A osteoporose é a doença em que os ossos vão perdendo densidade – de forma progressiva e silenciosa -, ficando por isso mais porosos e frágeis. O resultado é o aumento do risco de fracturas. Embora seja assintomática, uma perda de altura superior a 2,5cm, uma postura cada vez mais encurvada podem ser sinais de que a doença já se instalou.
As fracturas mais comuns relacionadas com a osteoporose são as do pulso, coluna e colo do fémur (anca) e 75% delas ocorrem em pessoas com mais de 65 anos. As duas últimas são também as mais dolorosas e de recuperação mais demorada. “Têm um impacto social muito grande na vida do doente”, explica-nos António Oliveira, ortopedista da Clínica CUF de Belém, em Lisboa. “Requerem cirurgia, têm uma taxa alta de mortalidade (ronda os 20%) e de complicações de saúde posteriores.” Esta mortalidade não decorre da cirurgia e sim do facto dos doentes, maioritariamente idosos, ficarem acamados e com a saúde fragilizada.
Mitos perigosos
Algumas ideias comuns sobre osteoporose são erros que, a longo prazo, podem revelar-se nefastos para a sua saúde.
1- Para prevenir basta beber muito leite.
“O cálcio é importante mas não podemos pensar que basta beber um copo de leite todos os dias e temos o problema resolvido”, adianta António Oliveira. “De nada adianta se não fizermos exercício, fumarmos ou se consumirmos demasiado sal e cafeína. Para a fixação do cálcio no osso, também necessitamos de vitamina D, que nos é dada pelo sol. Nos idosos, a toma de suplementos desta vitamina pode ser aconselhada.”
2- Só preciso de me preocupar com a osteoporose depois da menopausa.
A queda do nível de cálcio nos ossos é normal depois dos 60 ou 70 anos mas isso não significa que a osteoporose seja inevitável. “Não podemos preocupar-nos com ela apenas aos 60 anos. É importante que possamos formar ossos resistentes durante a juventude e vida adulta. É como construir uma casa”, aconselha António Oliveira.
3 – É uma doença que só afecta as mulheres.
A International Osteoporosis Foundation estima que uma em cada três mulheres com mais de 50 anos virão a sofrer de uma fractura relacionada com a osteoporose, tal como um em cada cinco homens. “A perda de estrogénios que ocorre durante a menopausa desprotege as mulheres, enquanto os homens mantêm os níveis que testosterona durante mais tempo, mantendo neles um factor de protecção”, explica o ortopedista.
Lacticínios são a melhor fonte de cálcio?
Nos últimos anos muito se tem discutido se os lacticínios são a melhor fonte nutricional de cálcio. Se a maioria dos especialistas concorda com o pressuposto, uma nova corrente argumenta que não existem provas científicas de que assim seja. “Sabemos que em alimentos com muitas proteínas o cálcio é menos absorvido… e o leite tem muitas proteínas”, observa António Oliveira. “Mas os lacticínios são as fontes de cálcio mais interessantes em termos nutricionais. A quantidade diária recomendada está entre os 800 e os 1000mg, para os jovens, e entre 1000mg e 1200mg nos adultos, porque perdem mais cálcio do que os jovens.”
Já a Escola de Saúde Pública de Harvard é cautelosa. “Não é claro que precisemos de tanto cálcio quanto actualmente é recomendado e também não é claro que os lacticínios sejam a melhor forma de obter cálcio para a maior parte das pessoas”, pode ler-se no site (www.hsph.harvard.edu). “Se é verdade que o cálcio e os lacticínios baixam o risco de osteoporose e cancro do cólon, o seu consumo elevado implica riscos de cancro na próstata e ovários. Mais: os lacticínios podem estar carregados de gorduras saturadas, bem como de retinol (Vitamina A) que, em níveis elevados, podem enfraquecer os ossos.” Aconselham ainda a manter o seu aporte de lacticínios em uma ou duas porções diárias (um copo de leite ou uma fatia de queijo, por exemplo).
Em último caso, diz o ortopedista António Oliveira, há sempre os suplementos de cálcio. “Pode até ser a forma mais prática de tomar, mas a tentação do doente é sempre pedir um comprimido milagroso que resolva a situação em vez de fazer uma alimentação equilibrada. Justifica-se nas crianças e em pessoas que tenham problemas de absorção deste nutriente.”
Mexa esse esqueleto
“Se fazermos exercício temos uns músculos fortes; o osso reage ao exercício da mesma maneira”, explica António Oliveira. “Os nossos ossos ficarão mais resistentes e com maior densidade óssea se fizermos exercício toda a vida.”
A APOROS (Associação Nacional contra a Osteoporose) aconselha a marcha, dança e aeróbica de baixo impacto, bem como os exercícios de Tai Chi, os exercícios de resistência usando pesos livres, por exemplo, sobretudo para quem já tem osteoporose – neste caso, três sessões semanais de 30 minutos cada é a frequência recomendada. Desportos de contacto são desaconselhados. “A caminhada, a ginástica de reabilitação e a hidroginástica são bons exercícios numa fase mais tardia de vida”, afirma o ortopedista. “Muito importantes também são os exercícios de flexibilidade e movimentação articular: combatem a rigidez das articulações, manter a coordenação motora e, assim, previnem quedas.”
O ortopedista aponta ainda a necessidade de preparar a casa para que não seja uma armadilha perigosa para doentes de osteoporose, nomeadamente desimpedindo o espaço de móveis, tapetes, fios soltos e ter o interruptor da luz próximo da entrada da divisão.
Quem está em risco
Os maiores factores de risco, segundo a APOROS e o ortopedista António Oliveira:
– Maiores de 65 anos, sobretudo mulheres.
– Historial familiar de osteoporose e fracturas frequentes: “não se sabe ainda se é mesmo tendência genética ou apenas uma questão de estilo de vida transmitido em familiar.”
– Pessoas de pequena estatura e magreza excessiva
– Estilo de vida desadequado: excesso de álcool, sal e cafeína; tabagismo; vida sedentária, dieta pobre em cálcio.
– Outras doenças: hipertiroidismo, artrite reumatóide, problemas intestinais que impedem a absorção do cálcio.
– A toma continuada de alguns fármacos, sobretudo cortisona: asmáticos e os doentes de artrite reumatóide estão particularmente em risco.