É comum existir a ideia de que as visitas ao dentista apenas devem acontecer a partir de uma certa idade ou de que os “dentes de leite” não são tão importantes quanto os definitivos. Contudo, esta está errada: a criança deve desde cedo ter uma boa higiene oral e ser acompanhada para prevenir ou detetar eventuais problemas. Estabelecer uma boa saúde oral na infância é essencial para assegurar o conforto das crianças e a cooperação ao longo da vida.
Os cuidados de saúde oral e o acompanhamento por parte de um dentista são ainda mais importantes em crianças com necessidades especiais. Estas crianças têm uma maior incidência de doenças orais, como as gengivites devido à medicação, e maiores níveis de placa bacteriana, tártaro e halitose, decorrentes da dificuldade em realizar uma correta higiene oral diária. Para além disto, muitas vezes a sua alimentação, a medicação noturna e os reduzidos movimentos da musculatura oral são também alguns dos fatores que levam ao surgimento de cáries.
Como tal, a atenção à saúde oral destas crianças deve ser redobrada. Todos os problemas de saúde oral são progressivos e cumulativos, pelo que ignorá-los vai levar a situações mais complicadas e severas de dor e inflamação, recusa de alimentos, redução da qualidade do sono e até do rendimento escolar.
Contudo, nem sempre é fácil para os pais encontrarem equipas e clínicas preparadas para receber e acompanhar os seus filhos. Estas crianças têm, muitas vezes, comportamentos que condicionam a realização dos exames dentários necessários, tais como dificuldades de comunicação, incapacidade de seguir indicações e respostas sensoriais exacerbadas.
Neste sentido, os seus cuidados de saúde oral requerem um conhecimento especializado e adaptado, bem como medidas de integração, além do que é considerado rotina. A primeira consulta tem como objetivo compreender qual o estado da saúde oral da criança. O protocolo clínico de atendimento torna-a agradável e simplificada para o paciente com necessidades especiais: as consultas devem ser curtas e o profissional deve utilizar sempre uma comunicação em tom calmo e amigável, com indicações simples, diretas e repetidas, sempre na presença e com o auxílio dos pais.
Devem ser evitados movimentos súbitos ou sons elevados, sendo que o médico dentista utiliza várias técnicas de controlo de comportamento para que seja possível realizar a consulta e aumentar a colaboração da criança. Após o diagnóstico do estado de saúde oral, é definido, junto da família, qual o plano de tratamento individual. Em casos específicos, pode ser ainda necessário recorrer à sedação consciente ou à anestesia geral para proporcionar um tratamento dentário de qualidade e em segurança.
Para além disto, a equipa, composta pelo médico(a) dentista e assistente dentária(o), deve ser sempre a mesma para criar uma relação de confiança com a criança. Também o consultório médico deve ser sempre o mesmo, de modo a transmitir à criança uma sensação de segurança e conforto por já conhecerem o espaço. Ainda assim, o sucesso dos tratamentos está dependente da construção de relação não só com a criança, mas também com os pais.
Atualmente, ainda existem poucas clínicas de medicina dentária com as valências necessárias, tanto humanas como físicas, para o acolhimento, atendimento e tratamento de crianças com necessidades especiais. Contudo, é muito importante garantir que estas crianças têm acesso a cuidados de saúde oral adequados, que as façam sentir confortáveis, sem receios e principalmente que lhes permitam manter uma boca e dentes sempre saudáveis. As crianças não são todas iguais, mas todas devem ter o acesso à saúde oral.