O Cancro do Pulmão a nível mundial, em 2020, afetou 2.21 milhões de indivíduos com 1.83 milhões de mortes contabilizadas. Dois terços da carga global aconteceram nos homens (1,44 milhões de novos casos e 1,19 milhões de mortes). No mesmo ano, em Portugal, o cancro do pulmão foi o quarto tipo mais frequente de tumor (depois do colon, mama e próstata), com 5.415 novos casos e o primeiro em mortalidade com mais 4.600 vítimas.
O tabaco, nas suas múltiplas formas de apresentação, continua a ser o principal factor de risco. O fumador tem um enorme risco acrescido de desenvolver a doença em relação ao não fumador, sendo esse risco variável com a idade de início do hábito, duração, quantidade e tipo de tabaco. Outros fatores como a doença pulmonar preexistente, exposição ocupacional (asbestos, urânio, crómio, agentes alquilantes) e história familiar desempenharão um papel adjuvante no desenvolvimento do cancro do pulmão.
Dois terços dos doentes são diagnosticados em fase avançada inviabilizando uma terapêutica curativa e condicionando um reservado prognóstico expresso em taxas de sobrevivência aos cinco anos entre os 15-18%.
Valorizar os sinais de alerta pode alterar a letalidade por cancro do pulmão. A existência de tosse persistente ou alteração das suas características habituais; expetoração mucosa ou mucopurulenta persistente acompanhando a tosse; expetoração com sangue ou com fios de sangue que persiste dias ou semanas; toracalgia desconfortável e intermitente; cansaço progressivo; falta de apetite e perda de peso ou combinação de vários destes sintomas devem levar cada um de nós a procurar o seu médico assistente ou o pneumologista
Implementar um Programa de Rastreio do Cancro do Pulmão é uma urgência. Desde a publicação dos primeiros resultados do ensaio clínico de rastreio “National Lung Screening Trial” em 2011 que ficou claro que em populações selecionadas a utilização de TAC torácica de baixa dose poderia influenciar a mortalidade por cancro do pulmão, reduzindo-a em 20% em relação à realização de radiografia de tórax. Desde aí até agora, muitos outros estudos foram realizados para confirmar esse impacto positivos e a sua aplicabilidade em múltiplos cenários, países ou estruturas populacionais.
Em 2020 foi publicado outro grande ensaio, agora realizado na Europa, o NELSON, que permitiu confirmar o benefício do rastreio em relação a não rastrear populações específicas, permitiu desenvolver algoritmos de diagnóstico, “follow up” de nódulos pulmonares e até de procedimentos diagnósticos. Permitiu ainda testar o espaçamento das TAC’s de baixa dose, permitindo reduzir o seu número. Introduziu na avaliação de rastreio o conceito volumétrico dos nódulos pulmonares e associadamente o tempo de duplicação dos nódulos pulmonares, construindo com estes parâmetros critérios de risco de malignidade de um nódulo pulmonar. O rastreio do cancro do pulmão é já hoje uma realidade em implementação em vários países da Europa.
A PULMONALE (Associação Portuguesa de Luta Contra o Cancro do Pulmão) desenhou um projeto, um piloto que incluirá pessoas com alto risco para cancro do pulmão de acordo com a história tabágica, doença pulmonar crónica, exposição ou história familiar, e com idade compreendida entre os 50 e os 75 anos. A TAC torácica de baixa dose deverá ser realizada ao início do rastreio, repetida um ano após, e depois de dois em dois anos até completar quatro exames.
A campanha de sensibilização da PULMONALE vem divulgar que o rastreio permite o diagnóstico em estádios precoces e consequentemente aumentar a sobrevivência e a qualidade de vida. Vamos colaborar.
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