De acordo com a Organização Mundial de Saúde, o tabaco é uma das maiores ameaças de saúde pública e é responsável pela morte de mais de 8 milhões de pessoas por ano mundialmente (7 milhões como resultado de tabagismo directo e 1.2 milhões resultantes do tabagismo passivo). O tabaco é uma das principais causas evitáveis de doença, incapacidade e morte prematura nos países desenvolvidos e, segundo o relatório do Programa Nacional para a Prevenção e Controlo do Tabagismo de 2019, contribui para mais de uma em cada dez mortes registadas anualmente em Portugal.
O AVC continua a ser a primeira causa de morte e incapacidade em Portugal, sendo que 90% dos AVC estão associados a factores de risco modificáveis, como o tabagismo. O consumo de tabaco está relacionado com a ocorrência de um em cada dez AVCs. Fumar está ainda associado ao aumento do colesterol LDL e do risco de desenvolver diabetes mellitus tipo 2, bem como ao aumento da pressão arterial, sendo todos estes factores de risco para AVC. Diversos estudos mostram também que fumar está associado a risco de progressão mais acelerada da aterosclerose das artérias carótidas e que este risco também existe nos fumadores passivos.
Para além da sua associação com doença cerebrovascular, fumar tem efeitos prejudiciais em quase todos os órgãos, sendo um conhecido factor de risco para doenças cardiovasculares, cancro e doenças respiratórias crónicas. Para além destas, pode associar-se a problemas de fertilidade e complicações na gravidez, entre muitos outros.
Não existe um nível de exposição seguro ao tabaco. Os efeitos prejudiciais do tabaco estão presentes mesmo para quem fuma menos de 5 cigarros por dia e para os fumadores passivos. De acordo com a Organização Mundial de Saúde, estima-se que metade das crianças sejam vítimas de tabagismo passivo e que cerca de 65 000 crianças morram por ano vítimas de doenças atribuíveis ao tabagismo passivo. O tabagismo passivo pode, inclusivamente, aumentar o risco de síndrome de morte súbita do lactente.
Todas as formas de consumo de tabaco são nocivas. Recentemente, tem havido um crescente aumento do consumo de outras formas de tabaco, nomeadamente de Produtos de Tabaco Aquecido (“heat-not-burn technology”). Estes utilizam dispositivos que aquecem o tabaco, produzindo aerossóis que contêm nicotina e químicos tóxicos. Até à data não existe evidência de que sejam menos prejudiciais do que os cigarros convencionais, tanto para os fumadores activos como passivos.
Parar de fumar antes dos 40 anos reduz os riscos para a saúde em mais de 90%, mas deixar de fumar tem benefícios em qualquer idade. Concretamente, o risco de AVC reduz progressivamente nos anos seguintes a parar de fumar. Parar de fumar tem benefício mesmo para quem já tenha sofrido de doenças relacionadas com o tabaco. A ajuda de profissionais de saúde duplica a probabilidade de sucesso na cessação tabágica e existem hoje diversas estratégias possíveis, desde terapias farmacológicas a psicoterapia.
O tabaco mata praticamente metade dos seus consumidores. Não seja mais uma vítima dele.
Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a ACTIVA nem espelham o seu posicionamento editorial.