A minha filha tween chega do parque muito indignada porque dois adolescentes estavam aos beijos num dos brinquedos:
– Ali mesmo ao pé das crianças, mãe! Não me parece ser o lugar mais indicado.
Não resisto à provocação:
– Ai de ti se te apanho a fazer o mesmo!
Vergonha: ela ri-se timidamente. Eu nem tanto. Nojo: essa seria a emoção que a minha frase despertaria nela até aqui há uma semana. Medo: foi o que me suscitou esta sua atualização emocional. Tristeza: o meu bebé foi-se, é oficial.
Não há qualquer dúvida, somos mesmo seres contraditórios e não há nada como a maternidade para expor todos os nossos paradoxos. Ao início queremos que eles sejam independentes, que segurem logo a cabeça, que se sentem, que rebolem, que gatinhem, que andem e falem sem demora. Mentimos, se for preciso: ‘aos 10 meses já dizia otorrinolaringologista’, ‘aos três anos já era vegan, sempre bolçou o borrego’.
Ter um filho precoce é motivo de orgulho para todas as mães: ainda não nasceu e já está em fila de espera para as aulas de yoga – saudar o sol é a atual definição de alguém que nasceu com o rabo virado para a lua. Tantas são as atividades em que os fetos estão inscritos que dormir como um bebé perdeu significado. Aposto que as crianças desta nova geração dormem, desde os três meses, a ouvir podcasts sobre sustentabilidade e as vantagens do regresso às fraldas de pano.
Há uma certa impaciência em deixar as coisas simplesmente acontecer com as crianças. Há tanta coisa que fiz com os meus filhos que teria sido certamente melhor se tivesse esperado pela altura certa. E falo de coisas simples como cozinharmos juntos um maigret de pato quando o Donald ainda fazia quá quá no canal Panda.
E depois há um dia em que tudo muda. A partir de certa idade a precocidade passa de bestial a besta, um autêntico demónio para os pais de adolescentes. Se com dois anos já os levávamos a todos os concertos para bebés em cartaz, agora trememos sempre que os Rammstein entram em digressão.
Se alguma vez nos orgulhámos de eles rebolarem antes do tempo, agora tememos que comecem a rebolar fora de horas.
E quem se ria das respostas mal-educadas – mas tão perspicazes! – da criança com refegos não terá certamente agora o mesmo sentido de humor perante a insolência de um adolescente com borbulhas (se calhar não lhe devíamos ter estimulado tanto a fala durante os primeiros anos de vida) .
Se quer tirar o pulso ao seu filho, experimente perguntar-lhe onde é que ele vai viver quando for grande. Há três respostas possíveis:
a) Vou ficar nesta casa convosco para sempre.
b) Vou comprar uma casa no prédio ao lado para ficar pertinho.
c) Bem longe daqui.
A resposta foi c). Revolta: parabéns, o seu filho está no auge da adolescência. Resignação: faz parte, teremos de viver com isso. Em boa verdade, sabemos que, a continuarmos pelo caminho da prosperidade (ironia!), a hipótese a) será a mais provável – daqui a uns anos: os ‘marmanjos’ permanecerão em casa até aos 40.
E agora, alegria?