
Quem segue o ténis mundial, sabe quem é Aryna Sabalenka e não é só por ser o número dois do ranking mundial. É também pela sua personalidade. As ‘exclamações’ que solta sempre que bate na bola são uma autêntica declamação da sua força dentro e fora de campo. A tenista bielorussa é tudo menos low-profile e tanto se destaca por manifestar a sua frustração – normalmente as raquetes são as principais vítimas – como pela sua personalidade alegre e divertida. Aryna, que ganhou duas vezes consecutivas o Open da Austrália, confessa que tem trabalhado na sua saúde mental, já que são muitas as vezes que, no court, se deixa levar pelas emoções.

Porém, nestes últimos dias, Aryna Sabalenka tem sido notícia pela morte repentina – aparentemente suicídio – do seu ex-namorado, antigo jogador bielorusso de hóquei no gelo Konstantin Koltsov, com apenas 42 anos. Mais atenção tem tido a tenista por manter a intenção de participar no Miami Open, com jogo de estreia marcado para amanhã, sexta-feira, dia 22. Curiosamente Aryna vai jogar contra a sua melhor amiga, a tenista espanhola Paula Badosa (namorada do tenista grego Stefanos Tsitsipas, nº11 do ranking mundial).

Aryna Sabalenka, que há cinco anos perdeu o pai, também ex-jogador de hóquei que morreu de forma igualmente repentina (morte súbita) aos 43 anos, já fez uma declaração nas redes sociais: “A morte de Konstantin é uma tragédia impensável e, embora já não estivéssemos juntos, o meu coração está partido. Por favor, respeitem a minha privacidade e a privacidade da sua família durante este momento difícil.”
“Não existe uma forma absoluta de viver uma perda”
O facto de Sabalenka se manter em jogo em Miami tem suscitado muitas opiniões, tantas ou mais do que a própria morte do ex-namorado. Mas, segundo Filipa Jardim da Silva, Psicóloga Clínica, Autora e CEO da Academia Transformar, a reação da tenista ao evento traumático não é invulgar. “Em situações de elevada carga emocional como uma perda, a resposta inicial mais universal é o choque, que pode enebriar os sentidos. Nesta gestão de pensamentos e sentimentos dolorosos, um dos mecanismos protetores mais comuns é o evitamento: envolvendo-nos em ações variadas, substituindo o modo sentir pelo modo fazer. Assim, manter os compromissos profissionais como uma competição desportiva, no caso da tenista Aryna Sabalenka, mergulhar em tarefas e responsabilidades, podem levar-nos a distrair do foco da dor. Esta supressão emocional pode ser mais ou menos consciente e é considerada, geralmente, como uma resposta adaptativa à perda e uma parte integrante da resposta inicial ao luto.”

A psicóloga sublinha também que “todos os processos de luto e gestão de perda são únicos. Não existe uma forma absoluta de viver uma perda. É sobretudo importante assegurar nestes processos (1) liberdade de escolha momento a momento, em função do que serve melhor as nossas necessidades e recursos; (2) conexão connosco mesmos e com pessoas seguras da nossa rede de suporte, e (3) comunicação dos nossos sentimentos, pensamentos e necessidades, para que possamos exprimi-los, reconhece-los e regulá-los, com legitimidade e sem culpa ou vergonha. Desta forma, garantimos uma evolução o mais saudável possível na gestão da perda.”