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Em cada dois casamentos, um acaba em divórcio. No ano passado, houve em média 72 divórcios por dia. São números bombásticos, confirmados pela nossa vida de todos os dias. Ainda existe a tendência ‘tradicional’ que diz que são as mulheres que rompem. Mas, ultimamente, assiste-se também a ruturas masculinas na faixa dos 30, em que elas são apanhadas de surpresa. Fui portanto procurar um dos meus gurus, a terapeuta de casal Margarida Vieitez, diretora do Espaço Família, que todos os dias, há anos, ouve as desgraças de casais que com ela desabafam. Expus-lhe o meu fardo alheio de relações destroçadas, principalmente o caso dos desertores de 30 anos. “São homens que já passaram por muitas experiências, e estas influenciaram a forma como se comportam”, explica Margarida. “Envolverem-se sexualmente não é problema, mas têm muito medo de se envolver emocionalmente e de se magoarem outra vez.”

Então, mas essa ‘crise dos 30’ não corresponde a uma segunda adolescência em que eles percebem que estão a perder 68 milhões de outras mulheres e entram em pânico? “O homem continua predador, adora a adrenalina da conquista. Depois da paixão, as mulheres arrumam a relação ao lado da casa e do carro, e eles já estão noutra.”

Pronto, está explicado, é a adrenalina, posso-me ir embora? Hmmm. A Margarida não desiste com essa facilidade. “Esses homens que andam a saltar de relação em relação, ou de frustração em frustração, sentem-se muito inseguros emocionalmente. Porque também não é isto que eles querem, esta frustração permanente.” [ai coitadinhos] “E passado um, dois, três anos de segunda adolescência, de andarem com várias pessoas, isso pode fazê-los deixar de acreditar no amor.” Conta-me o caso de um homem de 50 anos que gosta imenso de uma mulher com quem namora há três anos. Passou por um casamento longo que o marcou profundamente porque foi traído. Neste momento, ela quer casar-se porque tem 40 anos, e ele está a viver o maior dilema da vida dele, porque não quer ter mais filhos e tem muito medo de se envolver outra vez.

“Eles chegam a uma idade que não querem mais compromissos, chatices e problemas. Uma relação pode ser ‘um problema’. E quanto mais velhos são, mais medo têm. Para já, têm imenso medo de serem traídos!”

Eles ainda querem ser heróis

Entregarem-se a outra pessoa implica serem vistos como são, com as suas falhas e os seus defeitos, e eles não querem isso: “Claro. Eles são heróis! [ri] Foram educados para isso, e têm muito medo que a mulher deixe de os ver assim.” Não se pode ter uma relação com alguém e permanecer um herói? “Claro que não, porque é uma máscara que, mais dia menos dia, vai cair. Eles não querem entregar-se porque são frágeis, não sabem lidar com as emoções, fogem de tudo. Homens e mulheres são muito diferentes, e estão a distanciar-se cada vez mais porque não conseguem perceber essas diferenças. E, depois, sentem-se ambos sozinhos e carentes, o que piora as coisas.”

Muitas vezes, o casal desavindo não se separa. Por várias razões deixam-se ficar fisicamente juntos, mas mantendo relações paralelas com outras pessoas. “Para muitos homens, estas relações paralelas funcionam como balões de oxigénio”, explica Margarida. Já estão a imaginar os equívocos que estas situações podem criar. A pessoa com quem eles têm essas relações ‘de oxigénio’ pode criar expectativas que eles não têm intenção de cumprir. “A maioria não sai do casamento”, nota Margarida. “Imagine que alguém entra num desses balões de oxigénio e começa a envolver-se até estar perdidamente apaixonado: mesmo assim, eles não saem do casamento, porque não têm coragem!”

Voltar para a ‘ex’

Ora bem, imaginemos que o homem sai de casa (ou é posto fora…): rapidamente arranja uma substituta. E rapidamente a substitui por uma segunda. Depois disso, “alguns até voltam para a ex enquanto não encontram outra”, nota Margarida. “Quando eles voltam para as ex, na verdade estão a voltar para a mãe! Empregada/mãe! Não são capazes de se aguentar sozinhos. É muito cómodo, e como têm um enorme sentimento de culpa em abandonar a mulher ou os filhos, facilmente voltam. E elas aceitam-nos, sim. Até que eles lhes deem outra vez um pontapé, porque a maioria destas relações de volta não resultam: a confiança está quebrada, o respeito muitas vezes também, perdoar uma traição não é fácil, e cada discussão será um reacender do passado.”

