A data foi instituída em 2015 com o objetivo de destacar o importante papel que as mulheres têm na produção do conhecimento científico e, simultaneamente, sensibilizar para a importância de derrubar as barreiras da desigualdade entre géneros no acesso à educação e carreiras, na área das ciências exatas.
De acordo com dados de 2020, em Portugal em termos globais já existem mais mulheres cientistas e engenheiras (52%) do que homens. No entanto, quando consideramos os lugares de decisão nestas áreas ainda existe um caminho a percorrer e espera-se que talvez só daqui a uma geração poderemos considerar a existência de paridade a este nível. Segundo o relatório “She Figures 2021”, elaborado pela Comissão Europeia, nomeadamente em termos da carreira académica, existe uma tendência decrescente nas posições de topo: 49,4% de mulheres ocupam cargos de grau C (professor assistente ou equivalente), 41,4% grau B e 27,2% nos quadros de direção de instituições de ensino superior. São ainda menos frequentes na liderança destes órgãos.
Quando penso no meu percurso pessoal e profissional reconheço que tive uma preparação e uma formação diferente do que seria comum na época e por isso nunca senti barreiras por ser mulher. Desde cedo, os meus pais fomentaram uma liberdade com responsabilização, sem limites por ser rapariga. Foi um privilégio, até porque acredito que muitos dos preconceitos que estão instituídos e ainda vão sendo transmitidos levam a que, por vezes, as mulheres se autolimitem e boicotem a si próprias.
A sociedade ainda exige mais das mulheres, ainda nos é exigido um esforço adicional para que sejamos reconhecidas, ainda temos de dar provas de que somos tão, ou mais, capazes que os homens, a quem é esperado que, mais naturalmente, se destaquem. É urgente que esta autolimitação deixe de pairar sobre as mulheres e que percebam que não estão sozinhas, as redes de apoio e de contactos são fundamentais. A maternidade, por exemplo, é ainda muitas vezes vista como uma limitação, pelo que é essencial que seja protegida e o apoio à natalidade mais transversal. E que os bons exemplos sejam partilhados e seguidos. Na Sanofi, existe uma aposta no equilíbrio entre géneros em todos os níveis de liderança, incluindo a representação de 50% das mulheres em cargos de Liderança Sénior.
Escolhi a Medicina para me desafiar e especializei-me em saúde pública. Cedo percebi que era fundamental não limitar os meus interesses à minha área de estudo e manter sempre uma visão alargada do mundo, com os horizontes bem abertos. No desenvolvimento do percurso individual de cada uma é importante que as raparigas e as mulheres nunca percam a curiosidade por saber mais, porque “o saber não ocupa lugar”. E é na procura constante, na capacidade de aceitar as oportunidades e avançar sem medo que vamos construindo o nosso caminho.
E neste percurso que me levou a diretora médica da Sanofi, tendo passado também pela área dos estudos clínicos, tem sido gratificante esta visão global, que me ajuda a crescer. Tenho tido o privilégio de compreender o real contributo da investigação para Portugal e o potencial crescimento do país nesta área. Sigo observando a importância de nos apoiarmos uns aos outros, nas quedas e nas vitórias, numa entreajuda que nos faz crescer a nós e a quem está connosco. E todos os dias percorro este caminho tendo sempre presente que nos devemos desafiar constantemente e que cabe a cada um de nós estabelecer os nossos próprios limites, convictos que eles só existem para que os possamos ultrapassar.
Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a ACTIVA nem espelham o seu posicionamento editorial.