Foto Pexels/Gustavo Fring

Não foi só Picasso que passou pelo ‘período rosa’: a Beatriz tem 5 anos e uma mãe desesperada: “Ela só veste coisas cor-de-rosa, do mais kitsch”, queixa-se a mãe.
“Tudo o que tenha folhos e flores é bom, mas em cor-de-rosa é ainda melhor.” Uma explicação vem das etapas comportamentais estabelecidas pelos psicólogos e que indicam que até aos 7 anos as crianças estão convencidas de que são os sinais exteriores que indicam o sexo. Uma menina acha que tem de se vestir ‘de menina’ de cor-de-rosa, folhos e laços para que os outros saibam que ela é uma menina. E nesta idade, distinguir-se dos rapazes faz parte do desenvolvimento da sua identidade: através do cor-de-rosa, ela afirma ‘eu sou uma rapariga’.
A indústria não perdeu tempo a aliar-se à psicologia, e em qualquer hipermercado se encontra um corredor cor-de-rosa onde todos os brinquedos se apressam a dizer às meninas que sim, são raparigas. Ou aquilo que se convencionou que uma rapariga deve ser. “Li milhares de livros dedicados à cultura da adolescência”, afirma a jornalista americana Susie Orenstein, autora do livro ‘Cinderella Ate My Daughter’ (‘A Cinderela comeu a minha filha’). “Mas ninguém me explicava esta cultura das rapariguinhas, desde os 2 anos até aos 10, para me ajudar a decifrar o impacto que estas imagens tinham nelas, e o que elas absorviam sobre aquilo que a cultura do marketing acha que elas devem ser e comprar.” Os rapazes também têm o seu estereótipo, mas, afirmam os psicólogos, não é tão invasivo nem tão óbvio como o mundo criado para as meninas.

Vender às meninas
O hábito de vestir as meninas de cor-de-rosa e os rapazes de azul nem sempre existiu. No tempo dos nossos trisavós, as crianças vestiam-se de branco até aos 7 anos, porque era mais prático, e ainda não estávamos na altura em que alguns pais temiam que vestir uma criança da cor ‘errada’ tivesse graves consequências sexuais no futuro.
E na altura o azul era considerada uma cor delicada e feminina (afinal, de que cor é o manto da Virgem Maria?) A mania de distinguir as meninas dos meninos só surgiu depois da Primeira Guerra, com o fabrico em série.
Nos anos 80, as mães feministas decretaram que o cor-de-rosa era sexista. Resultado: uma quantidade atual de mães esfomeadas de cor-de-rosa que projetam nas filhas a saudade do que elas não tiveram. Também por isso é que algumas meninas se recusam a vestir qualquer coisa cor-de-rosa: percebem que é aquilo que a mãe ou outro tipo de poder… lhes quer impor…
A moda do azul e cor-de-rosa voltou em grande com os testes pré-natais. E – adivinhem lá – mais uma vez o mercado está por trás de tudo. Os pais com dinheiro podiam dar-se ao luxo de comprar um enxoval todo em rosa, e recomeçar tudo no filho seguinte em azul, se fosse rapaz. “Quanto mais se individualiza a roupa, mais se vende”, explica a historiadora americana Jo Paoletti, autora do livro ‘Azul e Cor de Rosa: Separando os Rapazes das Raparigas na América’).
Portanto, o consumismo pegou numa fase natural de algumas meninas e empolou-a, vendendo às meninas pequenas, e cada vez mais pequenas, aquilo que lhes interessava que elas comprassem, em imagens cada vez mais estandardizadas e artificiais: “E as meninas pensam, por exemplo, que aquilo que as torna meninas é o facto de terem cabelo comprido e vestidos”, afirma Paoletti.

E quando elas preferem azul?
Mas o facto de lhes quererem vender cor-de-rosa nem sempre significa que elas queiram comprar. Embora muitas meninas adorem tules e frufrus, outras nunca passam por esta fase. E isto também não é nenhum drama.
Há quem já afirme que esta obsessão com o cor-de-rosa é tóxica, que fecha as meninas numa ideia de feminilidade totalmente desadequada e que marginaliza as que não se enquadram neste quadro idílico e monocromático: por muito que se adore o cor-de-rosa, temos o direito de excluir outras cores do seu mundo? Mas também há quem defenda que negar o cor-de-rosa a uma menina é desrespeitar a sua feminilidade. Um estudo afirma mesmo que as meninas esfomeadas de rosa eram as que tinham mães mais inseguras da sua feminilidade.
Mas o principal é isto: não é uma cor que vai marcar uma criança, e a ‘fase rosa’ pode ser irritante mas não tem consequências graves na vida das crianças. “O efeito de todo este cor-de-rosa é temporário e insignificante”, afirma o psicólogo inglês Michael Gurian, em www.news.bbc.co.uk.com.”E não tóxico e duradouro como se teme.” Explica Gurian: cada pessoa é composta por quatro princípios básicos: género, talentos, personalidade e capacidade para lidar com o trauma.
E a única coisa que pode mudar profundamente alguma destas coisas é um trauma sério. Por exemplo, uma rapariga não se torna anorética por ver imagens de modelos magras. Mas essas imagens podem afetá-la se já houver qualquer outro desequilíbrio que a predisponha a isso.

Princesas ao poder
Mesmo que o rosa não cause traumas e que a Semana da Moda não provoque anorexia na maioria das pessoas, estes mundos artificiais podem criar sentimentos de inadequação quando não nos sentimos confortáveis na nossa pele.
Conclusão: se tem uma filha, não a deixe ver demasiada televisão. Mas compre-lhe um vestido cor-de-rosa, se ela pedir. Afinal, um bocadinho de cor-de-rosa na vida nunca impediu nenhuma mulher de se tornar engenheira, advogada, cirurgiã ou polícia.
E daqui a nada vai tê-la a dizer que o cor-de-rosa é para os bebés, e a querer vestir-se de… preto.

Cor-de-rosa é para rapazes?
Precisamente porque o cor-de-rosa, durante a infância e adolescência, é visto não como uma cor mas como uma afirmação (‘sou uma rapariga’), não será comum que o seu filho de 6 anos lhe peça para ir para a escola de cor-de-rosa. Mas há uma crescente moda, entre os rapazes mais velhos, de usar mais cores, inclusive o cor-de-rosa, como reivindicação do seu direito à criatividade e individualidade… Afinal, o rosa também pode ser um exercício de liberdade.

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