Dói-me o rabo de estar sentada há horas numa bancada de pedra, nesta digressão pelos pavilhões de Portugal que têm sido os meus fins de semana. À minha volta estão muitos outros pais e enquanto os miúdos fazem o aquecimento penso em como em toda a minha carreira desportiva ficou 1-0 para o meu pai em relação à minha mãe nas vezes que me foram ver jogar. Do alto dos meus 162cm apresento no meu currículo basquetebolista dois títulos de MVP (most valuable player) e um de melhor marcador. Mas como os pais são velhos a vida toda perante os filhos, a minha glória é completamente abafada pela condescendência subentendida na frase “‘está bem, mãe, está bem.” A memória não me falha, mas a bola pesa-me – ia jurar que na minha altura ela era bem mais leve! – e atraiçoa-me na hora de convencer o meu filho que era exemplar a marcar da linha dos três pontos. O que ele não percebe – e já desisti de tentar explicar – é que tudo se passou no fim dos anos 80 e início dos 90 em Copenhaga e eu dava pela altura do peito das minhas adversárias nórdicas, cada uma com um par de bolas extra aos saltos, sem aros a restringir a sua liberdade.
Os meus pais não me iam ver jogar, não era porque não gostavam de mim (digo eu), mas porque na altura era assim – também tinham uma vida. A equipa encontrava-se na estação com o treinador, Mr. Flygaard, um taxista baixinho com muito mau feitio que era na maior parte das vezes expulso do recinto, normalmente numa madrugada fria de sábado ou domingo. E agora dou por mim a fazer mais quilómetros do que um motorista, entre treinos e jogos, que, multiplicado por dois filhos, dá 8 treinos por semana e de 2 a 4 jogos de basquetebol e voleibol por fim de semana.
Mais, começo sempre os jogos numa onda de mãe cool e algo indiferente – o que interessa é participar, certo? – mas tenho vindo a resvalar para uma cheerleader esganiçada e nos limites do autocontrole (desconfio que parte da culpa seja das hormonas). Mas não sou de impropérios nem de insultos aos árbitros, são mais palavras de ordem, como um ‘vamos!’ ao mais alto nível de Carlitos Alcaraz.
A verdade é esta, não vale a pena escamotear: os miúdos fazem cada vez mais desporto – onde é que eu meti na cabeça que isso era importante para a sua formação?! – e eu estou cada vez mais sedentária, a não ser que se venha a desencantar um estudo que diz que o ato de bater palmas é um autêntico sorvedor de calorias. E todo o sistema desportivo português abusa da boa vontade dos pais: os treinos ora são a horas em que a pessoa está a trabalhar (normalmente para aquecer, mas não no sentido atlético) ou num horário em que a pessoa já gostaria de estar com o rabo no sofá e não na bancada. Os clubes não têm carrinhas e os pais que não manifestem exaltado entusiasmo por terem de ir para Vila Franca de Xira às nove da noite de uma sexta-feira é porque não apoiam suficientemente os filhos. Esquecem-se de que o Ronaldo veio sozinho para Lisboa enquanto a Dona Dolores permaneceu na Madeira a comer bolo do caco com as amigas!
Dito isto, avizinha-se mais um fim de semana desportivo. Se não me engano, o Grupo União Recreativo e Desportivo MTBA tem o melhor pão com chouriço do distrito de Lisboa. Bora equipa, não desiste!