Os divórcios também podem correr bem. Há, no entanto, pontos essenciais que os ex-companheiros deverão seguir para que o processo corra da melhor forma.Divórcio amigável é possível?
Atentas a esta crescente problemática, as autoras espanholas Eva Bach Cobacho e Cecilia Martí Valverde escreveram o livro “O divórcio que nos une“. Na publicação, revela-se, acima de tudo, que as emoções negativas e dolorosas das separações podem ser canalizadas através de entendimentos e perspectivas que as tornam mais fáceis e suportáveis.
Certo é que ouvimos a palavra “divórcio” e pensamos de imediato em dor, mágoa, medo e desconforto. Será que é sempre assim? Terá mesmo que ser assim?
Geralmente, quando um casal decide separar-se, todos os projetos que tinham em comum chegam ao fim e, sobretudo, a vida familiar termina.
Neste processo de separação, todos os membros da família vão passar por aquilo a que chamamos as fases do luto. Ou seja, todos se vão despedir de um modo de vida em comum, para mudar para outro muito diferente, em que há coisas que se perdem para sempre. Tudo isso é muito doloroso.
A tristeza, a dor, o medo, a raiva e a culpa vai estar presente em muitos momentos. Todos vão viver num carrossel emocional. Tanto os adultos, como as crianças. Mas se os mais dispuserem de ferramentas emocionais eficazes e saudáveis para si próprios poderão ajudar os filhos a passar pelo processo, a crescer como pessoas. E a família poderá passar por esta transformação de uma forma não traumática.
De acordo com as autoras de “O divórcio que nos une”, o mais importante é que ambos os ex-parceiros queiram fazer este processo juntos de forma amigável. Se uma das partes estiver muito zangada e não quiser chegar a acordos, a outra não o poderá fazer sozinha.
Depois, o passo seguinte, e muito necessário, é que haja uma boa comunicação entre os dois, bem como respeito.
Para se separar bem, é preciso coragem, responsabilidade, generosidade, gentileza, humildade e gratidão. Muitas vezes, isso não acontece no momento da separação. Aliás, há casais em que isso nem sequer aconteceu antes da separação: “É difícil ter um bom divórcio onde não houve um bom casamento”, pode ler-se na publicação.
Por outro lado, e por muito difícil que possa parecer, é essencial que os dois continuem a amar-se (ou pelo menos a respeitar-se) através dos filhos e decidam fazê-lo a bem. Tudo é mais fácil quando conseguem colocar o amor pelos filhos acima de tudo. Isso é mais forte do que qualquer turbulência emocional que possam sentir.
Outra das questões que gera, na maioria das vezes, conflito é a culpa. A dor da separação é um pouco mais suportável quando há um culpado. Se um dos parceiros se sente moralmente acima do outro e tem o direito de o julgar, é uma forma de se sentir livre de culpa.
Quanto pior se considera o ex-parceiro, menos dói, e isto não é apenas verdade para o parceiro, mas também para a família, filhos e amigos, que, por vezes, perguntam quem é o culpado. Parece que vai doer menos a todos, mas não é assim. Não só não evitará as emoções naturais da separação, como as complicará e gerará muitos mais conflitos.
O importante é tomar consciência de que na vida acontecem coisas que não queremos ou que não estavam nos nossos planos, mas que não conseguimos evitar. Por isso, não só não faz sentido querer manter ao nosso lado alguém que não quer estar connosco, como amar verdadeiramente é deixar ir livremente quem amamos, se essa pessoa estiver melhor – ou acreditar que está melhor – longe de nós ou com outra pessoa.
Mas a verdade é que, se durante o tempo em que estiveram juntos não houve gestos de cumplicidade, nem uma boa comunicação emocional e afectiva e não se respeitaram, nem estiveram em sintonia um com o outro, nem foram capazes de chegar a acordos e pactos, como é que vão manter um bom diálogo e tratar-se com respeito em momentos de tanta turbulência emocional como agora?
No divórcio perdem-se coisas importantes e é natural que seja doloroso, mas não tem de ser traumático e levar a uma infelicidade sem fim. Se for um divórcio consciente, é um processo de transformação pessoal e de amadurecimento emocional. Embora a história de amor tenha terminado, muitas vezes é possível demonstrar tanto amor e respeito enquanto se está separado, ou até melhor (porque é mais difícil), do que se ainda se estivessem juntos.
O divórcio implica um luto e, logicamente, enquanto atravessam essa fase os parceiros e os filhos podem também pensar que não conseguirão recuperar da dor, da raiva ou de outras emoções desagradáveis e difíceis. Mas, com o passar do tempo, se todas estas emoções naturais e inevitáveis tiverem sido corretamente tratadas, muitas vezes descobrem que aprenderam muito com o processo que parecia tão difícil.
Há pessoas que demoram muito tempo a ultrapassar o luto e só o superam ao fim de anos, outras permanecem eternamente numa atitude de vítima e recusam-se a reconhecer que a relação terminou ou que não podia continuar. Se se aceitar e lidar com a separação, mesmo que não se goste, em vez de se fazer um drama ou de se transformar a separação numa guerra, o luto será mais curto.
Por fim, guardar no coração os momentos bons que existiram e agradecer à outra pessoa tudo o que partilharam e aprenderam juntos é uma forma de seguir em frente.
Divórcio amigável é possível?