Todas as mulheres já ouviram falar de menopausa, mas poucas sabem efetivamente o que pode implicar este processo. Este é um dos principais resultados subjacentes à tese de doutoramento que desenvolvi na área da menopausa. A ausência de conhecimento na pré-menopausa, aliado a outras crenças e comportamentos, pode realmente ter um impacto negativo na forma como esta fase é gerida e vivenciada.Menopausa e gestão de peso: Faltam conhecimento e estratégias de mudança
Esta informação é especialmente importante neste Dia em que se celebra a Menopausa, sobretudo porque há cerca de 2,5 milhões de mulheres portuguesas nesta fase do ciclo de vida caraterizada por alguma ambivalência, vulnerabilidade e sofrimento.
Além disso, há sintomas específicos associados à menopausa (e.g., sintomas vasomotores, urogenitais, psicológicos, aumento de peso) que podem também impactar a qualidade de vida e o bem-estar. No nosso estudo, mais de metade das mulheres portuguesas aumentaram de peso nesta fase; inclusive, muitas transitaram de um peso normal na pré-menopausa, para uma condição clínica, obesidade, na pós-menopausa.
As mulheres com obesidade na menopausa (o grupo onde as taxas de obesidade são mais incidentes) estão ainda mais suscetíveis ao desenvolvimento de determinadas doenças (devido à diminuição da produção de estrogénios), nomeadamente, doenças cardiovasculares, músculo-esqueléticas, cancro ou diabetes. Este aumento de peso não é, por si só, uma consequência direta da menopausa, sendo que existem vários fatores que podem impactar este fenómeno, nomeadamente, fatores pessoais (e.g., genética), fatores ambientais (e.g., local de trabalho) e/ou fatores comportamentais, especificamente a alimentação pouco saudável e o sedentarismo. E é sobretudo nesta área que nós, enquanto psicólogos clínicos e da saúde, podemos (e devemos) intervir.
Uma das primeiras premissas é perceber que existem determinadas crenças que precisam de ser exploradas, nomeadamente as barreiras à gestão de peso. No estudo que fizemos, a maioria das mulheres que aumentou de peso na transição para a menopausa reconheceu que a falta de conhecimento, as expetativas irrealistas ou a mudança no próprio comportamento alimentar (as mulheres referiram ter mais fome, mais prazer em comer e, inclusive, comer mais quantidade) eram barreiras a uma gestão do peso saudável nesta fase específica.
A partilha de informação credível e a psicoeducação (numa ótica multidisciplinar), a desconstrução de determinadas crenças associadas, juntamente com a implementação de estratégias de mudança comportamental, são essenciais.
A menopausa não é uma doença nem uma fase que tenha de ser vivida em extremo sofrimento; no entanto, muitas vezes, é isto que estas mulheres percecionam e experienciam. Cabe-nos a nós, profissionais de saúde, intervir, promovendo comportamentos de saúde e prevenindo comportamentos de risco, para que o processo de envelhecimento seja feito de forma adaptativa, positiva e saudável.
Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a ACTIVA nem espelham o seu posicionamento editorial.