Então, e que futuro é que prevê para esta negra comédia de enganos? “Ou aprendem a entender-se ou daqui a uns anos vamos estar todos a viver separados em casas diferentes. As pessoas estão cada vez mais descrentes de que é possível encontrar uma relação onde se sintam bem.” Porquê? “Porque não fazem nada para isso.” ´

Completamente alienados

Ai… De repente lembro-me daquela frase que o Solnado costumava dizer, ‘neste país todos querem ser Camões, mas ninguém quer ser zarolho’: as pessoas querem as coisas boas de uma relação mas ninguém quer fazer nada para isso.

“Não, nada”, confirma Margarida. “Não lutam, não se esforçam, não investem na relação, não fazem nada. Imagine que aos homens tenho que lhes ensinar a surpreender as mulheres! Digo-
-lhes o que é que hão de fazer, e eles ficam pasmados, porque não percebem qual é o objetivo! Se eu lhes pergunto de que é que a mulher gosta, não fazem ideia. Um deles lá disse uma vez que a mulher gostava de flores. Então leve-lhe um ramo, disse-lhe eu. Na consulta seguinte, perguntei-lhe: ‘Então, ofereceu flores à sua mulher?’ Não, não tinha oferecido nada. Uma coisa tão simples…”

É porque têm medo de fazer figuras tristes? “Não. É porque são completamente tapados. Acham que não é preciso, que é uma superficialidade, que é um romantismo inútil.”

O problema é a base de raciocínio. Os homens são criaturas racionais, e o raciocínio deles é lógico: temos uma relação, ponto. Está lá, e não têm que fazer nada para isso. “Só fazem alguma coisa quando elas começam a falar de divórcio. Aí, eles ligam as antenas, mas também fazem muito pouco, porque não sabem e não estão habituados. Quando elas batem mesmo com a porta, aí é que eles acordam. E não percebem porquê! Quando elas andaram anos a dizer preciso que venhas mais cedo e que me dês mais atenção, eles não ligaram nenhuma. E depois perguntam porquê! Andam completamente alienados.”

A linguagem do amor é feminina

Outro problema: eles têm muita dificuldade em falar sobre afetos. “A linguagem do amor é dominada pelas mulheres”, nota Margarida. Mas eles não a dominam porque é uma ‘arte’ recente no mundo masculino, não é? Só há pouco tempo é que se espera dos homens que compreendam as mulheres: “Eles já não sabem qual é o papel deles. Elas dizem ‘ou me fazes sentir amada ou não te quero’. E eles ficam perdidos. E, portanto, fecham-se como o caracol, ou vão tendo relações umas atrás das outras, que não lhes exigem nada mas que também não lhes dão nada.”

Há quem seja ainda mais duro: ‘Os portugueses são analfabetos sexuais… e emocionais’ é o bombástico título do livro de Manuel Damas, presidente do Centro Avançado de Sexualidades e Afetos. “Os portugueses têm cada vez mais receio das emoções e dos afetos. Ouvir dizer ‘amo-te’ hoje em dia assusta. Mas asfixia muito mais a suposta obrigatoriedade de ter de o dizer, e geram pavor os condicionalismos que se supõe estarem implicados.”

Amar é visto como complicado, “basicamente, porque dá trabalho, preocupações, dúvidas, mágoas, desistências”. Implica “frontalidade, capacidade negocial, veracidade, franqueza, diálogo”. Problema: todo o diálogo exige saber ouvir. “Logo para o português, que, acima de tudo, gosta de falar e pouco de ouvir, ainda por cima de forma atenta.” E se não estamos dispostos a perder tempo com o outro, a parte sexual, obviamente, não pode funcionar bem: “O português acha-se o campeão do engate e ai de quem se atreva a duvidar e, acima de tudo, a expor minudências… mas a mulher portuguesa é, muitas vezes, mal amada. O português tem medo de não ser capaz, de ser um incompetente em termos afetivos, mas, acima de tudo, tem sérias dúvidas e inseguranças, jamais confessadas, no campo das sexualidades.”

que querem os homens?

Resumo: “Somos, efetivamente, analfabetos emocionais. Porque não sabemos construir relações afetivas. Porque temos receio dos relacionamentos. Porque temos medo do fracasso e, acima de tudo, temos pavor da traição.”

Margarida concorda: “Eles têm imenso receio de serem traídos, porque acham que as mulheres são dissimuladas. Para se envolverem, preferem uma amiga, que já conhecem e em quem confiam.”

Andamos todos a enganar-nos uns aos outros. “Eles não percebem o que as mulheres dizem. Elas a eles percebem-nos melhor, mas também têm dificuldade. E passam a vida a dar um ao outro aquilo que querem para si próprios! Enquanto isto acontecer, vão continuar separados…”

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