções essenciais
Apesar das vantagens, é aconselhável ter alguns cuidados quando procura informação médica na Internet.
.Prefira sites institucionais. ‘Por vezes, deparo-me com informações absurdas, sobretudo no campo da sexualidade, nutrição e bem-estar. No futuro, talvez se tenha de equacionar uma forma de controlo da qualidade da informação, mas por agora esta tem de ser individual e passa pela selecção das fontes. Sites oficiais oferecem mais garantias do que os pessoais’, explica Mário Freitas.
.Cruze informação. Não se limite ao que vem referido num só site. É essencial cruzar várias fontes.
.Verifique a autoria. ‘É importante que as pessoas vejam quem escreve e se há contactos. Qualquer um se pode intitular médico e pôr-se a dar informações. Haver maneira de contactar o autor é sempre uma garantia’, diz Andreia Rodrigues. Esta terapeuta da fala escreve regularmente para o site Médicos de Portugal (www.medicosdeportugal.pt) e assegura que responde sempre aos e-mails que os internautas enviem.
.Não confie nos preços indicados. O dentista Nuno Cordas já se habituou a que lhe apareçam no consultório pessoas com informações de preços recolhidas na rede. ‘Pesquisam sobre branqueamentos ou implantes e quando lhes digo alguma coisa respondem ‘mas olhe que eu vi num site que.’. Esquecem-se é que nem tudo o que lá está é aplicável ao seu caso concreto e que nenhum médico lhes pode dar orçamentos via Internet sem as observar primeiro’, explica.
.Cuidado com os diagnósticos. Um médico online até lhe poderá esclarecer dúvidas, mas nunca fazer um diagnóstico. E tentar você própria fazer um através do que lê ainda é mais perigoso: será difícil não concluir que tem alguma doença grave quando não é o caso. Foi o que aconteceu a Filipe Boavida. Este designer, de 30 anos, observou um eclipse solar sem óculos de protecção. ‘Quando cheguei à empresa estava atordoado e fui pesquisar sobre os meus sintomas. Só encontrava coisas sobre retinas queimadas e entrei em pânico a pensar que ia perder a visão. Claro que não aconteceu nada disso.’ .Use-a como fonte de informação complementar e nunca substitutiva do médico.
Encontre o apoio de que precisa
Alguns sites úteis, em português, à distância de um clique. Muitos deles têm fóruns onde pode partilhar experiências e informações com outras pessoas.
http://www.rarissimas.pt . Um site de apoio a pessoas com doenças raras.
www.alzheimerportugal.org . Para familiares e amigos de doentes de Alzheimer.
www.admd.pt . Associação de Apoio aos Doentes Depressivos e Bipolares.
www.apdp.pt . Associação Protectora dos Diabéticos de Portugal.
www.contraleucemia.org . Associação Portuguesa Contra a Leucemia.
www.adexo.pt . Ass. de Doentes Obesos e Ex-Obesos de Portugal.
http://apa.org.pt . Ass. Portuguesa de Asmáticos.
www.acs.min-saude.pt/acs . Alto Comissariado da Saúde.
www.saudepublica.web.pt . Portal de saúde pública.