A minha filha acabou de entrar oficialmente na adolescência. Digamos que até ao dia tinha estado em modo de soft opening (passe o eufemismo). É como quem começa a tirar a carta com antecedência e no dia em que faz 18 anos lança-se logo na autoestrada a 200km/hora. Também ela começou prego a fundo no dia do seu 13.º aniversário, a Sexta-Feira Santa marcava assim o início de um novo calvário materno.
O dia era de sol – tal como quando ela nasceu – mas aquela nuvem carregada de drama que paira sobre qualquer adolescente não tardou a aparecer, contrariando o Anticiclone dos Açores previsto – que saudades de ouvir o saudoso Anthímio de Azevedo a anunciá-lo.
A ideia era comer um hambúrguer e ir à praia com um pequeno grupo de amigos – os que permaneciam nas redondezas em tempo de férias escolares –, isto dois dias depois da largamente noticiada rixa anual na Praia de Carcavelos. A época balnear ainda não tinha sido inaugurada, e sem a presença dos nadadores-salvadores anunciei uma vigília, logo considerada pouco ortodoxa pela minha filha, que retaliou com uma espécie de providência cautelar – tinha que manter a minha distância. E nada de abordar o grupo! Acabei por aceder, não sem antes ameaçar atacar com o spray de protetor solar caso não se protegessem por iniciativa própria, o que se revelou ser uma excelente técnica de extorsão.
Cheguei ao areal já os rebeldes estavam instalados e mantive a distância de segurança, ou melhor de insegurança, pois sem óculos não conseguiria distinguir uma criança na água de um cão molhado. E de que serviria a minha amostra de cabedal numa luta de gangues? Não há nada em mim que grite Mariana Van Zeller! Ainda assim, não dei parte de fraca, a mãe estava ali, hirta e firme… cegueta mas vigilante.
Da crucificação à ressurreição não tardou muito e acabei por ser abordada pelos dissidentes com o novo propósito materno de servir de bengaleiro de telemóveis, no que se revelou o mais santo aniversário de todos: os smartphones vibram e apitam por todos os lados, mas não tanto como um grupo de adolescentes eufóricos. Foi também a festa mais barata de sempre. Afinal, há algo de muito autónomo no conceito de cada um paga o seu.
Parece que talvez me adapte bem a esta nova situação, consiga eu fintar os olhos revirados, os mísseis verbais, o Apocalipse sempre iminente, as cervejas, os cigarros, as unhas de gel, a canábis, os TikToks e as más companhias, reais e virtuais. Depois do inferno da Mini, da Frozen, das Wix e das DC Super Hero Girls, de levar miúdos a fazer cocó e xixi de dois em dois minutos, de todas as dificuldades em fazer corresponder pais e crianças no final da festa, aqui estou eu, no céu, a ‘bater charuto’ e, no máximo, a fazer bolinhos de areia.
Querem um geladinho, é isso? Espera aí que a mãe já vai.