São 10 horas da manhã quando o Gabriel chega ao jardim infantil São Jorge, em Alfragide. Mal passa a porta da entrada tira os sapatos, calça umas pantufas e apressa-se a ir ter com os colegas.
Há onze meninos na sala, todos com idades entre os três e os cinco. Até à hora do almoço o tempo é de brincadeira, e o Gabriel só tem de escolher o que lhe apetece fazer: há brinquedos de madeira, mas também pode desenhar com lápis de cera (não há canetas).
Outra hipótese é juntar-se ao grupo que brinca às casinhas a um canto. O ambiente é de alegre confusão mas a educadora Inês Carvalho nunca levanta a voz e quando um dos meninos se porta mal é com suavidade que o convence a ficar sentado à parte durante uns minutos.
“Nunca dizemos que estão de castigo, mas sim que vão descansar. A maior parte das vezes precisam apenas de ficar quietos um bocadinho para perceber que agiram mal”, explica. De resto, os gritos estão completamente ausentes deste método educativo, mesmo quando as crianças se mostram particularmente irrequietas. “Nesta idade eles absorvem tudo, aprendem fundamentalmente por imitação. Por isso, o comportamento e a energia de quem interage com eles é muito mais determinante do que explicações muito racionais e elaboradas”.
Imaginação ao poder
Esta atitude zen de Inês Carvalho é apenas uma das características da pedagogia Waldorf, fundada pelo alemão Rudolph Steiner em 1919 e introduzida em Portugal em 1984 precisamente neste jardim infantil.
No método Waldorf a educação é vista de forma holística e a criança como um ser espiritual. Não se cultiva precocemente o pensar abstracto e a vertente artística é enfatizada.
Os brinquedos são feitos de materiais naturais, como madeira e cortiça, para condicionarem o menos possível a brincadeira. Não há carrinhos de plástico ou barbies, apenas bonecas de trapos ou lã. O objectivo é que qualquer brinquedo se possa transformar em qualquer coisa através da imaginação.
Também se enfatizam os ciclos da natureza, o respeito pela terra e pelos os animais. Pretende-se um desenvolvimento livre e harmonioso, só possível com um ambiente acolhedor e pleno de aceitação. “Nesta fase eles aprendem sobretudo por imitação, é por isso que é tão importante que a educadora seja uma pessoa muito equilibrada”, afirma Inês Carvalho. É que é a ela que cabe conduzir as crianças abstendo-se de exigências ou autoridades. Em vez disso, recorre à persuasão e ao exemplo.
Almoços bio
Está quase na hora do almoço que será vegetariano e biológico. É tempo de arrumar os brinquedos, juntar as mãos e cantar. Os gestos contam a história de uma sementinha que se transforma em flor, uma forma de dar as boas-vindas à Primavera ao mesmo tempo que se acalmam os ânimos.
Neste momento o Jardim-de-infância São Jorge conta com seis crianças no berçário, 10 na creche e 11 no jardim-de-infância. Paula Martinez é a actual directora do espaço. “Não somos fundamentalistas nem queremos converter ninguém”, assegura. “É verdade que alguns pais têm receio da transição para as escolas normais, mas o certo é que nunca houve problemas, pelo contrário”. Apesar da completa ausência de competitividade e de não se estimular a aprendizagem da leitura ou escrita antes dos seis anos “as crianças saem com uma extraordinária capacidade de adaptação e aprendizagem”.
Reconhecida pela Unesco, a pedagogia Waldorf é o maior movimento pedagógico independente do mundo.
Contactos
– Jardim-de-infância São Jorge, Alfragide. Tel.: 214 711 920.
– Cooperativa de Ensino Verdes Anos, Monsanto. Tel.: 91 233 69 43.
– Harpa – Jardim do Monte, Alhandra. Tel.: 21 951 20 92.
– Jardim-de-infância Viva. Barão de São João, Lagos. Tel.: 282 761 786.