1 – Seleccionar alvo – Os melhores príncipes são os dos reinos do norte. São mais descontraídos, não tem de ter lições de protocolo durante dez anos, e a sogra não vai ao seu palácio todos os dias endireitar-lhe os quadros de cavalos. Desvantagem: tem de aprender sueco ou qualquer uma dessas línguas que parece que se está com vontade de vomitar ou num filme do Ingmar Bergman ou as duas coisas. Aqui ao lado, agora que o Felipe nos enganou com outra, já só resta a geração seguinte. O mais velho parece que só tem 10 anos, mas se a diferença de idades não a incomoda, pode começar a aprender castelhano.
2 – Ser loira – Verdadeira ou falsa não interessa, porque nenhum homem, mesmo que seja príncipe, dá pela diferença. Ser magra, por muito que nos custe, é ainda mais importante do que ser loira. Se se for gorda, só pode casar casar com um príncipe se já de si for princesa, porque todas as plebeias são obrigadas pela Imprensa a pesar 48 quilos. Se não pesar 48 quilos, todas as semanas vão aparecer fotografias tremidas da sua barriga nas revistas cor de rosa durante o seu fim de semana nas Maurícias com uma seta a apontar para a barriga e a legenda: “A princesa pode estar grávida!”
3 – Infiltrar-se na televisão – Até conseguir apresentar telejornal. Para o povo, apresentar um telejornal é a mesma coisa que ser princesa e os príncipes hoje em dia gostam de provar que são capazes de se comportar como povo. Se não conseguir infiltrar-se na televisão sueca ou luxemburguesa e vomitar notícias em estrangeiro, desalojar choninhas de serviço no telejornal. Desalojar o Rodrigo Guedes de Carvalho não se aconselha porque ele é maior do que nós.
4 – Ser esperta – Convém decorar umas coisas inteligentes para se dizer em jantares, tipo: “O Executivo arrisca-se a protelar a divulgação da sua proposta de revisão do Código de Trabalho”, mesmo que não queira dizer nada.
5 – Ter cuidado com a roupa – Não usar t-shirts com dizeres do tipo: ‘Boa Comó Milho’. Aliás, o ideal é não usar t-shirts fora da hora de jogging. T-shirt só pode usar se for Chanel e disser qualquer coisa a começar por: ‘solidariedade com as vítimas de’ ou ‘corrida contra o cancro/racismo’.
6 – Dar-se com as pessoas certas – Se continuar a ir beber umas cervejolas e comer percebes a casa do Zeca, é pouco provável que encontre um príncipe.
7 – Nascer para isso – Se não lhe chamavam ‘princesa’ quando tinha quatro anos e hoje em dia é capaz de passar sem um estremecimento de alma pelo corredor cor de rosa dos hipermercados, é capaz de vogar sem parar diante das coroas de plástico, das asas cor de rosa e dos tamancos de lantejoulas, esqueça. Não só não nasceu para o ofício como não é digna dele.
8 – Ter um avô merceeiro e/ou taxista – Fica sempre bem nas fotos de família para provar que a Casa Real é democrata e gosta de se misturar com o povo, isto se não sacar um príncipe inglês onde acham que se fez de propósito e se está a gozar com eles, e portanto tentam por todos os meios fazer desaparecer o avô merceeiro para dentro da arca frigorífica dos repolhos ou atirar o avô taxista por uma ribanceira.
9 – Comprar uma escova eléctrica – Daquelas que aspiram o cabelo até ficar completamente liso. Ninguém pode ser uma princesa com ar de quem participou no casting para o ‘Lost’.
10 – Destruir Passado Comprometedor – Livrar-se daquelas fotos eróticas que o seu último namorado lhe tirou, aquelas em que está vestida de coelhinha com uma cenoura na boca, e aquelas que se infiltraram na net ninguém sabe como. Basicamente, destruir tudo o que não queira ver estampado nas páginas de todas as revistas, de Lisboa ao Burundi. Se não se importa que o rei do Burundi veja as suas fotos vestida de lingerie comestivel avance, mas só vai encontrar um daqueles príncipes bananas que vão transmitir genes banas aos filhos (os genes bananas, como se sabe, são sempre dominantes). Além disso, arrisca-se a que o senado o faça desistir do trono, caso em que todo o trabalho terá sido em vão, porque terá nas mãos um banana igual a oitocentos mil bananas por esse mundo fora, com a gravante de falar qualquer coisa nórdica e com pouca sorte ainda usar touca de rendinhas e socas e cantar a Heidi nos momentos íntimos.