Quantas vezes ouvimos as nossas amigas queixarem-se de que não conseguem engravidar (ou é mesmo esse o nosso caso)? Ou ouvimos histórias de quem recorreu a tratamentos de fertilidade para conseguir ter filhos? Estamos mais inférteis ou simplesmente o adiar da idade da maternidade implica cada vez mais o recurso a este tipo de tratamentos?
O certo é que se estima-se que a infertilidade afeta 8% das mulheres em idade reprodutora, em Portugal e 15% dos casais de países ocidentais.80% dos casos de infertilidade estão relacionados com problemas na mulher, no homem ou no casal, não existindo uma causa específica identificada nos restantes casos.
Porque este problema é transversal à sociedade e é urgente esclarecer duvidas e desfazer mitos sobre este tema, falámos com o Prof. Dr. Cândido Tomás – Diretor Clínico AVA Clinic, que nos explicou as causas mais comuns da infertilidade, e com a Dr.ª Ana Pereira, Psicóloga Clínica também da AVA Clinic, sobre o lado psicólogico desta questão, que afecta muitos casais e que tem de ser enfrentado a dois.
Prof. Dr. Cândido Tomás – Diretor Clínico AVA Clinic
1.Quais são as principais causas da infertilidade?
As causas de infertilidade na mulher são na maior parte das vezes devidas a problemas hormonais. Estas podem-se manifestar por irregularidades menstruais. Podem haver também outros problemas hormonais, como a presença de ovários poliquisticos, insuficiência ovárica, por vezes precoce, que por falta de ovócitos, causam uma dificuldade em engravidar. Outro grupo de causas de infertilidade tem que ver com a obstrução das trompas de Falópio ou devido a infeções intra-abdominais ou a aderências pós cirúrgicas. Uma doença também frequente é a presença de endometriose que por vários motivos influenciam a fertilidade. Existem também causas genéticas e outras desconhecidas.
Da parte do homem, as deficiências dos espermatozoides quer em quantidade quer em motilidade, são as principais causas. Os homens também podem apresentar alterações genéticas ou deficiências de fertilização, cujas causas são por vezes difíceis de explicar.
A infertilidade é sempre do casal!
2.No que diz respeito a dados estatísticos, a infertilidade afeta mais os homens ou as mulheres?
Um terço das causas tem origem principalmente na mulher, outro terço principalmente no homem e o ultimo terço tem causas desconhecidas ou múltiplas no homem e na mulher. Por esta razão, o estudo da infertilidade passa sempre pelo estudo de ambos os elementos do casal.
3.Sabemos que as mulheres engravidam cada vez mais tarde. Terá isso influência no aumento dos casos de infertilidade? Para evitar este problema de infertilidade até que idade a mulher deve engravidar?
A idade é por si a causa principal para conseguir uma gravidez. Assim, a quantidade de ovócitos vão diminuindo com a idade e a partir dos 37-38 anos existe uma perda mais acentuada, sendo por isso mais difícil engravidar. A partir dos 40 anos as dificuldades aumentam, quer seja por método natural, quer seja por tratamentos de infertilidade. Por exemplo, na AVA Clinic, a maioria das mulheres acima dos 43 anos de idade acaba por ter de efetuar um tratamento com recurso à doação de ovócitos, para conseguir uma gravidez saudável.
4.Terá o fator “idade” peso no sucesso dos tratamentos?
A idade especialmente da mulher, é o principal factor limitativo da gravidez. Por isso os casais deveriam tentar engravidar antes dos 35 anos de idade. Mas as contingências sociais e económicas agravam ainda mais este problema, porque os casais muitas vezes adiam o projeto parental. Após um ano de tentativa de engravidar, o casal deve dirigir-se a uma clinica de infertilidade, como a AVA Clinic, onde um conjunto de profissionais (biólogos, médicos, enfermeiros, psicólogos) poderão dar apoio para o estudo e a resolução da infertilidade. Se os casais efetuarem os tratamentos adequados, mais de 80% acabam por ter um filho saudável.
