Quem nunca acordou a meio da noite com o coração em sobressalto e a cabeça cheia de imagens dignas de um filme de terror? Os pesadelos são normais em todas as idades, mas enquanto os adultos sabem lidar com eles de forma racional, as crianças pequenas têm dificuldade em perceber que foi “só um sonho mau”. Quando acordam, o papão debaixo da cama que lhes queria fazer mal ainda é bem real, isto acontece até aos cinco/seis anos, quando a fronteira entre a realidade e a imaginação está pouco definida. Qualquer imagem estranha pode converter-se num monstro assustador capaz de povoar os seus sonhos e convertê-los em pesadelos. A partir desta idade, a capacidade de distinguir fantasia do mundo real começa a aumentar, mas só na pré-adolescência, aos 12/13 anos, é que fica plenamente estabelecida. Então, os pesadelos começam naturalmente a diminuir, pois a criança já sente que domina melhor o mundo que a rodeia.
Um pesadelo para cada idade
“O conteúdo dos pesadelos está geralmente relacionado com o mundo interno das crianças, os seus medos e angústias, e varia de acordo com a idade”, explica a psicóloga infantil Teresa Ruivo. Podem começar a partir dos seis meses: “Os primeiros temores são primários e ligados à satisfação das suas necessidades e desejos, como a alimentação, o biberão, a chucha.” A separação dos pais também é comum, podem sonhar que estes os abandonam, por exemplo. Na idade pré-escolar, é normal ter medo de monstros imaginários. Começam a ter acesso a estímulos mais complexos, como desenhos animados e filmes, e como o aumento da imaginação não é acompanhado no mesmo ritmo pela razão lógica, os pesadelos tornam-se cada vez mais elaborados.
Mas os factores externos também não são de desprezar. Stresse escolar, mudanças de casa ou separações dos pais podem dar azo a noites mais conturbadas, até que a criança se adapte às novas rotinas. “Depois também há os medos reais, que são confirmados pelos adultos, como os raptos. São perigos de que elas ouvem falar porque os pais os alertam, e bem, para que se acautelem, mas que podem ser outro motivo de possível angústia”, diz a psicóloga. Em todos estes casos, os pesadelos são normais e até saudáveis, já que constituem um sinal de que a criança se está a ajustar às mudanças com que se vê confrontada no seu crescimento, tanto interiores como exteriores.
No caso “se tornarem muito frequentes, forem muito violentos ou repetidos e se interferirem na actividade diária da criança, pode ser necessário consultar um especialista”.
O melhor que tem a fazer com uma criança que tem pesadelos é fazê-la sentir-se segura e explicar-lhe que não tem nada a temer.
• Tranquilize-a. Fique com ela até que volte a adormecer para que se sinta segura. Se de manhã ela voltar a sentir-se ansiosa, volte a assegurar-lhe que não tem que temer. Alguns pais podem ter a tentação de levar a criança para a sua cama até se acalmar. Não há problema desde que a criança não fique com medo de dormir no próprio quarto. Convém que se sinta segura no seu espaço.
• Fale com ela. Faça-a perceber que é normal ter pesadelos e que muitos meninos têm. Explique-lhe que é só a imaginação dela, que é tudo faz-de-conta. E diga-lhe que os adultos também têm pesadelos, mas que já não se assustam porque sabem que é fantasia. O ideal é fazer isto durante o dia, com tranquilidade, e não na altura em que ela está assustada.
• Deixe uma luz acesa. Se ela preferir, não há problema algum em deixar uma luz acesa para que se sinta mais tranquila. Pode arranjar uma luz de presença, por exemplo, até perder o medo, o que costuma acontecer naturalmente.
• Arranjem outro final. Se tiver um pesadelo em que lhe façam mal, podem tentar mudar o fim do sonho. Ajude-a a imaginar outro desfecho, um em que ela derrote o monstro, por exemplo. Combinem que ela vai levar um objecto com poderes especiais, como um ursinho mágico. Tenha atenção apenas que nem sempre é boa ideia fazê-la reviver o pesadelo, já que pode “não saber identificar os medos subjacentes aos sonhos. Havendo dúvidas, é sempre melhor não fazer nada ou consultar um especialista”.
• Evite que ela veja filmes ou desenhos animados assustadores. Sobretudo até aos 12/13 anos e antes de ir para a cama.