Acorda a meio da noite transpirada e desconfortável e não entende porquê? O seu marido e os seus filhos já lhe disseram que anda muito irritadiça e sem paciência para nada? Se tem entre os 45 e os 55 anos, é provável que estes sejam alguns sinais que indicam que pode estar a entrar na menopausa. É então que começam a surgir os primeiros suores frios, para não falar dos calores inesperados (afrontamentos) que podem levar a transpiração excessiva, muitas vezes durante a noite, e das mudan-ças repentinas de humor. Mas as mudanças também surgem a nível psicológico. A prová-lo, um estudo, publicado na revista ‘Archives of General Psychiatry’, que re-vela que, nesta altura da vida, as mulheres sem historial de depressão têm o dobro das probabilidades de vir a desenvolver algum transtorno psíquico.
A questão que se coloca é: ‘o que pos-so fazer’? Bem, nesta fase é necessário conhecer as opções de tratamento para, em conjunto com o seu médico, escolher a que se adequa melhor ao seu caso.
Terapêutica Hormonal de Substituição (THS)
Quais os benefícios ?
Indicada para aliviar os sintomas da menopausa, a sua prescrição também actua sobre a descalcificação, tendo óptimos re-sultados na prevenção da osteoporose. Os benefícios são quase imediatos: diminui os afrontamentos e os suores nocturnos, ajuda a manter a concentração, decresce a fadiga e a falta de energia.
Como é que actua?
A sua acção baseia-se na reposição das hormonas femininas (estrogéneo e progesterona) que o ovário deixa de produzir com o cessar da menstruação. ‘Existem dois métodos: só estrogéneo (indicado para mulheres que fizeram histerectomia, uma intervenção cirúrgica de remoção do útero) ou a combinação das duas’, adianta Daniel Pereira da Silva, ginecologista.
Tem de ser tomada a vida toda?
É consensual que a terapêutica deve ser mantida no máximo por cinco a seis anos, mas também aqui o tipo de THS (mono ou combinada) e a forma como o organismo da mulher se comporta devem ser avaliados. A terapêutica deve ser personalizada, apresentando a mais baixa dosagem possível, e deve man-ter-se apenas enquanto os sintomas se mantiverem.
Quais as formas de administração?
Os comprimidos, gel, adesivo de aplica-ção dérmica, creme vaginal e os implantes subcutâneo ou vaginais são as opções disponíveis segundo indicação médica.
Há alguns riscos?
A combinação das moléculas de estro-géneo e progesterona está no centro da controvérsia entre a comunidade médica, às voltas com a relação riscos/benefícios para a mulher. ‘Está provado que a proges-terona, associada aos estrogéneos, aumenta o risco de cancro da mama, mas também sabemos que este é o único tratamento realmente eficaz’, explica o ginecologista, que alerta para a necessidade de a mulher realizar uma mamografia antes de iniciar a terapia. ‘Ao fim de um ano, avalia-se como se comportou a mama. Se não houver modificação, ficamos mais tran-quilos. À mínima suspeita, reduzimos ou alteramos a substância (progesterona) que potencia o risco, garantido-se a segurança do tratamento.’
Há alguma situação que impeça o recurso à THS?
Sim. Está contra-indicado quando está a amamentar ou se há suspeitas de gravidez (mesmo quando há sintomas de pré–menopausa, os órgãos reprodutores continuam a funcionar e a mulher pode engravidar), se tem problemas hepáticos e mamários, se suspeitar de tumor no ovário ou se sofre de alterações vasculares ou diabetes.
Os benefícios justificam os riscos?
‘Há muitos exageros quando o assunto é THS. Sabemos que não temos a panaceia ideal, mas, desde que os riscos sejam bem avaliados, assim como os benefícios, não há por que não fazê-la’, adverte o ginecologista. E reforça que ‘uma vigilância permanente e os exames de acompanhamento despistam o perigo e ajudam a tranquilizar a mulher’.
Alternativas menos convencionais
A ideia de que apenas a THS consegue atenuar e melhorar a qualidade de vida há muito que foi ultrapassada pela chegada de novas terapêuticas: as alternativas naturais.Porém, a inexistência de uma autoridade nacional que assegure a segurança destas terapêuticas (no caso dos medicamentos cabe ao Infarmed dar a sua aprovação), reforça a ideia de que não deve iniciar uma terapêutica sem falar com o médico.
