O cancro é uma doença cada vez mais incidente e prevalente. Segundo dados da Organização Mundial de Saúde, o número de casos desta patologia cresce a cada ano. Constitui o principal problema de saúde pública no mundo e está entre as quatro principais causas de morte prematura.
Nos últimos 20 anos, o número de cancros diagnosticados conheceu um crescimento importante, devido não só ao aumento populacional, mas também ao aumento da esperança média de vida e às técnicas de deteção precoce, fruto de uma evolução científica e tecnológica, contínua e constante. A evolução técnico-científica nesta área conduziu a um menor risco de mortalidade por cancro e, consequentemente, ao aumento do número de sobreviventes por cancro.
Os sobreviventes apresentam frequentemente complicações da doença e dos seus tratamentos, com impacto a nível físico, psicológico, espiritual, social e económico. Estes efeitos incluem depressão, ansiedade, preocupação com a imagem, disfunção física e sexual, distúrbios de sono, aumento de peso, fadiga crónica, entre outros, provocando deterioração da qualidade de vida, com repercussões na autoestima, o que requere uma orientação individualizada.
O período de sobrevivência proporciona uma oportunidade para reajustar os estilos de vida e melhorar a qualidade de vida – “viver com, através e para além do diagnóstico de cancro”. É neste contexto que surge a Medicina Oncoestética, uma área inovadora da Medicina, que une Medicina Estética à Oncologia. O objetivo da Medicina Oncoestética é prevenir, melhorar e tratar total ou parcialmente os aspetos inestéticos do doente com cancro, de modo a beneficiar a sua qualidade de vida. A medicina estética pode ter um papel determinante e muito importante na minimização das sequelas do tratamento do cancro (cirurgia, radioterapia, alvos moleculares e quimioterapia). É sabido que estes tratamentos provocam inúmeros efeitos secundários e que, em geral, têm um impacto importante na pele. São responsáveis pelo envelhecimento precoce da pele conduzindo a desidratação, aumento de rugas e flacidez, perda de elasticidade, vasculopatias actínicas e alterações da pigmentação.
A Medicina Oncoestética assenta em três pilares: prevenção, melhoria dos efeitos secundários durante o tratamento e melhoria das sequelas após o términus do tratamento. Em termos de prevenção, a Medicina Estética pode ser decisiva na evicção de maus hábitos, sendo, também, fundamental o papel que desempenha no diagnóstico precoce, uma vez que a história clínica e o exame físico, inerentes à consulta de Medicina Estética, podem alertá-lo para uma patologia subjacente.
A imagem corporal do doente oncológico é claramente afetada quer pelas alterações ou assimetrias provocadas pela cirurgia, quer pelos efeitos secundários dos tratamentos adjuvantes como alopécia, aumento ou diminuição do peso corporal ou lesões cutâneas na zona irradiada. Durante o tratamento do cancro, a pele é um dos órgãos mais frequentemente afetados, podendo ocorrer toxicidade cutânea. Sem dúvida, cuidar da pele ajudará a minimizar os efeitos adversos dos diferentes tratamentos.
Após o términus dos tratamentos é o momento de identificar e quantificar as necessidades estéticas e de bem-estar íntimo dos doentes com cancro. A avaliação numa consulta médica especializada é fundamental antes da realização de qualquer procedimento médico-estético. Deve assentar numa história clínica cuidada e um exame físico detalhado, onde são discutidos os tratamentos médico-estéticos possíveis, indicados e individualizados, de forma a solucionar os problemas que mais o incomodam e sempre de encontro com as expectativas de cada um.
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