“Se não comes o bife, não há sobremesa”
“A comida não deve ser um castigo nem uma recompensa”, nota Paula Veloso, nutricionista e autora de vários livros de cozinha para crianças e para toda a família. “A sobremesa devia ser fruta, mas nem sempre é. Geralmente é doce, e é mesmo vista como uma recompensa… A refeição deve ter 3 componentes: sopa, que é essencial, prato com um bocadinho de proteína, hidratos de carbono e legumes (se as crianças comerem a sopa não é assim tão importante que comam muitos legumes no prato), e fruta.”
“Não sais da mesa antes de comer tudo o que tens no prato”
Ninguém deve ser obrigado a comer nada. “Se não come a sopa, come o prato, e se não come o prato come a fruta, mas se não comer fruta não come mais nada, e terá fome na próxima refeição, que é o que se pretende”, defende Paula Veloso. “As mães têm muito medo que as crianças morram de fome de uma refeição para a outra e portanto dão-lhes tudo o que elas querem, o que é um erro.”
“Se eu não te obrigasse, não comias nada”
“Isto é um disparate: nenhuma criança saudável e com comida à frente alguma vez morreu de fome”, afirma a nutricionista. “Claro que as crianças percebem perfeitamente que a comida é uma arma, e usam-na para manipular a família e para ter atenção.” Como prevenir: “Pôr pouca comida no prato, porque as crianças quando veem muita comida tendem a rejeitá–la. Nem sabem por onde é que hão de começar e aquilo aflige-as. O facto de as obrigarem a comer também faz com que o estômago dilate. E eles vão exigindo doses cada vez maiores, de que não precisam para nada.”
“O teu irmão já acabou e tu ainda aí vais”
“As crianças são todas diferentes, há quem tenha mais apetite do que outros, tal como também há alturas em que têm mais fome do que noutras, que também acontece connosco. Mas nós temos controlo sobre o que comemos e eles não. A porção que está no prato da criança foi a mãe que a pôs lá. Portanto, logo aí ele está a ser controlado por uma vontade que não a dele. Claro que uma mãe gorda terá tendência a encher o prato de comida, quando uma criança precisa de muito menos comida do que pensamos. Até nós precisamos de muito menos comida do que pensamos. Se uma criança tem falta de apetite, deve comer mais vezes em menos quantidade.”
“Toma lá o Ipad, para ver se comes melhor”
A refeição ideal seria sem distrações, um momento de partilha com a família. Mas a falta de apetite das crianças acaba por transformar um momento que devia ser agradável numa batalha campal já antecipada: “A criança já sabe que aquilo vai ser um stresse e vai para a mesa enervada”, diz Paula Veloso. Portanto, os pais fazem tudo para a ter distraída. E como todas as mulheres sabem, comemos muito mais… em frente de qualquer ecrã. “Chegamos a casa e pomo-nos a tratar da roupa e do jantar, e a certa altura estamos a comer bolachas e nem damos por isso… e com as crianças e a televisão (ou o Ipad) acontece a mesma coisa.” Por isso, desligue a televisão. E coma longe do Ipad.
“Não te dou legumes porque tu nunca comes”
“Não gostar de uma coisa ou outra é aceitável. Toda a gente tem uns ‘desgostos’. Mas se eles não comerem legumes, comam sopa, pelo menos”, aconselha a nutricionista. “Eu já sou avó, e uma coisa que disse sempre aos meus filhos foi ‘Prova ao menos uma vez’. E isso sempre funcionou. Claro que das primeiras vezes há aquele orgulho infantil em que não gostar é uma questão de honra (risos). Mas se a pessoa for dando aquele alimento, eles na maioria das vezes acabam por comer.”
“Despacha-te!”
“É preciso tempo e sossego para comer. Se repararmos, nos restaurantes gourmet come-se pouco. Porque a visão importa: põe-se poucas doses para a pessoa reparar nas cores e nas texturas. E no entanto no fim da refeição sentimo-nos satisfeitas. Porque estamos a prestar atenção, aquilo é caro, e desfrutamos da refeição. Ou seja, com grandes ou pequenos, a aparência da comida é importante. E o que põe os pratos mais bonitos e coloridos é o que engorda menos, como os legumes e a fruta. Por exemplo, uma caldeirada é um prato bonito e que qualquer pessoa de qualquer idade pode comer.”
“Passei-te a sopa toda, como tu gostas”
“As crianças têm de se habituar a sentir a textura das coisas”, explica Paula Veloso. “Senão, a sopa fica incaracterística, parece sempre a mesma coisa, eles nem sabem o que estão a comer e passado algum tempo enjoam…” As sopas não têm de ter muita coisa nem têm de ser passadas. “As pessoas dizem, ‘Ai eu ponho tudo na sopa’, e depois deitam lá para dentro muitos ingredientes de uma só vez e aquilo fica tudo igual.” Uma sopa não dá trabalho nenhum: “Pode cozer uma base de batata, cebola e cenoura, por exemplo, e em cima pôr uma rede onde as verduras cozem ao mesmo tempo dentro da água. Depois passam-se os legumes pela varinha mágica, e depois viram-se os legumes lá para dentro. Em 15 minutos está uma sopa feita.” Também se deve evitar misturar a carne ou o peixe na sopa (porque, mais uma vez, eles devem habituar-
-se à textura e ao sabor dos alimentos) e fazer uma panela para a semana toda, porque ao fim de dois dias a comer a mesma coisa já ninguém aguenta.
Keep Calm e dê-lhe a papa
Os bebés começam a comer papa entre os 5 e os 7 meses, e a partir daí é uma nova etapa na sua vida: não stresse se ao princípio estranharem – os bebés estão ‘programados’ para recusarem tudo que não seja o mamilo. Ponha a colher ao canto da boca e deixe que ele sinta o sabor da papa. Aos poucos vão-se habituando. Também não estranhe que comam melhor nuns dias que noutros (há dias que só falta comerem o prato e outros que não entra nada). Muitas vezes, a falta de fome deve-se às dores e ao stresse por causa dos primeiros dentes. Alguns bebés levam tempo a habituar-se às papas. Vá com calma, não queira que ele rape o prato nas primeiras vezes e experimente diferentes sabores gradualmente. Quando são mais crescidos, e como os olhos também comem, experimente inovar a meio da tarde, quando eles têm mais fome: junte rodelas de banana, pera aos bocadinhos ou iogurte natural à papa láctea.