Após a morte de Amy Winehouse, multiplicam-se os testemunhos de celebridades que quiseram prestar a sua homenagem a Amy. O ator e comediante Russell Brand foi um deles, escrevendo um texto no seu site, falando sobre a sua amiga Amy e os seus problemas de adição.
“Conheço a Amy há anos. Quando a conheci em Camden ela era apenas uma miúda num casaco de cetim cor-de-rosa, andando nos bares com amigos mútuos (…) Carl Barrat disse-me que ‘Winehouse’ era uma cantora de jazz, o que me pareceu bizarramente anómalo naquela multidão. Para mim, com os meus limitados conhecimentos musicais, esta informação colocava Amy para além de uma barreira invisível de importância: “Cantora de jazz? Ela deve ser mas é excêntrica”, pensei. Falei com ela de qualquer forma, afinal, ela era uma rapariga, e era doce e peculiar, mas, mais do que isso, vulnerável!
Na época, tinha saído da reabilitação e estava sedento de mulheres menos complicadas, tanto que quase não refleti sobre o fato, agora gritantemente óbvio, de que Winehouse e eu compartilhámos uma aflição, a doença da adição. Todos os viciados, independentemente da substância ou do seu estatuto social, partilham um sintoma consistente e óbvio: não estão realmente presentes quando se fala com eles. Eles comunicam através de um véu quase impercetível, mas não ignorável (…) Há uma aura tóxica que impede a conexão. Eles têm sobre eles o ar de outros lugares, olham para nós através de um outro lugar onde gostariam de estar. E é claro que estão. A prioridade de qualquer viciado é anestesiar a dor de viver para facilitar a passagem do dia, com algum alívio comprado. (…)
Depois, ela tornou-se famosa e tive o prazer de vê-la reconhecida, mas fiquei principalmente perplexo, porque não conhecia o seu trabalho e, não estando nos anos cinquenta, perguntava-me como uma “cantora de jazz” tinha alcançado tanto destaque. Não estava curioso o suficiente para fazer algo tão extremo como ouvir a sua música ou ir a um de seus concertos; também me estava a tornar famoso na época, o que foi uma experiência totalmente vivida. Foi apenas por acaso que fui a um concerto de Paul Weller no Roundhouse, onde a vi ao vivo.
Cheguei tarde e, enquanto fiz o meu caminho para o público através dos sorrisos de plástico e dos copos de plástico ouvi a ressonância, maravilhosa, de uma voz feminina. Entrei e vi Amy no palco com Weller e sua banda, e, então, o temor. O temor que nos envolve ao testemunhar um génio De sua presença estranhamente delicada libertava-se aquela voz, uma voz que parecia não vir não dela, mas de algum lugar além mesmo de Billie e de Ella, a partir da fonte de toda a grandeza. Uma voz que estava cheio de poder e de dor, que era ao mesmo tempo inteiramente humana ainda que ligada ao divino. Os meus ouvidos, a minha boca, o meu coração e a minha mente estavam abertos todos instantaneamente. (…)
Amy Winehouse agora está morta, como muitos outros cujas desnecessárias mortes foram retrospetivamente romantizadas, aos 27 anos de idade. Se essa tragédia era evitável ou não é agora irrelevante. Não é evitável hoje. Perdemos uma mulher bonita e talentosa para esta doença. Nem todos os viciados têm o talento incrível de Amy. Ou Kurt ou Jimi ou Janis (…) Tudo o que podemos fazer é mudar a maneira como vemos a dependência, não como um crime ou uma afetação romântica, mas como uma doença que vai matar. Precisamos de rever a forma como a sociedade trata os viciados, não como criminosos, mas como pessoas doentes que precisam de cuidados. Precisamos de olhar para a nossa política de reabilitação. (…) Nem todos nós conhecemos alguém com o talento incrível que Amy tinha mas todos nós conhecemos alcóolicos e drogados e todos eles precisam de ajuda e a ajuda está lá fora. Tudo que temos que fazer é pegar o telefone e fazer a chamada. Ou não. De qualquer maneira, haverá uma chamada telefónica.”