O conceito do seu livro parece contrariar a ideia de que não se pode emagrecer localizadamente…
De facto, e eu desmistifico isso logo no início do livro, não é possível perder peso só na coxa esquerda ou no braço direito. Mas há combinações alimentares que favorecem uma maior tendência à acumulação, quer de líquidos quer de gordura, em algumas zonas do corpo. Um exemplo: uma pessoa com tendência para retenção de líquidos tem mais volume na coxa e na anca. Se retificarmos essa tendência, ela vai perder peso e reduzir o volume globalmente mas a redução será mais acentuada naquelas zonas. Outro exemplo: quando consumimos alimentos ricos em açúcar, isso vai estimular as nossas glândulas que gerem a produção de insulina, para baixar rapidamente esse nível de açúcar. Esse açúcar é rapidamente transformado em gordura e a zona de acumulação dessa gordura, por norma, é o flanco. Por isso é que vemos muitas adolescentes com um pneuzinho a sair das calças, que é a zona onde se acumula a gordura gerada por via da ingestão de açúcares. Já a gordura abdominal está relacionada com excessos alimentares que sobrecarregam o trabalho do fígado e que causam digestões complicadas. Se corrigirmos as combinações dos alimentos ingeridos aliviamos o trabalho do fígado, não há tanta fermentação e inchaço no estômago e consequentemente haverá uma perda maior na zona abdominal.
Outra coisa que diz no livro é que a perda de peso não é só uma questão de contagem de calorias…
Sim, ainda há muito a crença de que as calorias são o mais importante, e de facto elas são a base do nosso trabalho como nutricionistas, mas há que desmistificar essa ideia. Pense numa maçã, que tem cerca de 55 calorias por 100g. Se ela for cozida, isso não altera o seu teor calórico mas a velocidade de absorção das calorias pelo organismo será completamente diferente. Outro exemplo: uma fatia de pão, torrado ou não. À partida poderíamos pensar: o pão é o mesmo, as calorias são as mesmas. E isso é verdade, mas se o pão for torrado perde água, fica mais concentrado em fibras e a absorção das suas calorias é menor. Por isso a química faz mais diferença do que as calorias.
Pode dar-nos algumas dicas práticas?
Cada pessoa é um caso, mas há algumas coisas que são válidas para toda a gente. Comer devagar, por exemplo. Está documentado que quando se segue esse preceito a perda e a manutenção do peso é muito mais eficiente. Também é importante mastigar muito bem, especialmente os alimentos doces porque a digestão do açúcar começa na boca. Se não os mastigarmos bem essa fase inicial de digestão e degradação dos açúcares perde-se, o alimento vai ficar mais tempo no estômago e os açúcares não só vão criar algum efeito de fermentação como serão mais absorvidos e armazenados. Por isso é preferível comer a fruta do que ingeri-la sob a forma se sumo. E se bebermos o sumo com uma palhinha, pior! Também convém evitar as chamadas bebidas zero: os adoçantes que elas contêm não são absorvidos, mas todo o sistema de secreções enzimáticas e hormonais foi na mesma ativado e por isso tudo o que comermos a seguir vai ser muito mais absorvido e armazenado.
É possível perder peso só com exercício?
Não. A equação para perder peso tem diversas variáveis: a alimentação, que é a base do processo, o exercício, a atitude da pessoa, o ambiente social em que ela está enquadrada e o seu dia a dia. Tudo isso compõe a equação que nós ajudamos a resolver como nutricio-
nistas para que a pessoa possa chegar ao seu objetivo.