Somos o que comemos, diz o ditado, mas no caso das grávidas pode dizer-se que também o bebé será o que a mãe escolher comer. As opções alimentares e estilo de vida da mãe durante a gravidez influenciam naturalmente o desenvolvimento do feto, e quanto mais cedo eliminar do seu estilo de vida os itens menos saudáveis, melhores hipóteses terá de passar uma herança genética cinco estrelas ao seu rebento.
Nem tudo depende de nós, como a poluição ambiental, por exemplo, mas saber de onde vêm os perigos é o primeiro passo para operar a mudança.
Os químicos usados na agricultura e produção industrial são precisamente um destes casos, e cada vez mais uma fonte de preocupação no que toca à saúde humana e ambiental. Para ter uma ideia, só até 1981 tinham sido registadas na União Europeia mais de 100 mil substâncias químicas industriais, e desde então outras 3 mil foram acrescentadas à lista. É difícil averiguar os efeitos destes químicos e nem todos são sujeitos a testes prévios, apenas algumas categorias de produtos, como os medicamentos, os cosméticos e os aditivos alimentares são testados antes da comercialização. Muitos são os que ficam de fora e algumas substâncias podem nem aparecer nos rótulos.
O problema destes químicos, mesmo dos que são testados e autorizados, é que têm um efeito cumulativo, ou seja, as consequências de doses mínimas durante anos e anos podem manifestar-se muitas décadas ou gerações mais tarde. É o caso do pesticida agrícola DDT, proibido em 1974, do qual ainda se encontram vestígios no leite materno, a crer num estudo divulgado pela Greenpeace em 2005, para dar um exemplo. O timing da exposição é um fator determinante. A contaminação com substâncias tóxicas pode dar-se ainda no útero. O estudo conduzido pela Greenpeace mostrou ser possível detetar no cordão umbilical 287 substâncias químicas industriais de poluição. Nestas, 180 podem causar cancro, 217 são tóxicas e 208 são causa de defeitos congénitos. No estudo da Greenpeace, o líquido amniótico também acusou a presença destas substâncias, mostrando que podem passar a placenta, e nem sequer o leite materno escapa. O facto de os efeitos só serem visíveis anos ou gerações mais tarde dificulta o estabelecimento de uma relação entre os fenómenos, mas a verdade é que se começa a perceber que existem e estamos sujeitos a eles. Em muitos casos, esta poluição invisível é impossível de controlar. Sucede no caso do efeito dos plásticos e outros materiais sintéticos que usamos no quotidiano, da poluição atmosférica e dos mais diversos campos magnéticos a que estamos sujeitos diariamente. Mais vale, por isso, concentrarmo-nos no que podemos fazer e evitar.
O que comer?
• Alimentação proveniente de agricultura biológica. A produção de alimentos em modo biológico não usa pesticidas perigosos, pelo que está, à partida, livre de muitos dos químicos referidos. Apesar de serem mais caros, serão um bom investimento durante a gravidez e período de amamentação.
• Alimentos frescos. Os alimentos processados são conservados graças aos aditivos alimentares, que também convém excluir o mais possível da dieta. Isto inclui tudo o que não seja fresco: conservas, bolachas, bolos, comidas pré-cozinhadas, cereais de pequeno almoço, todos com conservantes, aditivos e aromas artificiais.
• Superalimentos, como algas e germinados. Comer bio não é sinónimo de só jantar alface e agrião ou aderir à religião do seitan. Investigue o fabuloso mundo dos germinados, por exemplo, com altas taxas de vitaminas e minerais. Há sementes germinadas de cereais integrais: trigo, aveia, centeio, cevada; de leguminosas, como soja, lentilha, grão-de-bico, ervilhas; crucíferas, como o agrião, rabanetes ou couves… As algas são outro superalimento, autêntico concentrado de oligoelementos e sais minerais. Contêm ácido algínico, poderoso combatente das substâncias tóxicas e poluentes a que estamos sujeitos diariamente, como metais pesados e gorduras saturadas, muita vitamina B12 (importante para evitar as carências de ferro das mulheres) e quase tanta vitamina E como o gérmen de trigo. Algumas podem facilmente ser adquiridas em supermercados e lojas de produtos naturais, para introduzir no cardápio diariamente: kombu, spirulina, nori, wakamé…
• Dê preferência às garrafas de vidro sobre as de plástico ou procure biberões de plástico que não tenham policarbonatos na composição (não podem ter a sigla PC sobre o rótulo nem o número 7 inserido em triângulos).
