A dermatite atópica é a doença inflamatória crónica de pele mais comum, estimando-se que até 440 mil pessoas serão afetadas em Portugal. A sua prevalência na população pediátrica é particularmente elevada, afetando cerca de 10 a 20% de todas as crianças e adolescentes.
Esta é uma doença física e emocionalmente debilitante, quer para os doentes quer para os seus familiares. Apesar das lesões de eczema e do prurido (comichão) serem o mais imediatamente visível, estes são apenas o topo de um profundo icerberg, o qual esconde outras manifestações como exclusão social e escolar, bullying, baixa autoestima e evicção de exercício físico.
A seleção do vestuário é também impactada, com alguns jovens a preferir não frequentar praias ou piscinas, ou a selecionar roupas compridas no verão, de modo a esconder as suas lesões de eczema. As noites mal dormidas são também frequentes, o que leva a uma fadiga constante e prejudica a capacidade de concentração e aprendizagem. Apesar disto, a dermatite atópica é ainda, demasiadas vezes, desvalorizada como “só uma doença de pele”, o que em nada ajuda o sofrimento daqueles que dela padecem.
A dermatite atópica é uma doença muito sintomática, pautada por dor e prurido diário e intenso. As lesões resultam da inflamação da pele – vermelhidão (eritema), descamação, exsudação e escoriações – e, quando a inflamação é prolongada, liquenificação (aumento da espessura da pele). A localização das lesões segue um padrão típico: nos bebés e crianças muito jovens, a face e a superfície extensora (“parte de fora”) dos braços e pernas são mais afetadas; mais tarde, é mais frequente observar as lesões nas pregas dos cotovelos, dos joelhos e no pescoço destas crianças e adolescentes. Existem, contudo, formas mais graves, que podem afetar toda a pele e motivar internamento hospitalar.
Apesar de não existir uma cura, assistimos hoje a uma promissora (r)evolução terapêutica na dermatite atópica. Na doença ligeira, a evicção de gatilhos, o uso regular de emolientes e de produtos de higiene adequados, bem como o uso proativo de anti-inflamatórios tópicos (como os dermocorticoides ou inibidores tópicos da calcineurina) é uma estratégia eficaz e segura.
Já na doença moderada e grave é frequentemente necessário tratamento sistémico. É neste campo que os avanços científicos têm sido decididamente impressionantes, com o desenvolvimento recente de vários fármacos inovadores que demonstram dados robustos de eficácia e segurança. Felizmente, também em Portugal já presenciamos esta (r)evolução terapêutica com a aprovação, desde o início de 2022, do primeiro biológico indicado para o tratamento destes casos mais graves de dermatite atópica em idade pediátrica.
Histórias como “já não me lembrava do que era tomar banho de água quente, agora já consigo!” ou “finalmente posso usar calções sem vergonha de mostrar a pele!” são testemunhos da prática clínica que traduzem o sucesso que é hoje realista alcançar na abordagem destes doentes.
Hoje somos capazes de melhorar muito a qualidade de vida daqueles que sofrem com dermatite atópica moderada e grave. Procurar ajuda médica é o primeiro passo para o tratamento.
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