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Foto: Cuckooland

Deve ser a queixa mais comum a todas as mães com filhos de todas as idades: “Farto-me de lhe pedir para fazer qualquer coisa, mas ele obriga-me a repetir vezes sem conta e nunca faz o que eu quero…’ Há alguma maneira de um ser humano me responder imediatamente? 
Bem, para lhe dar logo a má notícia: não. A boa notícia: há sempre estratégias a tentar. 
“Quando queremos pedir qualquer coisa a uma criança, que geralmente é qualquer coisa que ela não quer fazer”, nota Mikaela Övén, mãe de três filhos, autora do blog ‘Mama Mia’ e orientadora de vários cursos para pais. “Portanto, devemos começar por aquilo a que os ingleses chamam ‘connect before you direct’, ou seja, criar uma ligação. Se eu estiver na cozinha e gritar à minha filha ‘Liv, vai pôr a mesa’ e ela estiver na sala a ver a Violetta, a probabilidade de ela fazer o que eu pedi é nula. Se me responder, já vou com sorte.” Depois entramos numa espiral de repetição da ordem, ela nada, ficamos chateados, dizemos que os miúdos nunca ouvem – e está criada a surdez familiar. 
Portanto, primeiro mandamento, escolher a ocasião. Chegar ao pé da criança e fazer um contacto físico: um toque, uma festa… “Tenho de lhe tocar para ela quebrar o contacto com o resto do mundo e com a televisão, mas tenho de me questionar se vale mesmo a pena”, nota Mikaela. “Por exemplo, eu estou aqui a falar consigo. Se os meus filhos me vierem agora pedir qualquer coisa, não lhes vou ligar. Portanto, também temos de respeitar o tempo das crianças e escolher a melhor altura.”

E nós, ouvimo-los?
A verdade é essa: esperamos ser ouvidos, mas quantas vezes não damos o exemplo? “Muitos pais dizem-me ‘Os meus filhos nunca me ouvem’ e eu pergunto ‘Mas de que maneira é que ouve os seus filhos?’. Quanto melhor os ouvimos, melhores modelos somos. Eu consigo pensar em várias situações em que não estou nem aí para os meus filhos. É normal, mas também é normal que eles façam a mesma coisa.”
Recapitulando: escolher bem a ocasião, criar contacto, dar o exemplo e… saber pedir. “Se eu disser ‘despacha-te’ a uma criança pequena, isso para ela não significa grande coisa”, explica Mikaela. “Tenho de dizer ‘calça os sapatos, aperta o casaco, pega na mochila’.  E se disser ‘agora’, ele sabe que é já, e não numa altura indefinida.”
Ok, seguimos para a alínea 5: não ter expectativas irrealistas. “Queremos que eles reajam imediatamente, mas isto é uma utopia muito grande”, nota Mikaela. Ah, portanto é normal eu repetir ‘Ó meninos arrumem a sala… ó meninos arrumem a sala’, e nada? “É normalíssimo! E nós fazemos a mesma coisa. Quando eles nos pedem coisas, fazemos logo à primeira? Não…”
Alínea 6: dar-lhes tempo (e, já agora, a alínea n.º 7 vai ser ‘dar-lhes responsabilidade’). Arruma a sala, arruma a sala, arruma a sala… Não? 
“Isso é outro erro: achamos que temos de repetir uma coisa muitas vezes, e nem damos espaço à criança para o fazer no tempo dela. Às vezes, é preciso ter um bocadinho de paciência para ver o que acontece. E na maioria das vezes, acontece. Porque eles sentem esse tempo de expectativa, sabem que é aquilo que esperamos deles. Além disso, uma ordem repetida é muitas vezes sentida como uma imposição. Se lhe dermos algum espaço de manobra, o que é que estamos a fazer? Estamos a devolver-lhes o poder.” Lei: quanto mais influência eles têm sobre aquilo que acontece, mais fácil será que façam a sua parte. “Se estiverem habituados a ouvir ‘faz isto faz aquilo’, não vão assumir responsabilidades”, ensina Mikaela. Mas se os pais confiarem que ela vai lavar os dentes sem lembretes constantes, ela sabe que é aquilo que se espera dela, e cumpre. Pelo menos na minha família é assim: quanto menos eu chateio, melhor corre (risos). Se eles andam sempre à espera de ouvir uma ordem para fazerem o que têm a fazer, o tempo familiar começa a ser baseado em ordens, e é muito cansativo para todos.” 

Castigar ou compensar? 
 “Há mães que me dizem: ‘Quando ele não faz o que eu quero, castigo-o’”, nota Mikaela. “Para mim, isso não é razoável porque não ensina aquilo que eu quero que eles aprendam. Aqui, temos de nos perguntar qual é a nossa real intenção. As crianças têm vontade de contribuir para a família, e eu quero que eles colaborem, não que eles obedeçam. Eu não quero uma relação com o meu filho em que tenho de utilizar estratégias de medo e de punição para que ele colabore comigo.” E um sistema de recompensas? “Quando a criança se habitua a ser premiada pelo bom comportamento, começa a ser guiada por coisas exteriores, pela vontade de receber algo em troca. A motivação torna-se completamente extrínseca. E isto vai-se replicar em todas as áreas da vida da criança. Além disso, muitas vezes parece que estamos a oferecer à criança uma escolha: eu dou-te o castelo da Barbie se tu conseguires adormecer sozinha durante 10 dias. Mas se ela decide fazer outra escolha, criticamos e julgamo-la. E a criança fica confusa. Afinal, havia uma escolha ou não? Além disso, se queremos relações saudáveis, queremos mesmo um sistema de troca?”
Enfim, também é verdade que não há estratégias infalíveis, como nota uma mãe de três adolescentes, em desespero: “A parte de ajudarem em casa é muito cansativa. Já expliquei que somos uma equipa, e nas equipas todos têm de ajudar. Mas é uma guerra entre o ‘é a tua vez de pôr a loiça na máquina, não é a minha’, etc., etc. Não há nada, em hora nenhuma, em dia nenhum, que eles não refilem e não comparem. Já agradeci, já elogiei, mas foi sol de pouca dura. Há dias em que estou tão cansada que digo ‘Faz porque eu quero’ e pronto.”
Que responde Mikaela? “Três pensamentos: 1 – Em equipa, todos ‘têm de ajudar’, ou todos são igualmente responsáveis para tudo funcionar? 2 – E se deixasse de viver com a expectativa de que eles não deveriam refilar? 3 – E, já agora, “faz porque eu quero” pode ser um argumento bem válido…”

RALHAR SÓ PIORA
Foi a conclusão de um estudo da Universidade de Pittsburgh: quando se ralha a um adolescente, 
o cérebro bloqueia a capacidade de empatia em face 
da crítica e não consegue perceber as razões dos pais. Os investigadores indicam que pode tratar-se de uma forma de proteção e de evitar o conflito, mas a verdade é que, segundo a experiência de muitos pais, é exatamente o contrário que acontece. Mas pronto, agora já sabemos que há uma explicação científica para a ‘surdez’. 

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