• Evite a utilização de inseticidas e pesticidas, tanto na casa como no jardim. Para limpar a casa, privilegie alternativas menos poluentes. O clássico 10 partes de água para uma de vinagre continua a ser um bom detergente multiusos para usar em todo o lado e também há várias marcas de detergentes de loiça e roupa biológicos.
• Escolha produtos de beleza, como sabonetes, champôs ou cosméticos à base de ingredientes naturais e de preferência sem perfume. A maior parte dos produtos de beleza que usamos diariamente contêm substâncias ditas disruptoras endócrinas, que são absorvidas pela pele e têm sido cada vez mais associadas a problemas de infertilidade. Os primeiros três meses de gravidez são os mais críticos, pelo que vale a pena redobrar cuidados durante esta fase, evitando tudo o que possa ser prejudicial. Lembre-se de que os cosméticos também devem indicar uma data de validade e a composição. Esteja atenta ao rótulo eco-label (uma flor).
• Os tecidos e tintas da roupa podem ter resíduos de pesticidas da agricultura e químicos dos processos de descoloração e tratamento de fibras, pelo que o ideal seria usar apenas peças de algodão orgânico ou outras fibras naturais de origem biológica. Procure a indicação nas etiquetas.
• Evite fazer obras em casa durante a gravidez, sobretudo no primeiro trimestre, e, se conseguir, evite também estar presente em locais onde estejam a fazer obras, durante toda a gravidez.
• Evite locais poluídos e cultive o contacto com a natureza. Pratique atividades ao ar livre e sobretudo aproveite ao máximo este tempo único. Fazer coisas que lhe deem prazer é uma forma de soprar o stresse para longe e garantir nove meses de uma gravidez bio e muito zen.
Relações Perigosas
Os primeiros indícios da relação entre os químicos e a infertilidade surgiram há quase 20 anos, com a investigação de Theo Colborn sobre os problemas da infertilidade na vida selvagem. No livro ‘Our Stolen Future’ falava do desequilíbrio hormonal causado pelos desperdícios sintéticos despejados na natureza por décadas. Mais tarde, a especialista em Epidemiologia Reprodutiva Shanna Swan conseguiu estabelecer a relação entre uma fábrica de Silicon Valley, que largava químicos na água, e o aumento de abortos na zona, apesar do nível de contaminação ser considerado seguro na altura.
Faça zoom ao rótulo
Desde 2005 que um regulamento europeu impõe a rotulagem obrigatória dos químicos mais perigosos.
Ftalatos: São usados como gelificantes, solventes e fixadores de certos cosméticos, nas cápsulas dos medicamentos e em brinquedos, como os bonecos e livros para levar para a banheira. Pensa-se que os fetos masculinos expostos a estes materiais podem ficar com malformações nos genitais e na qualidade do sémen.
Bisfenol-A: É usado na produção de plástico para biberões, CDs, parabrisas e massas dentárias. Também foi encontrado em frutas de lata, vegetais e comida para bebé. Alguns investigadores creem que ele passa dos plásticos para a água e sumos. A indústria alimentar clama que é inofensivo, sobretudo em doses tão mínimas. Mas em animais mostrou poder causar cancro da próstata e malformações genitais. Exposição fetal já foi associada a cancro da mama, irregularidades menstruais e ao aumento da propensão para o aborto espontâneo.
Alquilfenóis: Estão presentes nos produtos de limpeza, perfumes e ambientadores. Pensa-se que imitam o estrogénio e foram associados à infertilidade masculina.
Cuidado com os cosméticos
Evite pintar o cabelo, sobretudo no primeiro trimestre. A maioria das tintas tem amoníaco, iodo e chumbo. Pode, porém, fazer nuances, já que estas não atingem o couro cabeludo. Os cremes antimanchas com hidroquinona, os antirrugas com retinóides e os anticelulíticos à base de cafeína devem ser evitados. Outros ingredientes proibidos são: ácidos glicólico, salicílico e retinóico; antibióticos tópicos; metilparabeno, etilparabeno, ftalatos, óleos minerais como a parafina (derivados do petróleo) e benzenos. Alguns vernizes de unhas também são contraindicados a grávidas, se contiverem tolueno e formaldeído, não use.