Vivemos em suspenso duas vezes: a primeira devido ao confinamento; a segunda devido à incerteza daquilo que nos espera no futuro. Para muitos, a situação atual teve consequências brutais a nível do emprego, implicando em alguns casos a sua perda, ou o adiamento de novas oportunidades profissionais sem data para retoma. O desânimo e a incerteza terão em muitos repercussões pesadas na sua saúde mental, na sua motivação, e no impacto que o adiamento na realização profissional podem ter.
Temos a vaga certeza de que depois disto, nada será igual; as organizações terão extrema necessidade de se transformar (bom, acreditemos que nem tudo será mau!). Para aqueles cuja situação já era precária, os desafios são ainda maiores, devido ao seu percurso muitas vezes pouco consolidado, necessidades de readaptação ao novo contexto laboral, juntamente com a aquisição de novas competências.
Durante este anos a trabalhar na área de Talent Management, Recrutamento especializado e Coaching, entrevistei e tive oportunidade de falar com muitas pessoas diferentes, com percursos diversos, e ouvi imensas histórias vencedoras (também é certo que ouvi relatos muito tristes, mas é nos casos de sucesso que temos de nos inspirar): conheci desde pessoas que emigraram aos 50 anos fruto da crise económica vivida nos anos de 2009 em diante; até jovens que criaram negócios bem sucedidos (alguns com muito poucos recursos).
O que tinham todas essas pessoas em comum? Resposta direta: dinamismo, ambição, criatividade e vontade permanente de aprender, grande capacidade de resiliência (e de resistência). Tenho a certeza que dificilmente alguém, por muitas competências técnicas que possua, que tenha ficado em casa, de braços cruzados, a fazer “choradinho”, foi a lado algum profissionalmente.
Uma máxima postulada por todos nós recrutadores, é a de que: “Recrutamentos Competências, mas despedimos Comportamentos!”. Está na altura de escolherem ser alguém que não baixe os braços perante as dificuldades, que não dramatize tudo, não decida viver eternamente de modo dependente (financeira e emocionalmente) de pais, maridos ou outros (em última análise, este comprotamento mostra pouco brio, falta de autoestima, e extremo comodismo); e que, acima de tudo, olhe para dentro de si, decida um caminho a seguir, trace os próximos passos, e faça escolhas (sempre as nossas escolhas!) em função disso, sabendo que irão existir obstáculos, mas que têm de ser contornados e vencidos.
Nestes tempos difíceis na procura de emprego, deixo algumas dicas, de quem “vive no outro lado do espelho”, do recrutamento, selecção, análise, e escolha de perfis:
- Pesquise ativamente anúncios, empresas e organizações que sejam do seu interesse e que possam ter oportunidade em aberto;
- Desenvolva networking com pessoas da sua área, profissionais de recursos humanos, ou outros, de forma, a estar atualizado do que se passa no mercado de trabalho;
- Construa um bom currículo (independentemente do modelo, importa que seja clean, que não tenha erros, e que tenha informação relevante e apelativa);
- Invista algum tempo, no seu perfil das redes profissionais, tais como o Linkedin, uma vez que cada vez mais, os recrutadores e profissionais de recursos humanos, abordam potenciais talentos através desta rede (preencha os campos, tenha uma boa foto de perfil, uma capa personalizada, um bom texto de apresentação, coloque alguma informação relevante nos destaques se puder);
- Os recrutadores não se limitam a ler currículos: pesquisamos redes sociais, redes profissionais, fazemos perguntas a pessoas que trabalharam nas organizações que o candidato já trabalhou através do nosso vasto networking, procurando “referências reais” sobre a pessoa (acreditem que nas empresas especializadas de recrutamento, quando o candidato se senta à nossa frente, já foi recolhida um sem número de informações adicionais ao currículo). Existe inúmera informação online disponível, que é passível de interpretação, nem sempre abonatória. Portanto, para começar com o pé direito numa entrevista de emprego: reveja o seu perfil nas redes sociais e profissionais (elimine algumas fotos com que possam insinuar um comportamento menos consciencioso, ou restrinja a sua privacidade para que não seja uma informação de acesso público, especialmente se trabalha em áreas de maior conservadorismo);
- Faça com que os seus perfis nas redes profissionais transmitam, de alguma forma, uma parte daquilo que é ou quer ser, desenvolvendo uma imagem pessoal própria e apelativa;
- O melhor candidato não é apenas o que reúne todas as competências técnicas; é essencialmente o que mostra inteligência emocional. Este conceito repetido até à exaustão, e tantas vezes aferido através de assessments e/ou testes de personalidade, tem como objectivo compreender a forma como as suas emoções condicionam a forma de resposta, mais ou menos, racional, e o seu comportamento em diferentes contextos e situações. Os melhores candidatos demonstram competências transversais, no âmbito da empatia, flexibilidade, capacidade de relacionamento interpessoal e resiliência. Portanto, se nunca se sentou para fazer uma auto avaliação dos seus padrões comportamentais, acredito que seja a altura certa para uma dose de autoconsciência (porque não realizar, um assessment de personalidade?!);
- Tenha ATITUDE, trabalhe para aquilo que quer ser (não se apresente numa entrevista de emprego com o discurso da vítima, por muito difíceis que tenham sido os últimos tempos, mas sim com alguma positividade, de quem quer agarrar a oportunidade com unhas e dentes), sorria, seja honesto, mostre vontade de trabalhar;
- Sim, a imagem conta (somos seres visuais, e isso é intrínseco), e uma boa comunicação é essencial (auto confiança, sem arrogância, é fundamental);
- Insista e persista, sem nunca desacreditar, porque vai levar muitas tampas (e faz parte!);
- Tenha um plano B: no qual contexto de mercado, algumas áreas de trabalho estão mais saturadas que outras, fazendo com que as oportunidades sejam parcas; desta forma, tente abrir horizontes, expandindo competências para áreas diversas que lhe permitam ser elegível para um maior número de cargos;
Para finalizar, investir num percurso profissional leva tempo, requer constante aprendizagem, vontade, empreendorismo, ambição positiva, e uma força inabalável em si próprio para superar desafios, e progredir.
PRIORIZE-SE E QUEIRA TER ORGULHO DE QUEM É!
Todas as histórias de sucesso são válidas, e todos temos talentos, portanto, não queira ser alguém que foi vítima das circunstâncias, e que não singrou por não ter apostado e acreditado em si próprio.
Lúcia Palma
Coach| Talent Management no Grupo Multipessoal