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E se as bactérias e outra microbicharada do nosso organismo forem o caminho para a beleza, saúde e juventude da pele? 

Depois de anos a lutar contra os micróbios como inimigos causadores de doenças, a ciência está a descobrir que eles podem ser os melhores aliados da nossa saúde. A verdade é que o nosso corpo tem 100 vezes mais microrganismos do que células humanas: entre bactérias, fungos, vírus e outros, são uns bons triliões de seres microscópicos a viver sobre e dentro do nosso corpo. Ao seu conjunto chama-se microbiota (também vulgarmente chamado microbioma, embora este termo designe, na verdade, o património genético da microbiota).

Como todas as sociedades, também esta tem os bons e os maus da fita, e outros que em geral são pacíficos, mas às vezes, por força das circunstâncias, podem tornar-se nocivos. O segredo está em manter o equilíbrio entre as diferentes estirpes e populações: manter os bons felizes e em quantidade suficiente para que os mais não consigam ocupar demasiado território nem fazer das suas, e evitar que os neutros ‘se passem’ para o lado obscuro.
Isto é válido para a nossa saúde como um todo, não só a física como a mental, mas também para a saúde, conforto, beleza e juventude da nossa pele, como defende a dermatologista e investigadora americana Whitney Bowe (criadora da rotina skin cycling), no livro ‘Cuidar da pele de dentro para fora – O poder da flora intestinal na saúde da sua pele’ (Vogais).

A relação intestino-cérebro-pele

Para a Dra. Bowe, o caminho para uma pele radiosa começa com hábitos de vida que apoiam a relação entre o intestino (e os micróbios bons que aí habitam), o cérebro e a pele. “O mini-ecossistema que abarca o bioma humano inclui uma coleção diversa de microrganismos, na sua maioria bactérias, fungos e vírus. As bactérias que proliferam no nosso intestino são especialmente importantes – a sua função na saúde e fisiologia é tão essencial que podem afetar uma vasta gama de processos biológicos”, explica a dermatologista. “Elas têm um papel a desempenhar em tudo, desde a eficiência e velocidade do nosso metabolismo até ao risco de desenvolvermos diabetes e obesidade. Isto para não falar do seu potencial papel em relação ao nosso humor e às probabilidades de sofrermos de depressão, doenças autoimunes e demência.”
Esta ligação entres o microbioma e a saúde é um dos grandes temas atuais e é provável que já tenha ouvido falar dela. Mas há outra ligação, igualmente importante e ainda pouco divulgada: a que existe entre o cérebro e a pele. “O que se passa no seu intestino neste preciso momento está a determinar não só o desempenho e a resposta do seu cérebro aos sinais do corpo sobre o seu estado atual e as suas necessidades, mas também o que a sua pele ‘pensa’ e qual o seu desempenho”, diz a médica. “Sim a pele pode ‘pensar’ e ‘falar’ com o cérebro: é uma via de dois sentidos.”

É um pouco estranho quando pensamos nisso, mas existem na pele mais de um bilião de bactérias, criaturas vivas de cerca de mil espécies diferentes. Todas elas interferem na saúde e comportamento deste órgão que é o maior do corpo humano, desempenhando muitas vezes funções vitais, que a pele sozinha não conseguiria realizar e assegurar (nomeadamente de proteção contra agressões por agentes patogénicos vindos do exterior, por exemplo). O desequilíbrio deste ecossistema pode influenciar a aparência e luminosidade da tez e, na pior das hipóteses, dar origem a uma variedade de doenças de pele.

A nossa pele é aquilo que comemos

O que é verdade para todo o organismo é também verdade para o grande órgão que o envolve. Todas já tivemos a experiência de acordar com a pele meio inchada e avermelhada, depois de temos exagerado no jantar da véspera… Mas a influência da alimentação na pele é muito mais profunda. Por isso o programa de cuidado da pele preconizado por Whitney Bowe no seu livro envolve alguns ajustes alimentares.
“O regime alimentar determina, antes de mais, a qualidade e o aspeto da pele. Os alimentos fornecem informação a todas as células que fazem de si… aquilo que é”, diz a dermatologista. “Tudo o que come passa a fazer parte não só da sua composição interna celular, mas também do tecido exterior do seu corpo. De facto, não há modo mais direto de alterar a saúde da ecologia interior e exterior do seu organismo – o seu microbioma – do que introduzir alterações específicas nas suas escolhas dietéticas.”

A flora intestinal (conjunto de bactérias que vivem naturalmente no nosso intestino), desempenha várias funções, a começar pelo auxílio na digestão dos alimentos que ingerimos e absorção dos respetivos nutrientes. Mas não só: libertam enzimas e outras substâncias que o corpo não consegue produzir sozinho, como vitaminas do complexo B, ou neurotransmissores como a dopamina e a serotonina (para ter uma ideias: calcula-se que cerca de 90% da serotonina existente no corpo seja produzida não pelo cérebro, mas no intestino, com a colaboração da flora intestinal).
Os micróbios do intestino desempenham também um papel importante a nível do sistema hormonal e do metabolismo (podendo afetar a pele através de efeitos metabólicos em cascata). E, acima de tudo, os microrganismos intestinais ajudam a regular e a apoiar o nosso sistema imunitário, numa série de ações que afetam diretamente a saúde da pele. “Não só os micróbios intestinais formam uma barreira contra potenciais invasores (vírus, parasitas e bactérias nocivas) mas agem também como um gigantesco desintoxicante, ajudam o sistema imunitários a distinguir corretamente entre amigos e inimigos, e a evitar reações alérgicas perigosas ou respostas autoimunes.”

