A pressão arterial é a força que o sangue faz sobre a parede das artérias, durante a sua circulação. Numa analogia simplista, imaginemos uma mangueira como sendo a artéria e a água que por lá passa o sangue. Quando abrimos a torneira, a água exerce uma determinada pressão na mangueira. Esta pressão pode ser maior ou menor, conforme a força com que sai da torneira.
A Hipertensão Arterial (HTA) não é mais do que a pressão sanguínea aumentada, de forma crónica, na parede das artérias. No adulto, considera-se HTA quando a pressão máxima é igual ou superior a 140 mmHg, ou a mínima é maior ou igual a 90 mmHg. Na criança e no adolescente, a HTA é definida em função de um percentil. Para esse cálculo é usada uma tabela que relaciona a estatura/altura com a idade, sabendo que o valor ótimo deverá ser inferior ao percentil 90 da estatura ou abaixo dos 120/80mmHg nos adolescentes a partir dos 13 anos.
A HTA é um conhecido fator de risco cardiovascular. Ao falar nesta doença pensamos em adultos e/ou idosos, no entanto, a HTA em idade pediátrica tem aumentado significativamente nos últimos anos. Estudos de prevalência europeus e norte-americanos revelam resultados preocupantes. Em 2016, na Europa, entre 3 e 5% dos jovens com idades compreendidas entre os 3 e 18 anos, apresentava HTA. Em Portugal em 2014, a Sociedade Portuguesa de Pediatria verificou que 6% das crianças/adolescentes entre os 6 e 14 anos tinha HTA e que 14% mostrava Pressão Arterial Elevada (PAE). Em 2019, na zona de Castelo Branco, foram feitas avaliações seriadas de pressão arterial de alunos entre os 6 e os 15 anos, verificando-se que 10,7% tinham HTA e 8,3% já apresentava PAE. Estes resultados são concordantes com a tendência já verificada desde o início da última década. E não só. Existe uma associação crescente entre o aumento da prevalência de HTA pediátrica à obesidade, estando demonstrado que a HTA é mais frequente em crianças obesas. Proporcionalmente, a própria obesidade aumenta a pressão arterial.
E porque é importante controlar e tratar a HTA infantojuvenil? Porque a intervenção precoce em fatores modificadores e preditores de doença é fundamental para termos, não só jovens, mas também adultos mais saudáveis. Aproximadamente 50% das crianças hipertensas serão adultos hipertensos, e os jovens com HTA evidenciam um envelhecimento vascular prematuro e acelerado. A HTA é silenciosa e tem consequências negativas para saúde, contribuindo para o status pró-inflamatório, e lesando órgãos como o rim, o coração e o cérebro.
A intervenção precoce pode retardar e/ou prevenir a evolução da doença, pelo que as políticas de saúde devem assentar na prevenção, vigilância e monitorização das situações de risco, ou doença instalada. A prevenção começa na base, com a família, com hábitos alimentares salutares, prática regular de exercício físico, com programas escolares que promovam atividades motoras e capacidade de reflexão sobre os problemas de saúde que afetam, atualmente, a população.
Os Cuidados de Saúde Primários têm projetos vários de intervenção comunitária com vista à promoção de hábitos de saúde saudáveis. As consultas de vigilância de Saúde Infantil e Juvenil encontram-se estruturadas de forma a abordar diversas temáticas de saúde, adaptadas às diferentes faixas etárias, e onde se avaliam de forma sistemática parâmetros como o peso, a altura e, partir dos 3 anos de idade, a pressão arterial.
Ao prevenir e tratar a HTA na idade pediátrica aliviamos a carga de doença cardiovascular, ou seja, crianças e jovens saudáveis serão adultos saudáveis, com menos necessidade de cuidados a médio e longo prazo.
Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a ACTIVA nem espelham o seu posicionamento editorial.