Dr.ª Ana Pereira, Psicóloga Clínica AVA Clinic
5.Como é que a maioria das mulheres lida com o facto de não conseguir ser mãe?
A infertilidade é considerado como uma crise de vida, e como todas as crises, produz uma alteração do equilíbrio emocional que causa desorganização, tristeza, inquietação, ansiedade, perda de esperança e por vezes sentimentos de culpa. Se o objetivo primordial de vida estiver centrado na maternidade, pode ser assustador a ideia de nunca se conseguir vir a ser mãe.
As mulheres podem ter o sentimento de estarem emocionalmente descontroladas sobretudo nos casos em que a frustração de não conseguir engravidar e o sentimento de falta de controlo sobre o seu corpo a faz reagir com raiva. Esta é tanto mais comum, quanto a mulher esteja habituada a ter sucesso profissional e pessoal. Muitas vezes é a primeira vez que se confrontam com uma situação sobre a qual não tem controlo e que o conseguir engravidar não depende em nada do seu esforço.
6.Como é que esse sentimento afecta a relação do casal?
O diagnóstico de infertilidade pode influenciar a autoestima, a vida profissional e social, o relacionamento do casal.
Tomar consciência que existe um problema de fertilidade no casal é, muitas vezes recebido com choque e dificuldade em aceitar o diagnóstico. Poderá haver algum isolamento social, pois o casal evita o contacto com outros casais com crianças, grávidas, aniversários, etc e poderá haver diminuição da frequência e qualidade do relacionamento sexual, decorrente de relações sexuais programadas ou uma valorização do objetivo reprodutivo da sexualidade em detrimento da sua função de proporcionar prazer e ligação entre o casal.
Sendo comum a diferença na reação de cada um à infertilidade, com os homens a evitar falar no problema e as mulheres a tenderem a ruminar sobre ele, isso pode criar alguns ressentimentos e dificuldade de comunicação.
7.No caso masculino, como é que o homem reage à notícia de ser infértil?
A reação dos homens à situação de infertilidade não está diretamente relacionado com a causa de infertilidade, mas com o grau de perturbação emocional da sua companheira.
Contudo, nos casos de infertilidade de causa masculina, o homem pode sentir a sua autoestima afetada e o sentimento de uma menor competência sexual.
8.Como é feito o apoio psicológico aos casais inférteis?
A intervenção psicológica direciona-se sobretudo na ajuda para lidar com diagnóstico de infertilidade e os seus efeitos na autoestima, relacionamento interpessoal e conjugal e aumento da qualidade de vida, que tende a piorar se o casal não conseguir criar estratégias para enfrentar o longo e por vezes, penoso percurso para conseguir ter filhos.
É importante que o casal consiga ajustar a sua atitude face ao diagnóstico e aos tratamentos: antecipar a possibilidade de insucesso, os tempos de espera, os inúmeros exames e tratamentos invasivos…
É decisivo ajudar o casal com estratégias que diminuam o evitamento social, ou seja, a tendência para fugir do contacto com amigos ou familiares e de situações que recordem a infertilidade (gravidezes, partos aniversários, festas).
9.Até que ponto o estado psicológico afeta os tratamentos e a taxa de sucesso dos mesmos?
Inúmeros estudos têm mostrado que o stress e ansiedade condicionam os resultados dos tratamentos de fertilidade, em que existe um controlo artificial do ciclo menstrual com a administração de hormonas para estimular os ovários.
Contudo, recentemente um importante estudo veio revelar que níveis muito elevados e constantes de stress fisiológico (aumento dos níveis de alfa-amilase encontrados na saliva) estão relacionados com um período de tempo mais alargado para conseguir a gravidez.
A maior parte das mulheres passa por eventos de vida bastante penosos ou situações familiares e profissionais complicadas, sem que o seu ciclo menstrual sofra alterações.
Não sendo demais clarificar que o stress e ansiedade não interferem no sucesso dos tratamentos, é consensual que a vivência da infertilidade causa muito stress.
O casal deve aprender estratégias de redução do stress, não para conseguir engravidar, mas para aumentar a qualidade de vida.
Mais informações em www.avaclinic.pt/