… A QUEM NÃO TEM FILHOS
“Tens tempo para tudo, se tivesses filhos…”
Pois, mas também era melhor, uns não tinham filhos e também não tinham tempo, e os outros tinham o ‘jackpot’… É compreensível que os pais tenham algumas saudades do tempo ‘pré-pai’ em que podiam ir ao cinema quando lhes apetecia, mas tudo na vida são escolhas… além disso, quem lhe diz a si que a outra pessoa não preferia mil vezes ter filhos a ter tempo?
“Mas os teus pais não gostavam de ser avós?“
Pois se calhar até gostavam, mas temos pena. Não se pode ter tudo na vida. E além disso, tens alguma coisa a ver com isso?
“Achas que estás cansado? Experimenta ter filhos…”
Entrar num concurso de ‘quem está mais exausto’ é como as velhinhas com as competições de doenças. O facto de alguém que acabou de passar uma noite sem dormir, de correr atrás de um ser humano que não quer vestir o casaco, não encontrar os sapatos, tentar acertar com uma colher de papa numa boca supersónica e ainda ter de se vestir e arrumar a cozinha e tornar a vestir-se depois de um jato de vomitado, estar cansada, não faz com que outra pessoa que não fez tudo isso mas fez outras coisas, também não esteja.
“Agora não queres mas daqui a uns anos vais-te arrepender”
Como se ter um filho fosse uma espécie de seguro para não se ficar sozinha na vida. Há pessoas que nunca tiveram filhos e não estão sozinhas e pessoas com filhos que nunca lhes ligaram um caracol…
“Um gato não é uma pessoa”
O gato (ou o cão) tem uma infeção nos rins, uma operação urgente, uma doença chata. É preciso ficar em casa com ele. Pois há sempre quem ache que um bicho não merece e que podia perfeitamente ser abandonado à sua (pouca) sorte.
“Não te preocupes, quando tiveres filhos…”
Quando? Quem lhes diz que esse dia vai chegar?
“Posso levar o meu filho à tua festa?”
A vontade do ‘não-pai’ ou ‘não-mãe’ é dizer ‘não, não podes’, mas na maioria das vezes não o faz. Por um lado não quer perder o amigo, por outro não lhe apetece nada ter o Vasquinho a uivar, a correr entre os convidados, a entornar coca-cola nos sofás ou simplesmente ali especado tipo jarrão chinês enquanto a festa dura. Mas pronto. Lá temos de aturar os filhos dos outros porque somos educadinhos.
“A minha vida não tinha sentido até eu ter os meus filhos”
Claro que quem tem filhos percebe perfeitamente que o sentimento é tão profundo que não se parece com nada do que tenham sentido até então, mas dizê-lo assim parece que nada do que viveram antes incluindo o amigo com quem estão a falar teve importância. Se nada fizesse sentido antes de termos filhos, então as vidas de Oprah ou Helen Mirren não fariam sentido. Mesmo assim, se lhe sair, nem pense em pedir desculpa. Só torna as coisas piores. Qualquer desculpa vai sempre soar a ‘ai coitadinha, não queria nada comparar a minha fantástica vida de mãe com a tua pobrezinha’. Tenha apenas consciência de que aquilo que diz pode magoar os outros, e tente dizê-lo menos vezes…
… A QUEM TEM FILHOS
“Tens de te arranjar um bocadinho melhor”
O problema é quando nem sequer há tempo para um banho quente, ó parolo…
“Agora nunca vens ao cinema comigo”
Verdade. Também é compreensível que os amigos tenham saudades. Olhe, antes isso que perceber que de facto a sua ausência não está a fazer mossa afetiva na vida de ninguém…
Não explique que anda exausta, que eles não atingem a dimensão do precipício. Os amigos são preciosos: tente fazer tudo por tudo para estar um bocadinho com eles.
“És muito branda/rígida com os teus filhos”
Pois se calhar até é, mas quem nunca preferiu fechar os olhos para não se chatear ou pô-los em frente da televisão ou do tablet para poder fazer o jantar à vontade, que atire o primeiro comando. Além disso, a partir do momento em que se tem filhos toda a gente, tenha ou não tenha filhos, parece ter imensas teorias educativas e vontade de as partilhar.
“Depois queixa-te…”
Pois obrigadinha pelo aviso, mas nessa altura logo se vê.
“Os filhos da Ana Paula são tão bem educados!”
Pois são uns amores, mas o que é que os filhos dela têm a ver com os seus? Além disso, cada um educa os filhos como lhe apetece. Se calhar os seus filhos põem os cotovelos na mesa mas são melhores a matemática do que os educadinhos da Ana Paula que não vão contribuir em nada para o progresso da Humanidade (embora sejam uns senhores).
“Sai ao pai”
Até pode parecer um elogio, mas geralmente é apenas uma maneira delicada de dizer “Santo Deus, onde é que foste buscar uma criança com pelos no nariz, queixo de bruxa, olhos de vampiro e cara de quem todos lhe devem e ninguém lhe paga?”
“Ter filhos não é desculpa para chegar tarde”
Por acaso, até é. Claro que convém não chegar todos os dias com umas olheiras até aos calcanhares a dizer ‘ai o meu Manel Rui, apesar de ter 13 anos, ainda faz chichi na cama e não me deixou dormir a noite toda’ mas principalmente nos primeiros tempos ninguém pode levar a mal se forem complicados.
“Larga-os na avó e pronto”
Parece simples, mas também não convém abusar dos avós e a verdade verdadinha é que, em podendo efetivamente largá-los na avó, seria para ir fazer qualquer coisa mais útil e produtiva, como por exemplo dormir ou ir comprar sacos do lixo para o Continente.
“Precisavas de ser um bocadinho menos stressada”
está bem. Olha sai da frente que eu quando estou enervada não respondo por mim e por acaso acabo de comprar uma serra elétrica online…
“Quando ela for adolescente ainda vai ser pior”
Sim, mas por essa altura já terei algum treino no uso da serra elétrica.