- Já tinham uma boa relação antes das férias?
Pronto, isto é básico. Se passaram quinze dias a discutir porque um queria ir para Bora-Bora e o outro queria Alfornelos, e quase acabaram por causa disso; se a coisa já estava tremida porque ele chega todas noites às 11h e vai pôr-se a regar tomates no Farmville enquanto ela fica a ver repetições da ‘Anatomia de Grey’; se só aguentaram até às férias porque pensaram assim: ‘É só stresse, pode ser que com um bocadinho de sol e mar a coisa se componha’. Se só um deles é que pensou assim porque o outro andava nesse momento a arrastar a asa à Geninha (ou ao Geninho) do Marketing e a pensar. “Mas que seca, tenho de ir de férias com a patroa/patrão’ (depreende-se que em sentido figurado). Se acharam que 15 dias a olhar um para o outro iam fazer o milagre do tempo e recuar até à altura em que tinham 18 anos e andavam no paredão de mão dada a chocar com todos os outros paredanenses e davam beijinhos em todos os semáforos (isto pode ter sido há duas semanas)…
Conclusão: Se calhar é melhor pensar duas vezes antes de ir de féria com aquela pessoa
- Vão levar alguém com vocês?
Se vão levar algum destes items com vocês: criança com menos de 15 meses e mais de 15 quilos de tralha acoplada; criança com predisposição para se enterrar na areia até ao pescoço e afogar-se em todas as piscinas; criança com predisposição para se barricar no hipermercado porque queria gelado de bacalhau e não há; qualquer tipo de criança; qualquer tipo de sogra; qualquer tipo de cão; amigos melgas daqueles que querem fazer tudo em grupo; amigos daqueles que nunca estão quietos e visitam quatro pirâmides aztecas de manhã e três túmulos egípcios de tarde; aquelas pessoas que atraem desastres e que mal chegam à vivenda que alugaram juntos já torceram o tornozelo na escada em caracol e depois passam a tarde a protestar que não queriam dar tanto trabalho…
Conclusão: O melhor é irem os dois sozinhos
- Vão os dois sozinhos?
Pode ser o melhor e o pior dos tempos. Aqui depende do sítio para onde vão: se houver alguma animação, museus para ver e excursões para passear, têm mais hipóteses de não se comerem (vivos) e sempre podem passar os serões a comparar fotografias e a dizer mal do guia. Agora se a única fonte de diversão de um é o outro, tenham medo. Tenham muito medo. Ao fim do primeiro dia já esgotaram todas as posições do kamasutra, ao fim do segundo já leram todos os livros que traziam, ao fim do terceiro, em desespero, foram fazer uma daquelas massagens para casais, depois zangaram-se porque ela achou que ele fazia muita converseta com a massagista, que é tailandesa e tudo e se chamava qualquer coisa que em tailandês significa Rosa da Madrugada, e ela refila que ele já não lhe liga porque se chama Maria de Fátima, se se chamasse Rosa da Madrugada em tailandês outro galo cantaria, ele amua e vai para a praia sozinho, ela amua e vai para a praia sozinha, é pena é a praia ser a mesma, ele a mandar mailes ao chefe a perguntar se não estão soterrados em trabalho e não precisam de uma mãozinha, ele a falar ao telemóvel com a melhor amiga a dizer-lhe que devia era ter casado com o Paulinho da contabilidade, e ainda faltam 12 dias!
Conclusão: A não ser que estejam em lua de mel (e mesmo assim…), é melhor levarem umas excursões planeadas.
- São flexíveis?
Não quer dizer que cheguem com as mãos aos pés. Quer dizer que não são o tipo de pessoa que no avião já vai a dizer que está muito calor e se não se podia abrir uma janela e que os auscultadores não funcionam e que já viu cinco vezes o filme do ‘Mr Bean’, no hotel a primeira coisa que diz é que não é nada como a fotografia que vinha no site, e que o quarto está quente, e que a piscina está fria, que o bangaló tem mosquitos, e que a almofada não é como a que têm em casa, e que a terra fica longe, a praia é suja, as pessoas são antipáticas e o peixe tem espinhas.
Conclusão: A não ser que refilem os dois das mesmas coisas e amuem em solidariedade, a coisa fica difícil de levar.
- Vão de comum acordo?
Se ele queria ir para Amsterdão porque sempre quis visitar o Bairro Ver – a casinha da Anne Frank, e ela quer ir para Vila do Bispo para casa da tia Zulmira que não a vê há dez anos e já disse que lhe deixava o cão de loiça da entrada se ela lá fosse passar as férias. Se ele queria aproveitar para ir a Nova Iorque só para chatear o Bin Laden e ela queria ir para as Antilhas francesas para o chatear a ele, se ele prefere o norte porque há mais surfistas e ela prefere o sul porque nas praias lá de cima se esqueceram de ligar o esquentador, e se ainda não lidam muito bem com estas diferenças, pode dar em discussões logo no primeiro dia, daquelas a propósito de nada, só porque o taxista se enganou no caminho, a tia Zulmira já partiu o cão ou o dia afinal deu em chuvoso, e alguém atira logo “Eu bem sabia que nunca deviamos ter vindo para cá!”
Conclusão: Vão uma semana para um lado, outra semana para outr
- Gostam de fazer as mesmas coisas?
Se ele é um vampiro e ela uma sereia, se ele gostava mesmo era de ficar em casa a jogar ‘Dungeons and Dragons’ e ela não acha que está de férias se não ficar 24 horas ao sol com dois nativos vestidos de nativos a servirem-lhe daiquiris à beira da piscina, se ele quer acabar os ‘Prolegómenos a Toda a Metafísica Futura’ e ela quer descer o Sado de caiaque soltando gritos de alegria, se ele quer caçar leões e ela quer caçar recuerdos, se ele quer fazer meditação num mosteiro passando 15 dias de pernas cruzadas a entoar mantras e a comer lentilhas biológicas duas vezes por dia e ela quer ir ao Lago Como ver se avista o George Clooney e o afasta daquela italiana manhosa com que ele a anda a enganar…
Conclusão – Ou vai cada um para seu lado e amigos como sempre, ou vai cada um para seu lado e começam a tratar do divórcio, ou ele vai ler os Prolegómenos para debaixo do chapeú de sol e ela vai fazer caiaque na banheira.