O crescente número de casos confirmados de SARS-CoV-2 em Portugal e a escassez de estudos conclusivos sobre a doença, têm causado alguma incerteza e insegurança nas gestantes e em todos os que procuram constituir família. Será que a gravidez deixa as mulheres mais suscetíveis ao vírus? A verdade é não há ainda evidências concludentes que digam que as mulheres grávidas sejam mais vulneráveis à infeção pelo COVID-19 e às suas complicações do que a população em geral, e estudos publicados (a grande maioria em mulheres infetadas no 2º e 3º trimestre) apontam para uma evolução mais ou menos favorável da gestação.
Contudo, há peritos e entidades de saúde que afirmam que, no caso das gestantes, poderá haver um risco maior de infeção devido a alterações fisiológicas e imunológicas induzidas pela gravidez, e embora os conhecimentos sobre este vírus sejam limitados, por exemplo, a entidade americana CDC (“Centers for Disease Control and Prevention”) sugere que as mulheres grávidas com COVID-19 são mais propensas a serem hospitalizadas e têm maior risco de internamento em unidades de cuidados intensivos e de receberem ventilação assistida, do que as mulheres não grávidas. O risco de morte é semelhante nos dois grupos.
Há casos de transmissão do vírus para o feto durante a gestação? Embora considerada pouco provável, foram já descritas na literatura várias situações de transmissão vertical do vírus, entre a grávida e o feto e muito presumivelmente no futuro mais irão ser descritas. No entanto a experiência na maioria dos casos em todo o mundo, é a de que os recém-nascidos de grávidas infetadas têm um bom prognóstico e seu estado de saúde não difere muito dos nascidos de grávidas não infetadas.
Neste momento, ainda não há verdades inquestionáveis, nem o seu contrário, e são poucos os estudos comparativos. Na realidade todas as medidas são fundamentadas numa quantidade ainda pequena de trabalhos científicos que apresentam um limitado número de casos e por outro lado, baseiam-se na opinião de alguns especialistas.
Toda a equipa da AVA Clinic-Lisboa está focada na Saúde e na futura gravidez de quem nos visita e procura. Para se viável manter os tratamentos e o dia a dia na clínica o mais seguro possível, tivemos de introduzir algumas alterações nos procedimentos, mas para a maioria das pessoas o ciclo de tratamento é, mais ou menos, semelhante ao que era efetuado anteriormente à pandemia. Estamos sempre focados na segurança das pessoas e na manutenção das taxas de sucesso dos tratamentos, sendo que a nossa prioridade será sempre a obtenção de recém-nascidos saudáveis e famílias felizes. Sempre que alguma paciente tenha uma necessidade médica particular, o tratamento é personalizado e adaptado ao caso.
A forma que escolhemos para viabilizar o tratamento dos pacientes é basicamente semelhante ao processo que temos vindo a desenvolver nas últimas duas décadas. Continuamos a tentar ser uma extensão das suas casas, recebendo-os da forma mais profissional e confortável possível, propondo-nos a tratá-los com celeridade e adequada proteção. No caso de pacientes que já tinham tratamentos em curso, que tiveram de ser interrompidos, concretizámos formas de os avisar, informar e convidar a continuar a sua viagem de fertilidade connosco.
Como referi anteriormente neste período de pandemia, tiveram que ser introduzidas algumas alterações aos protocolos utilizados nos tratamentos e assim, antes do início e a meio dos mesmos, todos os intervenientes têm que responder por escrito a um questionário para o COVID-19. No dia anterior a qualquer deslocação à clínica, é efetuado também pela equipa de enfermagem, normalmente por via telefónica, um pequeno rastreio dos sintomas e sinais relacionados com esta infeção.
Concomitantemente, 72 a 48 horas antes da colheita de ovócitos ou esperma é feito sempre o teste de diagnóstico para o coronavírus, assim como, no caso de surgirem sintomas suspeitos em qualquer fase do tratamento. Se algum paciente apresentar um teste positivo o seu tratamento terá que ser interrompido. A metodologia que seguimos obriga a uma interrupção, até haver uma recuperação total da infeção por COVID-19 (confirmada pelas entidades de saúde), e a partir desse momento é possível reiniciar o tratamento. Estas medidas, como outras, são tomadas com o objetivo da preservação da segurança, tanto das pessoas, como dos gâmetas (ovócitos e espermatozoides), ou dos embriões. Se após a colheita de ovócitos ou esperma, houver necessidade de repetir o teste de diagnóstico para o COVID-19 e este vier positivo, os gâmetas e os embriões serão criopreservados para posterior utilização, visto que o tratamento terá que ser interrompido de imediato.
No nosso caso e penso que é prática comum na maioria das clínicas privadas e serviços públicos, os cuidados de saúde nesta área da Medicina estão a ser continuados. Hoje em dia com os formatos que temos disponíveis, as consultas, para além de presenciais, podem e devem também ser realizadas via telefone, Skype, Zoom, Google meets, etc. A nossa função é estarmos sempre disponíveis para as pessoas, seja em períodos de adversidade, como o que estamos a viver, ou em tempos mais tranquilos ou de prosperidade.
Embora queiramos estar devidamente sintonizados com todas as mulheres que queiram engravidar no imediato, infelizmente, muita coisa permanece desconhecida sobre o COVID-19. Na minha perspetiva, a decisão de querer engravidar é inteiramente pessoal, mas precisa ser tomada com base no estado de saúde de cada pessoa, nas condições locais, isto é, no estado atual da pandemia em determinada região e deve ser sempre alicerçada numa cuidadosa análise da relação custo-benefício de cada caso concreto.