Fitoestrogéneos ou isoflavonas de soja (SERM)
As isoflavonas ou fitoestrogéneos são substâncias presentes na soja e nos seus derivados. As semelhanças estruturais entre os fitoestrogéneos e a hormona feminina de estrogéneo garante-lhe que seja bem tolerada e que reduza os afrontamentos e os níveis de colesterol. É uma alternativa válida para todas as mulheres e, em especial, para quem está contra-indicada a THS, seja porque há um historial de cancro de mama na família, porque já sofreu da doença ou se tem problemas hormonais prévios. A sua actuação reduz e previne o risco cardiovascular, regulariza o colesterol e previne doenças neurodegenerativas. Se bem que não exista evidência que garanta protecção contra o cancro da mama, sabe-se que não predispõe à doença. Os fitoestrogéneos existem em alguns vegetais, mas a soja é a que está mais bem estudada, daí que existam suplementos alimentares (cápsulas), vendidos em farmácias, para os quais não é necessário receita médica.
Vitamina E
Pode ser uma ajuda preciosa para atenuar o efeito dos afrontamentos, ao mesmo tempo que confere protecção cardiovascular, já que inibe a acção dos radicais livres. Apesar de existir em alguns alimentos (brócolos, batata-doce, leite), apenas os suplementos (comprimidos) repõem a quantidade necessária ao organismo. Mas, atenção: os estudos científicos não asseguram esta causa e efeito e avisam que uma sobredosagem de vitamina E pode prejudicar a saúde.
Black cohosh
A Sociedade Americana para o estudo da Menopausa há muito que recomenda às mulheres maduras os suplementos baseados nesta planta, conhecida há muito pelos índios americanos. A sua composição, baseada em fitoestrogéneos, permite minorar os sintomas da menopausa. Com uma acção suave, mas suficiente, estes comprimidos atenuam o défice de estrogéneos, diminuindo a intensidade dos calores e dos suores nocturnos. Estes produtos já estão à venda nas farmácias.
Suplementos alimentares de soja e inhame selvagem
As isoflavonas presentes na soja ajudam a reduzir a intensidade e frequência das ondas de calor enquanto o inhame selvagem (um tubérculo rico em diosgenina, uma molécula cuja estrutura se aproxima da progesterona natural) regula a retenção dos líquidos e das sensações de inchaço, ao mesmo tempo que atenua os problemas de humor e de sono. Podem ser encontrados nas farmácias.
Tibolona
Este esteróide, que combina o essencial das hormonas femininas (estrogéneo e progesterona), tem uma acção eficaz na profilaxia da osteoporose e dos afronta mentos e previne a doença de Alzheimer. Apesar dos benefícios, o Infarmed adverte que estes comprimidos podem desencadear reacções adversas, como alterações no peso, hemorragia vaginal, dores abdominais, perturbações gastrointestinais, depressão e perturbações visuais. É vendido nas ervanárias.
Acupunctura
Complementada com uma fitoterapia chinesa, baseada nas isoflavonas de soja, esta terapêutica ajuda-a a equilibrar as hormonas, promover o aumento da massa óssea, melhorar a circulação sanguínea, controlar o peso e contrariar a ansiedade. É iniciada com os primeiros sintomas (irregularidade menstrual). As sessões de acupunctura são mais frequentes no início e terminam com o fim da menstruação, quando se inicia a ingestão das isoflavonas de soja, para tomar toda a vida.
Alimentos que aliviam os sintomas
Poucos sabem que as alterações fisiólogas impostas pela falta da produção de estrogéneos, como a ‘falta’ de ar e os ‘calores’, podem ser minimizadas se, ao longo da sua vida, tiver ingerido os alimentos certos. Os nutricionistas apelam a uma dieta rica em cálcio, fósforo, vitamina D, magnésio e boro (leite, queijos, carne e legumes). Não se esqueça dos hidratos de carbono, em especial os amidos (batata, massas, pão) e de beber muita água. Tenha também na sua dieta alimentos ricos em ómega-3 (salmão, atum, bacalhau, arenque, cavalinha, sardinha, truta, óleos de peixe e sementes de linhaça) e use e abuse dos ácidos gordos monossaturados (azeite).
Quando surge mais cedo do que o normal
A menopausa prematura ocorre antes dos 40 anos. Entre as causas destacam-se as anomalias genéticas ou os problemas do sistema auto-imune (em que os anticorpos do nosso organismo lesam os ovários). Para quem fuma, um alerta: este hábito pode levar a menopausa a começar alguns meses antes do normal. A THS com estrogéneos pode evitar ou reverter os sintomas, contudo, uma mulher nestas condições tem menos de dez por cento de possibilidade de engravidar.