Começam a pensar em sexo. A querer sair sozinhos com os amigos. A fecharem-se no quarto. A passarem horas na Internet. A dizerem “não quero”, “não faço”, “não mandas em mim”. E agora, o que fazer? Fomos procurar as respostas nos testemunhos de vários pais e nos conselhos de uma psicóloga, Rita Antunes.
Paula, 50 anos
“Só pensa na aparência”
“Nunca tem roupa suficiente. Quer sempre mais umas calças ou um par de botas e é capaz de mudar cinco vezes de roupa antes de sair de casa! E pensar que, até aos 12 anos, a Inês era a miúda mais maria-rapaz de que me lembro. Agora, com 14, até tem um daqueles estojos de maquilhagem da Barbie.”
O que diz a Psicóloga: “Faz parte da adolescência os jovens quererem ser aceites pelos seus pares e, no caso das raparigas, isso passa essencialmente pela roupa. Negar-lhe isso é fazê-la sentir-se insegura – o que não significa que não deva conversar com ela sobre a questão da identidade não passar de forma alguma pelos aspectos exteriores. Mas isso será uma aprendizagem gradual. Até lá, estabeleça um montante mensal para ela gastar em roupas. O resto terá de vir da sua própria mesada.”
Luís, 41 anos
“Precisei de falar com ele sobre sexo”
“O meu filho mais velho, o Manuel, tem 13 anos. Comecei a vê-lo como adolescente quando ele iniciou as questões sobre raparigas e sexo. E não foi o assunto em si que me assustou, mas o facto de ter constatado a falta de informação de natureza sexual que os jovens recebem na escola. Por exemplo, houve um dia em que o Manuel veio ter comigo e me perguntou “pai, como é que se usa um preservativo?”. Pensei que tinha de resolver aquilo da forma mais natural possível e disse-lhe “antes de mais, vamos comprá-los!”. Ficou em pânico, muito atrapalhado, mas lá foi atrás de mim até a um hipermercado onde os comprei, com ele ao meu lado, corado como nunca o vi. Depois, cheguei a casa, peguei numa banana e mostrei-lhe.”
O que diz a psicóloga: “Parece-me uma óptima opção a deste pai. Tratar o assunto com naturalidade, não contornando as questões, é a melhor forma de lidar com as questões dos jovens sobre sexualidade.”
Luísa, 43 anos,
“Lá veio a necessidade de afirmação de autonomia”
“O meu filho tem 14 anos e desconcerta-me: por um lado, consegue fazer as coisas autonomamente, demonstra capacidade de lidar com as situações mais delicadas com as raparigas e com os colegas da escola, é desembaraçado, mas esses episódios são cruzados com momentos em que ainda precisa de colo da mãe e de carinhos como se tivesse 8 anos de idade.”
O que diz a psicóloga: “A formação da personalidade decorre ao logo de anos. É comum o adolescente sentir-se dividido entre aquilo que considera ser a sua função social – ser crescido – e os apelos emocionais. Compete aos pais nunca se esquecerem que ele ainda precisa, e vai sempre precisar, de carinho e atenção. Lá porque é adolescente não deixar de precisar do afecto dos pais. É preciso que eles o demonstrem com beijos e abraços. O que não significa assumir decisões e responsabilidades que tem de ser o jovem a tomar. Os pais devem é dizer-lhe: “é a tua escolha, estamos aqui para te apoiar.”
Margarida, 39 anos
“É totalmente irresponsável”
“A Catarina tem agora 15 anos e, por vezes, faz imensos disparates. Por exemplo, é irresponsável, anda sempre a perder o telemóvel e as chaves de casa e nunca faz a cama! Como é que lido com isso? Bem, acho que o carinho e alguma compreensão são sempre componentes essenciais, mas uma mãe não é de ferro e por vezes zango-me mesmo com ela.”
O que diz a psicóloga: “ O melhor é dizer-lhe “o quarto é tua responsabilidade, mas o resto da casa quero cada coisa no sítio. Tens de te responsabilizar pelo teu espaço e pelas tuas coisas. A pior coisa é gritar, espernear e depois ir arrumar-lhe o quarto de alto a baixo. O mesmo com o telemóvel: se perdeu o de última geração que tanto quis, fica com um velhote que anda lá por casa para desenrascar. O adolescente compreender que as suas acções têm consequências que vão muito alem dos gritos da mãe é uma estratégia muito mais eficaz.”
Tomás, 45 anos
“A provocação está sempre lá!
