Sabemos que, muitas vezes, a gravidez parece vir com um voucher de ‘opiniões não pedidas’. Todos têm algo a dizer, uma história para contar, um conselho para oferecer. Uma avalanche de informações que, ainda que venha de um lugar de amor e preocupação, muitas vezes resulta apenas em mais uma camada de ansiedade. Nesta altura já tão sensível – culpe as hormonas! –, percebemos que a última coisa que queira ouvir seja mais uma lista detalhada de tudo o que não pode fazer, usar, sentir, pensar.
Também a Beleza é terreno pantanoso no que à gravidez diz respeito. Porque toda a gente sabe que as meninas roubam a beleza às mamãs e os meninos trazem um rosto iluminado… Só que não. As hormonas é que ditam a viagem e, tantas vezes, na montanha russa de emoções – em que nos obrigam a andar – o espelho deixa de ser um amigo. A relação com a pele tem, já de si, potencial para criar um conflito interno valente. No caso de estar grávida, o cenário tende a piorar. Mas nem por isso temos de nos deixar vencer.
Para que não tenha de se preocupar, simplificámos todas as questões e trazemos-lhe um guia prático com tudo o que precisa de saber.
DURANTE A GRAVIDEZ
Neste período tão particular e especial, onde cada decisão parece carregar um peso extra, pode respirar fundo e tranquilizar-se com uma verdade reconfortante: “Não há ingredientes cosméticos que sejam inequivocamente proibidos durante a gravidez.” Quem o diz é Marta Ferreira, farmacêutica e doutoranda em Ciências Farmacêuticas e especializada em Cosmetologia. O que acontece é que – e visto que não são efetuados testes em mulheres grávidas –, havendo a mínima dúvida, “há ingredientes frequentemente contraindicados por profissionais de saúde e até pelas marcas devido aos riscos que poderiam comportar para o bebé em casos extremos”.
Tenha atenção ao “retinol, retinal/retinaldeído e outros retinóides, devido à sua semelhança com a isotretínoina”. Iso-quê? É um medicamento, comummente utilizado para tratar casos severos de acne e que pode interferir com o desenvolvimento do feto. “Contudo, se estiver a usar algum produto com estes ingredientes não é caso para entrar em pânico”, tranquiliza Marta Ferreira, “os estudos de que dispomos não demonstram que estes ingredientes sejam problemáticos durante a gravidez”. Também os peelings de ácido salicílico (em gabinete médico/estético) estão contraindicados pelo mesmo motivo, “mas não existem recomendações claras para os cosméticos com este ingrediente”, uma vez que têm concentrações muito limitadas deste tipo de ativos.
Nos rótulos, deve estar também atenta aos óleos essenciais, que “poderão ser problemáticos”, refere a especialista. Então e os parabenos, os filtros solares orgânicos (também conhecidos por protetores solares químicos), a ureia e todo o sem-fim de nomes – uns mais complexos que outros – que a tia da prima da amiga ouviu dizer que não se podia aplicar? “Não existe evidência para tal.”
Qualquer dúvida, confirme sempre com o obstetra ou junto de uma farmácia de confiança. Nesta fase, tantas vezes desconhecida, é perfeitamente normal que se sinta assoberbada, preocupada e assustada. Mas nada justifica pôr em causa a sua paz de espírito. Às vezes, temos só de descomplicar. Vamos a isso?
ROTINA IDEAL
A rotina ideal depende muito da pele e das suas necessidades. Deve, porém, garantir que utiliza “no mínimo, um produto de limpeza, protetor solar e hidratante”. Até aqui, nada de novo. Esta já seria a rotina base para qualquer pessoa que tenha pele – todas, portanto. Pode, eventualmente, ter de substituir algum dos seus habituais. A pele, como o seu humor, é em muito impactada pelas alterações hormonais. Vai ficar mais sensível, mais reativa. Nesse caso, experimente “trocar os cosméticos que usa por texturas mais leves (emulsão, fluido, creme-gel) ou produtos recomendados para pele sensível”.
Se, em dias de preguiça, deixa o protetor solar de parte porque, afinal, não está assim tanto sol, vai prometer a si mesma que o usará, religiosamente. Se só puder ter uma preocupação, é esta que terá. Nesta fase – culpe as hormonas! – há uma maior predisposição ao aparecimento de manchas. A exposição à radiação UV (até mesmo só ao calor) não ajuda a este risco iminente. “Além da proteção solar generosa e reaplicada, é importante evitar a exposição solar direta, usar chapéu, e, de preferência, consultar um dermatologista indicando que está grávida.”
O aparecimento de manchas é realmente muito comum na gravidez. Quem nunca ouviu falar do temível ‘pano’? Estima-se que até 90% das mulheres poderão apresentar cloasma – nome técnico – durante essa fase. Caracteriza-se pelo aparecimento de manchas acastanhadas, sobretudo na testa, por cima do lábio superior, nas bochechas e no queixo. “Nesta luta, vale munir-se de cosméticos antimanchas: os ingredientes estrela são a niacinamida, ácido glicólico ou ácido lático e vitamina C.”
Também consequência da dança das hormonas, não é assim tão raro ter acne na gravidez. E ainda que a maior parte dos cuidados especializados para a acne estejam contraindicados ou sejam desaconselhados na gravidez – respire fundo, está tudo bem –, conseguimos soluções! “O ácido azelaico a 10-15% é uma excelente opção nesta fase”, e os tratamentos localizados são, na grande maioria das vezes, de utilização segura.
E NO CORPO?
“A hidratação é essencial para manter a elasticidade da pele durante esta fase.” Leia de novo. É a única coisa que precisa de saber. E vale usar o hidratante com que se dê melhor, o importante é que o use frequente e abundantemente, sem medos! Não só evita o aparecimento de estrias como também proporciona uma sensação de conforto, ajudando a reduzir exponencialmente a comichão na barriga, nas fases em que ela cresce mais – se ainda não chegou a essa fase, não deve demorar.
Produtos antiestrias são uma ótima opção, uma vez que, “além de hidratarem a pele, contêm geralmente extrato de centelha asiática, óleo de amêndoas doces, vitamina E e precursores de colagénio, que se pensa poderem ajudar a prevenir estas lesões”.
Sobre a chamada linha nigra (a risca negra que tende a aparecer na linha do umbigo, “poderá ser levemente atenuada evitando a exposição solar e com despigmentantes”, com os mesmos ativos que os produtos de rosto.
SIMPLIFIQUE
Cuidar da pele durante a gravidez não deve ser uma fonte de stresse. Pelo contrário! Filtre a informação que escolhe receber, proteja-se da que – mesmo assim – lhe chega, e desfrute destes nove meses que passam a correr e dos quais ainda vai ter saudades.
Com a orientação certa e uma abordagem cuidadosa, pode manter a sua pele saudável e radiante, enquanto desfruta desta jornada única e especial rumo à maternidade.