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Não há quem não saiba cantarolar um dos seus maiores êxitos ‘Tous Les Garçons et Les Filles’, mas Françoise Hardy era maior do que o hit que lançou com apenas 18 anos e que vendeu, na altura, mais de 2 milhões de cópias no mundo inteiro.
E quem o afirmou foi a conceituada revista Rolling Stones que, em 2023, integrou a cantora e compositora entre as 200 mais importantes de sempre. Sendo que desta enorme lista, Françoise Hardy era a única francesa, o que diz muito da sua importância e do legado que nos deixa.
François Hardy morreu ontem, 11 de junho, aos 80 anos, depois de uma longa luta contra um linfoma, ao qual se juntou, na última década, um cancro na faringe. A notícia foi avançada pelo seu filho Thomas Dutronc, fruto da relação com o também cantor Jacques Dutronc: “A mamã partiu”, escreveu na sua conta de Instagram, deixando assim a França de luto.
Sobretudo a França que recorda aquela que foi um ícone da pop melancólica e símbolo do Yé Yé, estilo musical que nasceu em França nos anos 60 e se estendeu a Itália, Espanha e Portugal de forma intensa. Aquela que era a personificação de elegância e sofisticação da mulher francesa. Aquela que imortalizou temas como ‘Le Temps De L’Amour’, ‘Tant de Belles Choses…’, ‘Comment te Dire Adieu’, entre muitos outros que marcaram gerações.

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Os últimos anos viveu-os com enorme sofrimento, facto que a levou a escrever uma carta aberta ao presidente francês Emmanuel Macron pedindo-lhe que legalizasse a eutanásia. Um fim doloroso para uma vida que teve também demasiadas sombras. Do suicídio da irmã mais nova ao abandono do pai. Françoise Hardy era fruto de uma relação adúltera do pai, que demorou muitos anos a reconhecê-la, e cuja ausência a marcou profundamente como confessou ,em 2016, numa entrevista ao programa de televisão francês ‘Le Divan’ da France 2:
“Sentia-me envergonhada pelo meu estatuto de filha bastarda. Na altura, estava convencida de que os meus pais eram divorciados. Isso era muito mal visto. Mas quando não eram casados, era ainda pior! Não conhecíamos muito bem o nosso pai. Havia alturas em que ele vinha cá a casa e eu ficava muito, muito assustada, porque ouvia bater à porta, depois gritar e depois arrombar a porta. Assustava-me imenso. A minha mãe recusava-se sempre a deixar o meu pai entrar à noite”, recordou “Não sabia que ele era casado noutro sítio. O que eu sabia era o que a minha mãe nos dizia: se lhe mandássemos um postal durante as férias, tinha de ser num envelope e não podia ter nome nem morada. Havia algo escondido, algo clandestino”.
Para sempre e nunca de forma clandestina viverá a sua voz.