No momento em que escrevo este texto, tenho alguns brinquedos espalhados no chão da sala, tenho plantas fora do sítio que lhes destinei para que a minha filha de um ano não as coma, tenho livros infantis em cima do sofá, um snack de fruta em cima da mesa e outros tantos sinais de que, nesta casa, vivem crianças. São três. Perante esta afirmação há quem sorria, há quem levante a sobrancelha, há quem se espante e há quem nos considere doidos. A verdade é que sempre tivemos um quê de loucura. Em nós e na forma como encaramos a vida. Sentimo-la a passar depressa demais e não queremos deixar os sonhos escapar. Ter uma família grande sempre fez parte desses nossos sonhos. Agrada-me o caos de uma casa cheia, o privilégio de poder acompanhar o crescimento de três crianças completamente diferentes, esta maravilha de ser sempre colo, abrigo e paz. Sei que ser mãe faz parte de mim, da minha essência, de quem eu sou. Ser a primeira casa dos meus filhos foi, e é, o maior privilégio da minha existência. Não me esgoto nesta minha faceta, sou muito mais do que mãe, mas ser mãe do Gustavo, do Afonso e da Clarinha é tudo. E sou-lhes eternamente grata por isso.
Ser mãe de mais do que um filho é, primeiro, duvidar de como se pode voltar a amar tanto alguém como se ama aquele primeiro bebé. Mas também é perceber rapidamente que isso, afinal, nem sequer é uma questão. O segundo e o terceiro filhos chegam com um amor imenso e sobrenatural e percebe-se ali que o nosso coração tem esta capacidade mágica de se agigantar a cada filho que nos escolhe. Há uma beleza única na dinâmica e nos laços que se vão fortalecendo e intrincando com o acrescento que cada um deles nos traz.
É percebermos que temos que nos desdobrar muitas vezes e que, mesmo assim, não chegamos a tudo. Mas é também fazer as pazes com essa constatação. Porque temos que despir os fatos de super mulheres e aceitarmos que não faz mal não sermos perfeitas. Aliás, é fundamental não sermos perfeitas, para mostrar aos nossos filhos que há uma beleza infinita na imperfeição, na tentativa e erro, na superação.
É termos dias de alguma frustração, aqueles em que nem tudo flui, em que eles discutem por tudo, em que há uma pilha de roupa enorme para lavar, em que só apetece por o mundo em mute e desfrutar desse silêncio. Mas nada disso dura, porque depois vêm os abraços apertados sem pedir, vêm as pazes espontâneas porque não vivem um sem o outro, vêm os sorrisos enternecedores para a irmã e da irmã para eles, mesmo quando ela lhes destrói os legos, vêm as panquecas em família, vem o filme “Encanto” pela 300ª vez (não é uma queixa), vêm as cócegas e as brincadeiras mais simples, que nos completam sempre o dia. A beleza que encerra a loucura de ser mãe de três passa por tudo isto, mas faz-se de tanto mais que não cabe aqui. Faz-se, sobretudo, de afetos e de muito amor. De alguma insanidade, é certo, mas de amor. Daquele que transborda e que é maior do que nós. Que nos torna enormes e pequeninas ao mesmo tempo. Que nos mostra novos medos, mas também uma coragem desmedida. Do que nos faz descomplicar e por o pragmatismo em prática. Do que nos torna os braços e o colo elásticos. Do que nos aconchega e invade. Do amor que nos torna mães. E não há sentimentos mais transformador do que este. Tenhamos um, três ou cinco filhos.