A dermatologista explica no seu livro que as bactérias do intestino podem, caso haja um desequilíbrio, desencadear problemas dermatológicos como acne, psoríase e eczema, e acelerar o envelhecimento da pele. “E o denominador comum aqui, é a inflamação. Quando é constante, a inflamação é um processo subjacente a todas as doenças crónicas e problemas de pele.” A saúde ecológica do intestino influencia tudo no nosso corpo, desde o metabolismo à saúde da pele, e quando equilibramos o intestino isso vê-se na pele.

Como equilibrar o ecossistema intestinal

Anos de luta antibiótica intensiva, quando se achava que o caminho para a saúde passava simplesmente por matar as bactérias más, deram origem não só às superbactérias que resistem a todos os tratamentos, como a um desequilíbrio do nosso microbioma: porque os antibióticos atacam tanto as bactérias más… como as boas. Atualmente começa a surgir outro tipo de abordagem, tanto nos tratamentos orais como tópicos, como explica a dermatologista. “Em vez de acabarmos com os maus da fita, começámos a aprender a cuidar dos bons e a aproveitá-los! Temos de aproveitar o exército microbiano que vive em nós e na nossa pele, e nos defende todos os dias. Fortalecer o hospedeiro, não matar o inimigo!”

Esta estratégia está a ser aplicada por muitos dermatologistas nos casos de acne e rosácea, mas o mesmo princípio é aplicável à pele saudável que quer simplesmente ficar mais bonita, jovem e luminosa.
“Quando fortalecemos os nossos guerreiros microbianos, damos-lhes poder para nos ajudarem a combater os inimigos que provocam distúrbios na pele”, explica a Dra. Bowe. Para ela, o cuidado e proteção da pele passa não só pelos cuidados tópicos adequados (de que fala detalhadamente no livro e que passam por evitar limpezas demasiado agressivas que destroem o microbioma da pele), mas também por um reset intestinal, eliminando alimentos que debilitam a flora do intestino e introduzindo na alimentação pró e prebióticos que a fortalecem. Os primeiros são culturas vivas e ativas, que ajudam a colonizar o intestino no melhor sentido da palavra, enquanto os segundos são ingredientes que funcionam como fertilizantes que promovem o crescimento dos microrganismos benéficos.

“Dito de um modo mais simples, os probióticos contêm os tipos bons e os prebióticos contêm o que os tipos bons gostam de comer para garantirem a sua própria sobrevivência e proliferação. Tanto uns como outros podem ajudar a alimentar não só as bactérias boas nos nossos intestinos, mas também aquelas que vivem na pele e contribuem para a sua saúde e funcionalidade”, explica a médica.

Um plano para mudar de pele em 3 semanas

Uma das vantagens do programa delineado por Whitney Bowe no seu livro é a sua facilidade, que não obriga a mudar a vida de pernas para o ar de um dia para o outro. Cada semana foca-se num objetivo e como pensamos ‘é só por uma semana’, não temos a tentação de desistir antes de começar. Ao fim de poucos dias, à medida que vamos vendo os resultados, apetece continuar, para os manter e intensificar. E os bons hábitos vão-se enraizando sem esforço…
Aqui fica um resumo do programa de reset que pode encontrar no livro da Dra. Bowe.

Semana 1

“Concentre-se nos seus intestinos”, fazendo alterações dietéticas destinadas a reforçar o microbioma e a lutar contra a inflamação.
Para começar (e não haver tentações) retire da despensa todos os hidratos de carbono, açúcares e alimentos embalados, que sejam processados e refinados: adoçantes artificiais e tudo o que os contenha, incluindo bebidas light e pastas de dentes; leite e gelados; gorduras processadas e óleos vegetais de sementes (milho, girassol, amendoim, soja).
Coma frutos e legumes inteiros; proteína animal e vegetal (leguminosas); ovos; gorduras saúdáveis (azeite, óleo de coco, óleo de abacate, frutos secos e respetivas manteigas; cereais com baixo índice glicémico, como os integrais; alimentos ricos em probióticos (iogurtes naturais, kefir, kimchi, couves fermentadas); alimentos ricos em prebióticos (chicória, alho, espargos, cebola, folhas de dente-de-leão, alho francês); beba ‘leites’ não lácteos, chá, vinho tinto, kombucha; se necessário para adoçar use adoçantes verdadeiros (xarope de ácer, mel, stevia) sem abusar; aposte nas ervas aromáticas, especiarias e condimentos. No livro encontra um plano alimentar tipo, e várias receitas.

Semana 2

“Concentre-se no seu cérebro”, para reforçar a ligação intestino-cérebro-pele.
A dermatologista recomenda que acrescente às mudanças alimentares estratégias de redução de stresse (ioga, respiração profunda, meditação); exercício físico, variando os níveis de intensidade e alternando treino cardio, musculação e alongamentos; e ainda estratégias para um sono mais reparador.

Semana 3

“Concentre-se na sua pele.”
Esta é a altura de começar a trabalhar também de fora para dentro, evitando tudo o que possa alterar o microbioma da pele. Retire da casa de banho os produtos demasiado abrasivos (luvas, esponjas, esfoliantes, loções com álcool). Pare de usar sabonetes antibacterianos e limite o uso e desinfetante das mãos às ocasiões em que não é mesmo possível lavá-las; privilegie os produtos ricos em antioxidantes; e use protetor solar diariamente.

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