“O meu filho adora provocar-me: portar-se mal à mesa, arrotar em público, enfim, tudo o que sabe que me deixa doente. Sei que isso é feito com o intuito de me provocar e chamo-o à atenção, o que não exclui uns ralhetes quando necessário e mesmo uns puxões de orelhas, quanto mais não seja para continuar a lembrar-lhe quem é que manda. Os castigos são praticamente inexistentes. Os problemas tratam-se na altura e não mediante restrições que se estendem por vários dias criando unicamente um mau ambiente e uma atitude negativa para quando se fez alguma asneira.”
O que diz a psicóloga: “Este pai toca num ponto fundamental: castigar por castigar, a torto e a direito, retira o efeito do castigo, principalmente quando não acontece no momento certo. Apenas enfraquece a confiança entre pais e filhos.”
Carlos, 40 anos
“A Internet é uma dor de cabeça”
“Com uma filha de 15 anos, a Mariana, é claro que surgem problemas novos ao nível da internet, em que se cria um mecanismo de comunicação muito fechado e no qual tenho de entrar por vezes através de meios menos próprios (como software de monitorizacão da actividade), mas na minha opinião totalmente justificados para manter um adequado controlo e evitar eventuais problemas com predadores virtuais. Não me sinto culpado por fazê-lo.”
O que diz a psicóloga: “Monotorizar é preciso, apesar de aqui entrarem em questões como a da confidencialidade. Uma coisa é aceder ao histórico de páginas visitada, outra, de evitar, é saber quais as conversas que ele manteve no Messanger. Também ele tem direito à sua privacidade. Porém, alertá-lo sobre os comportamentos de risco e de segurança é um passo que nenhum pai pode deixar em claro.”
Anabela, 44 anos
“Quer sempre discutir as horas de chegada”
“Eu digo meia-noite. Ela torce o nariz e diz que a amiga não tem hora de chegada. Parece que a Carolina, que tem agora 15 anos, faz aquilo só mesmo para me irritar. Antes, gostava era de ficar em casa a ver um filme. Agora, só lhe interessa sair à noite com as amigas. Muitas vezes, terminamos a discutir e eu a dizer “não vais”.”
O que diz a Psicóloga: “É preciso chegar a um consenso, a uma espécie de contrato, porque faz parte desta etapa da vida do jovem ele misturar-se com o seu grupo de pares, Não a proíba ou estará apenas a dificultar o desenvolvimento das competência sociais e roubar-lhe defesas para enfrentar o mundo exterior. Antes disso, negoceie.”
Marta, 48 anos
“Chegou a casa alcoolizado”
“O Gilherme sempre foi uma criança que nunca deu problemas. Era bom aluno, mas não ‘marrão’, gostava de jogar à bola e estava sempre pronto a ajudar. Sempre conheci os seus amigos e por isso, quando começou a sair com eles sozinho, não levantei problemas. Até ao dia, tinha ele 16 anos, em que o vi chegar a casa claramente alcoolizado. Chamei-o à sala e confrontei-o, mas ele virou-me costas e fechou-se no quarto. No dia seguinte, deixe-lhe um sermão.”
O que diz a psicóloga: “Antes de mais, deixe-o ir dormir. Não estará em condições de ter uma conversa com pés e cabeça e apenas vai aumentar o stress e a ansiedade dos pais. No dia seguinte, aborde-o sem rodeios sobre o assunto e fala-lhe sobre os malefícios do álcool. Tente perceber porque o fez: se para experimentar novas sensações, se por pressão do grupo.”
Margarida, 40 anos
“Teve uma amiga que era uma péssima influência”
“Os problemas com a adolescência da Carla começaram, quanto a mim, no dia em que ela conheceu a Magda. Andavam no sétimo ano e rapidamente se tornaram as melhores amigas. Até que me comecei a aperceber de pequenas mudanças na minha filha. Apanhei-a a mentir, a dizer que tinha estado em casa a estudar durante a tarde, por exemplo, quando a minha mãe passara por casa e não a encontrara a ela. Um dia, em que supostamente ela estava em casa da Carla, foi ao café e encontrei-a na esplanada, maquilhada e vestida de uma forma como nunca vi e rodeada de rapazes mais velhos. Fui ter com ela e levei-a por um braço para casa.”
O que diz a psicóloga: “Este é um período de vulnerabilidade e nem todos temos o mesmo tipo de personalidade. Com os adolescentes é o mesmo, e alguns são mais permeáveis a terceiros. Não há ninguém a culpar, mas como mãe deve intervir e, inclusive, mudar de escola pode ser uma opção para afastar uma má influência. Por fim: nunca se deve fazer nada que humilhe o adolescente em público, principalmente se estiver com amigos.”