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Se os homens lideram as estatísticas no que toca ao ressonar (40% dos homens a partir dos 30, contra 30% das mulheres a partir da menopausa), invariavelmente as mulheres sofrem os chamados danos colaterais. Mesmo dormindo como uma pedra é quase impossível ignorar um ronco que ecoa entre 60 e 100 decibéis. Para se ter uma ideia, a fala humana anda à volta dos 30 decibéis…
A principal consequência é a diminuição da qualidade do sono com reflexos no desempenho durante o dia, mas para muitos casais esta pode ser uma verdadeira fonte de stresse emocional, podendo até levar a divórcios. Para a otorrinolaringologista Maria João Figueira, estes casos não são raros. “É extremamente comum os homens aparecerem na consulta por pressão das mulheres, que já não aguentam a situação. Nalguns casos, aparecem eles, desesperados, porque já estão a dormir noutro quarto e com ameaça das malas à porta.” Pode parecer exagero, mas quem já não dorme uma noite decente há anos à conta de um companheiro roncador que atire a primeira pedra…
E o parceiro também se pode ressentir de falta de sexo. “Nos casos de apneia obstrutiva do sono, 40% dos homens têm uma redução dos níveis de testosterona, devido à diminuição da oxigenação do sangue, o que pode ocasionar impotência”, revela a médica. Uma boa razão para procurar ajuda aos primeiros sintomas, sobretudo se a juntar às outras: cansaço, mau humor e aumento do risco de acidentes de viação.
Claro que nem sempre é o homem o ressonador de serviço, mas às mulheres parece custar admitir que emitem sons tão pouco glamourosos durante o seu sono de beleza. “Também são elas as mais resistentes em alterar hábitos de vida que poderiam melhorar os seus sintomas, especialmente no caso do excesso de peso”, adianta a médica.
Por que é que ressonamos?
A principal causa do ressonar é obstrutiva. Durante o sono, os tecidos moles da boca e da faringe relaxam, e isto diminui o espaço para a passagem do ar, fazendo com que este vibre ruidosamente. Nalguns casos é uma malformação anatómica que impede o ar de passar livremente. “A mais comum é o desvio do septo nasal, seguida do tamanho excessivamente grande da úvula, amígdalas ou do palato”, explica Maria João Figueira. Mesmo quando não há estes defeitos anatómicos, a obstrução das vias respiratórias pode acontecer devido ao excesso de peso (a causa mais comum do ressonar nas mulheres), consumo de álcool ou de certos medicamentos, como os indutores de sono e ansiolíticos.
Será que ressono?
O parceiro é o indicador mais fiável do nosso ressonar, mas para quem vive sozinho não serve. Neste caso, perceber se anda mais cansada e de mau humor pode ser um indicador de um sono entrecortado e pouco reparador. Verifique a lista de fatores que favorecem o ressonar e tente eliminá-los. Se, ainda assim, não resolver o problema, terá de consultar um especialista e descobrir o que a faz ressonar.
• Dormir de barriga para cima. Tente dormir de lado. Se não consegue, experimente coser uma bola de pinguepongue ou de ténis na parte de trás da gola da parte de cima do pijama. Geralmente resulta.
• Ter peso a mais. A gordura estreita o espaço disponível para o ar passar na garganta e dificulta a respiração.
• O álcool induz o relaxamento dos músculos e dificulta a respiração. Evite beber quatro horas antes de se deitar.
• Respirar pela boca. Geralmente ocorre quando temos o nariz entupido devido a constipação ou alergia, mas o tabaco e o refluxo gástrico também são fatores irritantes da garganta.
• Evite comprimidos para dormir. Geralmente agravam o problema.
• Experimente os clips ou adesivos antirressono (também usados pelos futebolistas), que facilitam a respiração. Aparelhos bocais, que avançam o queixo uns milímetros, também podem ajudar a libertar as vias respiratórias.
Investigação noturna
Se nada disto resultar, terá de investigar as causas com recurso a tecnologia mais avançada. Pode realizar um exame poligráfico do sono, que permite estudar o seu padrão de sono em pormenor e pode ser feito em casa ou no hospital, o que implica dormir com uma série de elétrodos colados ao corpo. Outros exames possíveis: a nasofaringolaringoscopia, uma endoscopia das vias respiratórias que permite verificar a existência de obstruções, e uma TAC, que permite fazer medições anatómicas precisas e verificar se há um tamanho anormal da úvula ou do palato, por exemplo. A maioria das anomalias estruturais podem ser facilmente resolvidas com um tratamento cirúrgico. A correção do septo nasal, que força a respiração pela boca, e a remoção das amígdalas ou diminuição da úvula são as mais comuns.