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A empatia é um trabalho difícil (mas necessário). É um caminho que percorremos às escuras e que parte da nossa vontade de querer fazer e ser melhor. Afinal, colocarmo-nos no lugar do outro quando ele está a viver algo pelo que nunca passámos não costuma surgir-nos com a naturalidade de quando, de facto, nos identificamos com alguém que trava as mesmas lutas que nós.
Eu acredito que não sentia empatia por mulheres que já tinham sofrido perdas gestacionais – até me calhar a mim. Não o sentia, no sentido em que nem sequer pensava no assunto, não era algo sobre o que me procurava informar. Nunca tendo sido mãe, nunca tendo estado grávida, para mim, a gravidez era igual a um filme romântico com final feliz.
Após ter começado a perder a minha primeira gravidez, três dias depois de a ter descoberto e vivido intensa, ingénua e alegremente, tive um grande abrir de olhos. Pensei na quantidade de vezes que lia notícias sobre a atriz X ou Y que tinha perdido um bebé e o quanto isso me passava ao lado. Porque nunca pensei que me acontecesse a mim – e porque não conhecia aquela dor.
Acabei por me dar conta que não importa ter 25 anos, ser saudável ou fazer tudo “certo” para que dê…certo. Há muitos fatores que não dependem de nós e que podem determinar a fatalidade de algo que devia ter sido, nove meses depois, o dia mais feliz das nossas vidas. Mas não foi disso que vim falar. Bom, não propriamente.
Dar-me conta de que a minha empatia perante aquela realidade que eu não conhecia era praticamente nula trouxe-me algumas emoções menos felizes e não me senti a melhor pessoa do mundo. Mas também me fez querer ser melhor. Acredito que sermos verdadeiramente empáticos é das atitudes mais nobres que podemos ter. E está tudo bem se este for um processo mais ou menos demorado.
Acredito também que a base da empatia é o respeito pelo outro. É o não fazer perguntas desnecessárias, é o não assumir que a vida daquela pessoa é de certa forma sem a conhecermos, é o estar apenas presente quando o outro precisa de nós e não fingir que temos as soluções mágicas ou palavras certas para lidar com uma situação que desconhecemos. É o não julgar algo por ser diferente daquilo que vivemos ou pensamos.
Ora, aplicando este princípio ao tema que aqui me trouxe hoje, digo que é urgente que paremos de perpetuar a cultura em que a mulher tem de querer ser mãe, tem de contar a toda a gente assim que quiser engravidar, tem de revelar assim que está grávida (ou quando atinge a dita “margem de segurança”) ou sorrir e acenar sempre que alguém lhe pergunta quando tem filhos, sem saber se os quer ou se os consegue ter.
A maternidade não é, para muitas, o mar de rosas que nos pintaram desde pequenas. A partir da primeira perda, a partir de um diagnóstico de infertilidade, a partir do momento em que ter filhos se torna uma luta, deixamos a ingenuidade de lado. Vivemos cada anúncio de gravidez com sentimentos mistos e com a ansiedade de que chegue a nossa vez, misturada com a tristeza do que já poderia ter sido.
Quero acreditar que qualquer mulher que trave uma batalha para engravidar ou manter uma gravidez é empática com outras mulheres porque ganhou uma nova sensibilidade ao tema. Choca-me a quantidade de comentários a assumir uma gravidez em fotografias de celebridades que parecem mais inchadas, seja pelo ângulo, seja porque engordaram ou seja por, de facto, estarem grávidas mas sem ainda o terem anunciado.
A curiosidade sobre a gravidez de alguém tem de ter um ponto final bem marcado. A maternidade nem sempre é um tema de conversa do chá das cinco, muito menos da secção de comentários das redes sociais – sobretudo daqueles que não conhecemos. Os anúncios de gravidez são feitos quando e se as pessoas assim o desejarem, bem como a conversa sobre as perdas ou infertilidade. E eu não sou ninguém para aumentar a dor de outra pessoa com uma pergunta desnecessária ou um comentário inconveniente.
Quantas vezes aquela mulher que tenta engravidar há anos já ouviu a pergunta “quando tens filhos”? Quantas mulheres que sofreram perdas gestacionais – e tinham ainda uma montanha russa hormonal no organismo – tiveram de ouvir “estás grávida?”, pela aparência mais inchada ou “cara de grávida”? Quantas mulheres sofrem com a pressão de ter filhos, sem que esse seja um desejo seu? Quantas mais mulheres terão de sofrer?
Que a empatia seja uma escolha diária e aquilo que nos faz pensar duas vezes antes de uma qualquer observação, aparentemente, inocente.