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Quando falamos de ciúme entramos num território pantanoso.
É bom ter ciúmes? É mau sinal não os sentir? Quando é que é de mais? E de menos? Neste domínio, as respostas estão longe de ser exactas. Deixamos-lhe aqui algumas dicas, mas tenha sempre em mente que, se t udo o resto falhar, a melhor ar ma ainda é o bom senso.
A forma como o ciúme é encarado tem variado ao longo dos tempos. E se antes era tão tolerável que justif icava acções extremas, como a violência doméstica até 1852 a lei portug uesa autorizava o mar ido a bater na mulher e o Código Penal de 1886 considerava o adultério da esposa atenuante do homicídio, nos tempos que correm é cada vez menos bem visto. Segundo a socióloga Sofia Aboim, ‘a reputação do ciúme tem vindo a piorar, porque vai contra o valor d a confiança e a noção tão em voga de ‘relação const ruída’, u ma vez que é uma emoção que põe o casal em risco’.
O problema é que sem ponta de ciúme uma relação também não tem muita graça: ‘Até certo ponto, ele confere ‘sal’ ao relacionamento.
Não ter ciúmes também pode ser sinal de u m recalcamento ou de que a pessoa não se permite viver os sentimentos’, explica a psicóloga Cristina Freire. O barómetro deve ser a ansiedade que o ciúme provoca.
Se esta perturba o quotidiano do casal e se o ciumento não consegue sequer admitir que o é, então podemos estar perante um cenário preocupante.

TRAUMAS DE INFÂNCIA

Porque temos ciúmes, afinal? A terapeuta Cristina Freitas aponta algumas pistas: ‘O ciúme reflecte sempre um problema mais vasto, que ultrapassa a relação a dois e pode reflectir-se noutras áreas da vida, como as relações interpessoais, de trabalho ou de amizade. Geralmente está ligado à forma como lidaram connosco quando éramos pequenos. Pode ter surgido um irmão que reclamou a atenção dos pais e nos tornou inseguros do nosso valor ou qualquer outro problema que deixou marcas na auto-estima e um vazio que faz com que seja difícil acreditar que alguém possa gostar de nós’, explica Cristina Freitas.
Estas crenças têm um efeito duradouro e podem ser despoletadas pelas coisas mais irrisórias, como o facto de um colega de trabalho recusar ir tomar um café.
Mesmo com justificações perfeitamente lógicas, o ciumento interpreta esses acontecimentos como uma rejeição.
‘É um desgaste de energia terrível.’

OS LIMITES
Quem vive com um ciumento está longe de ser apenas um a vítima.
É que inicialmente pode ser muito bom estar com alguém assim: ‘Eles dão-nos a ilusão de que somos amadas, de que lutam por nós’, lembra Cristina Freire.
Claro que, com o tempo, pode tornar-se uma chatice e um sofrimento enorme, que nos casos mais extremos pode levar à violência física. A solução: sair. Afinal, porquê viver no masoquismo? ‘Porque os ciumentos podem ser muito sedutores e a relação sexual pode ser muito gratificante. E isso acaba por arrastar a relação no tempo.’ Está explicado.
Mas há mais. Quem atura os ciumentos tem por vezes os mesmos problemas de auto-estima dos parceiros.
Temos tendência a tratar o cônjuge como nos trataram a nós, e quando se convive com um ciumento delirante está-se a viver num registo que se conhece bem: o dos maus-tratos. ‘Tem-se a sensação de estar a reabilitar a relação com a mãe ou o pai que nos negaram afecto, porque, ao mesmo tempo, há uma esperança de reparação. A diferença é que o cônjuge faz amor con nosco e diz-nos que somos especiais, o que os nossos pais não faziam. E as pessoas saboreiam isto de uma forma narcisista.’ Se se revê neste ciclo, saiba que não há a mor que floresça neste tipo de condições.

OS EFEITOS NA RELAÇÃO

O ciúme não escolhe classes económicas ou sociais e pode ter efeitos devastadores no casal.
Na melhor das hipóteses, chega-se a uma encruzilhada, na pior, a um beco sem saída. Mas há vários tipos, com diferentes graus de gravidade. Assim, no ciúme fusional, os ciumentos dependem tanto do parceiro que acabam por viver amores dependentes. ‘Isto nos casos mais saudáveis, porque nos delirantes o ciumento já nem sequer ouve e i nve nta histór ias mirabolantes.’ Apesar disto, note-se, mantém a relação (esta é a part e doentia) porque precisa dela. Na verdade, está viciado na vivência desta dicotomia amor-ódio.
Há também o caso do ciúme projectivo, quando, por exemplo, ‘a mulher sente ciúmes e imagina que o parceiro quer estar com alguém quando é ela que quer estar com outra pessoa. Inconscientemente, projecta no outro sentimentos e desejos que, na verdade, são dela’. É o seu caso? Vale a pena reflectir.

É MUITO OU POUCO CIUMENTA?
Do mais insignificante até ao estilo psicótico, confira o grau do seu ciúme ( e o do seu parceiro ) com a ajuda da psicóloga Cristina Freire.

NORMAL
É o tal ciúme que é bem aceite, que mantém viva e que a pimenta a relação.
‘Sem ele, parece que há um desafecto grande, que não somos importantes o suficiente, e isso também não é uma coisa construtiva e com valor de sobrevivência para a relação.’ Neste tipo de ciúme existe um medo extremamente grande de perder a pessoa amada. Sim, parece óbvio mas nem sempre é assim, como vai ver no caso do ciúme delirante.

PATOLÓGICO
Aqui, o grau de ansiedade j á é gr a nde. O ciumento pode ter noção de que tem um problema , mas não consegue controlar-se e volta sempr e a fazer o mes mo. ‘Nes tes casos sofrem muito os doi s, p orque há alturas em que conseguem fa la r d o assu nto mas parece que não adianta nada.’

DELIRA NTE
É quando o ciumento nem seque admite que tem ciúmes.
Não há momentos de lucidez. O medo já não é de perder a pessoa amada mas sim de perdê-la para outrem: o que está em causa é o sentimento de rejeição. Se não fosse com aquela pessoa, ser ia com outra qualquer.

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