Em 2020 o número estimado de pessoas com glaucoma era de 76 milhões e prevê-se que em 2040 irá aumentar para 112 milhões. Em Portugal, os dados estatísticos apontam para aproximadamente 100 mil pessoas com glaucoma, 6 mil das quais com critérios de cegueira.
Vários estudos demonstraram que pelo menos metade dos doentes com glaucoma não estão diagnosticados e que grande parte dos casos é diagnosticado já numa fase avançada da doença.
Dada a irreversibilidade das lesões instaladas a nível do nervo óptico, o diagnóstico precoce e um tratamento adequado são fundamentais para atenuar o impacto do glaucoma na qualidade de vida do doente. Para tal, é importante o seguimento regular em consulta de Oftalmologia.
A vigilância está recomendada em doentes a partir dos 40 anos de idade ou antes, caso existam factores de risco (hipertensão ocular, raça negra, história familiar de glaucoma, espessura central da córnea reduzida, alta miopia, diabéticos, tratamento prolongado com corticóides), realizada sempre por um médico oftalmologista. O exame oftalmológico destes doentes deve incluir a medição da pressão intraocular, a observação do nervo óptico e a avaliação do ângulo iridocorneano. Muitas vezes complementa-se com a realização de campos visuais, análise estrutural do nervo óptico (OCT) e determinação da espessura da córnea (paquimetria).
São vários os mitos que circulam sobre o glaucoma. É importante olhar para eles e compreender a sua verdade ou erro, pois uma correta literacia em saúde é fundamental para o diagnóstico e tratamento desta patologia. Partilho alguns:
Mito 1: O glaucoma é sempre causado pelo aumento da pressão intraocular do olho.
Embora o aumento da pressão intraocular seja o principal factor de risco, algumas pessoas desenvolvem glaucoma com valores de pressão considerados normais (glaucoma normotensional). Também existem doentes com pressão intraocular elevada que não desenvolvem glaucoma (hipertensão ocular).
Mito 2. Pessoas com boa visão e sem sintomas não podem ter glaucoma.
A maioria dos casos de glaucoma não apresenta nenhum sintoma até às fases mais avançadas da doença, razão pela qual o glaucoma é chamado de ladrão silencioso da visão. Quanto mais tarde a doença for diagnosticada e tratada, maior a probabilidade de ocorrer uma perda significativa da visão.
Nos casos de glaucoma de ângulo fechado, os doentes poderão apresentar sintomas logo numa fase inicial: dor ocular intensa, cefaleia e náuseas, olho vermelho, visão turva e halos coloridos. Na presença destes sintomas, o doente deve ser avaliado com urgência por um oftalmologista, devido ao risco de desenvolver cegueira num curto período de tempo, se não for tratado atempadamente.
Mito 3: O glaucoma afeta apenas pessoas idosas.
O risco de desenvolver glaucoma aumenta à medida que envelhecemos e a maioria dos casos de glaucoma está relacionado com a idade. No entanto, esta patologia pode afetar pessoas de todas as idades, até mesmo recém-nascidos (glaucoma congénito).
Mito 4: Existe cura para o glaucoma.
O glaucoma não tem cura, mas tem tratamento. Atualmente, a única abordagem terapêutica eficaz é a diminuição da pressão intraocular para valores que estabilizem a evolução da doença, seja através da aplicação de colírios, de tratamento LASER ou cirurgia.
Para que o tratamento do glaucoma seja plenamente eficaz, ele deve ser iniciado antes que ocorram lesões graves do nervo óptico. É por esta razão que um diagnóstico precoce pelo médico oftalmologista é fundamental.
Mito 5: Ninguém na minha família tem glaucoma, o que significa que não terei a doença.
A história familiar de glaucoma é um factor de risco para esta patologia, mas muitos doentes com glaucoma não conhecem casos na família. Todos os doentes com este diagnóstico devem informar os seus familiares e estes deverão realizar exames oftalmológicos regulares, de forma a possibilitar um diagnóstico atempado da doença.
Mito 6: O glaucoma causa sempre cegueira.
O glaucoma não leva a perda de visão na maioria dos casos. Exames oftalmológicos frequentes são a chave para o diagnóstico precoce, aumentando a probabilidade de manter uma boa visão. Com as modalidades terapêuticas atuais, o glaucoma é na esmagadora maioria dos casos controlável.