Talvez nunca se tenha falado tanto em aceitação. E começar este texto com esta afirmação pode parecer um contrassenso. Mas não é. Numa altura em que a palavra aceitação está na ordem do dia, vivemos num paradoxo em que as imagens da perfeição – nos corpos, nas casas, nas vidas, na parentalidade – inundam o nosso subconsciente, não deixando margem para o erro, para a imperfeição, para tudo aquilo que não corresponde ao que as vidas postadas nas redes sociais demonstram. E por mais que racionalmente se saiba que não há vidas perfeitas, caímos todos na falácia de acreditar nelas. E enquanto perpetuamos essa crença, o olhar perante nós próprios, e também perante os outros, torna-se menos compassivo, menos carinhoso, menos bondoso.
E deixa de haver espaço – do já pouco que a sociedade lhes cede – para os corpos diferentes, que não encaixam em padrões, que vestem acima do 36… Deixa de haver espaço para se apreciar o belo, porque o olhar só vê um molde. Passa-se a acreditar que o corpo do outro tem que estar sujeito ao nosso julgamento, faz-se body shaming de forma consciente, mas também inconsciente, porque opinar sobre a gordura a mais daquela mulher é postura generalizada.
82% das mulheres portuguesas são alvo de body shaming associado ao peso, sendo que 66% dessas mesmas mulheres sentem necessidade de esconder o seu corpo para não sofrerem com comentários depreciativos. Carregar os danos que estes comentários fazem à auto-estima de quem os ouve é um fardo demasiado pesado e poucas vezes reconhecido. Daí ser tão importante perceber que a aceitação não parte do exterior, nunca partirá do outro. A aceitação parte de nós, num caminho nem sempre fácil, mas muito recompensador. É precisamente sobre tudo isto que Carmo Sousa Lara fala abertamente no seu Instagram, onde só cabem reforços positivos e mensagens de empoderamento.
Mas quando confrontada com críticas que a acusam de “promover a obesidade” e de “passar uma mensagem de preguiça e desleixo”, Carmo é peremptória: “A saúde de uma pessoa é multifatorial, não é medida através do volume do corpo de alguém. Existem magros não saudáveis e gordos saudáveis (e vice-versa). Volume é isso mesmo, só o volume do nosso corpo, não é barómetro para alguém julgar se essa pessoa é ou não saudável.
Enquanto julgarmos e criticarmos o outro pela sua aparência ou volume continuamos a perpetuar o body shaming e a gordofobia. Tenho a missão de empoderar as mulheres, de derrubar crenças enraizadas numa sociedade que diminui a mulher. Que faz com que ela se sinta tão mal consigo mesma e com tão pouca autoestima que precisa de sobreviver através de pressões, culturas de dietas, imagem corporal negativa, sem atitude, diminuída, recorrendo a tanto consumo que promete torná-la na mulher maravilha-perfeita. Que para a nossa saúde física estar bem, a mental também precisa de estar, a espiritual também e a social também, e se uma delas falha compromete a seguinte. A missão de dizer às mulheres que o nosso corpo muda, oscila, conta a mais bela história da nossa vida. Que esse corpo não é nenhum antes nem depois, é a essência, veículo que transporta e te dá vida, todos os dias. As fragilidades trazem-nos uma força arrebatadora. Cada corpo é um corpo, não precisamos de pertencer todas a um padrão, a uma ditadura que definiu como deveria ser a mulher e o corpo perfeito, assim, como se fossemos pasta de moldar”.