A relação de Oprah Winfrey com Stedman Graham já dura há mais de 30 anos e, apesar de a sua família incluir três cães adoráveis, o casal escolheu não ter filhos. “Escolheu” é a palavra-chave, porque a apresentadora diz que a decisão é fruto de muita reflexão.
Quando o casal anunciou o seu noivado em 1992 – o casamento nunca chegou a acontecer, também por opção -, Winfrey considerou a maternidade. “A determinada altura, em Chicago, comprei mais um apartamento, porque pensei ‘Bom, se nos casarmos, vou precisar de espaço para crianças'”, contou à revista “People” em outubro de 2019.
Embora esse pensamento nunca se tenha concretizado, a estrela viu “a profundidade da responsabilidade e do sacrifício que é realmente necessária para ser mãe” durante os seus 25 anos como anfitriã do “The Oprah Winfrey Show”.
“Apercebi-me: ‘Uau, estou a falar com muitas pessoas perturbadas, e elas são perturbadas porque tiveram mães e pais que não tinham consciência de quão sério esse trabalho é'”, explicou. “Eu não tinha a capacidade de compartimentalizar da mesma forma que vejo outras mulheres a fazerem-no. É por isso que, ao longo dos anos, sempre tive a maior consideração pelas mulheres que escolheram ficar em casa com os filhos. Ninguém lhes dá o crédito que elas merecem”.
Infância roubada
Oprah ultrapassou várias adversidades, que começaram logo na infância. Quando tinha nove anos, foi violada por um primo e passou por esse trauma novamente, às mãos de outros dois membros da família. Aos 13 anos, após vários anos de abusos sexuais, decidiu fugir de casa e aos 14 descobriu que estava grávida.
“A cada mês que passava, eu estava a ficar maior e percebi que algo estava a acontecer-me”, contou ao Now to Love. “Perguntei a algumas colegas. Literalmente, tive de procurar ‘quanto tempo dura a gravidez?’ Ok, nove meses, e depois acho que tenho de cometer suicídio'”, recordou sobre a gestação que tentou esconder, porque sentia “dor e vergonha”.
A então adolescente entrou em trabalho de parto e teve um menino prematuro, que morreu pouco tempo depois. “Na altura, não me ocorreu dar-lhe um nome”, explicou à plataforma. Passados muitos anos, decidiu batizar o filho. “Escolhi Canaan porque significa ‘nova terra, nova vida'”, partilhou com o público durante uma digressão na Austrália em 2015.
Apesar do à-vontade com que fala deste capítulo triste, tecnicamente, Winfrey foi coagida a falar publicamente sobre ele. Isto porque a sua meia-irmã vendeu a história ao “National Enquire” em 1990 por 17 mil dólares.
“Mama O”
Já na vida adulta, Winfrey acabou por experienciar a maternidade… mas de outra forma. Os vários anos no papel de mentora das alunas de uma escola que fundou no continente africano têm sido tão grafiticantes que, segundo a própria, “aquelas meninas preenchem o lado maternal que, talvez, viesse a ter”.
“Acredito que parte do motivo pelo qual não tenho arrependimentos é porque pude sentir-me realizada da forma que foi melhor para mim: a Oprah Winfrey Leadership Academy for Girls, na África do Sul”.
Foi numa viagem àquele país em 2000, mais especificamente durante uma conversa com Nelson Mandela, que surgiu a inspiração para este sonho. A instituição de ensino abriu portas sete anos depois, com o objetivo de proporcionar o acesso à educação de alto nível a meninas marginalizadas, apesar das suas circunstâncias. O colégio interno (exclusivo para discentes do sexo feminino) é frequentado por centenas de alunas, do 8º ao 12º ano.
“A minha esperança é que eu possa dar-lhes uma oportunidade de verem o seu melhor refletido através de uma mente aberta, de um coração aberto, para o que for possível”, disse a empresária à publicação “Variety” em 2017.
Sabe-se que Winfrey é muito mais do que uma fundadora e mentora. As estudantes chamam-lhe “Mama O” (“Mamã O, em tradução livre) e faz questão de continuar a acompanhar os seus respetivos percursos depois de deixarem a academia.
Um exemplo recente disso aconteceu em 2019, após o noivado de uma ex-aluna. De acordo com o “Daily Mail”, a apresentadora levou três das “suas meninas” até Beverly Hills para um dia de compras numa loja de luxo, tendo oferecido um vestido avaliado em 10 mil dólares à noiva.
“Conheço estas miúdas desde que tinham 12 e 13 anos, e frequentavam a minha escola. Licenciaram-se. Fizeram pós-graduações. Agora, o nosso primeiro casamento. Estamos à procura do vestido perfeito”, diz a legenda de uma publicação sobre esse dia.
Uma vida preenchida
Aos 66 anos, Oprah Winfrey não é casada, não tem filhos e, acima de tudo, não tem arrependimentos. A estrela transformou uma infância dura, marcada pela pobreza extrema e por abusos sexuais, num império multimilionário e dedicou parte da sua vida a proporcionar oportunidades a outras meninas que, tal como ela, têm potencial para mudar o mundo, independentemente das origens humildes.
“Tenho 172 meninas, e 20 estão na universidade nos Estados Unidos e usam a minha casa como a sua morada base. É mais gratificante do que alguma vez poderia ter imaginado. Eu estava a fazê-lo para ajudá-las, mas trouxe uma luz inexplicável à minha vida, “disse ao “Good Housekeeping UK” em 2017. “O amor não conhece barreiras. Não importa se uma criança veio do nosso ventre ou se a encontrámos aos 2, 10 ou 20 anos. Se o amor for real, o carinho for puro e vier de um lugar bom, funciona”.