Alguma sofisticação, algum minimalismo, outro tanto de exotismo. É no equilíbrio entre estas coordenadas, associadas à procura do conforto e funcionalidade, que assentam as linhas-mestras desta casa.
Situada em Campolide, Lisboa, conta com 150 metros quadrados, 50 dos quais correspondentes à sala comum. À excepção desta sala, as restantes divisões três quartos, duas casas de banho e cozinha são, sem serem exíguas, contidas na sua dimensão. Mesmo assim, o espaço é fluido: não há excesso de móveis nem de objectos. A arrumação processa-se através de mobiliário encastrado no corredor, cozinha e quartos. O hall de entrada é um dos melhores exemplos da ambivalência deste projecto: se, por um lado, nos cativa pela imediata e frontal visão de uma máscara africana, com toda a mística fantasista que estes artefactos encerram, por outro, agarra-nos pelo pragmatismo das soluções. A um metro da máscara, um móvel de duas portas, com uma prateleira deslizante (para o teclado), acolhe um escritório compacto, com computador, arquivadores e papelada. Uma vez fechado, é como se a máscara tivesse feito… magia. Num ápice, fica tudo arrumado.
Cristina Jorge de Carvalho, designer de interiores, desenhou o móvel-escritório em causa, tal como a maioria dos móveis. Encarregou-se também, ainda em obra, da escolha dos acabamentos e revestimentos. No fundo, toda a arquitectura de interiores, do desenho de tectos à escolha dos puxadores, é da sua responsabilidade. Tratando-se da sua casa, não foi necessário o habitual consenso entre os desejos do cliente e a orientação do decorador.
Por isso, esta foi uma oportunidade para abolir alguns lugares-comuns: não existem azulejos, puxadores dourados, varões de cortinados visíveis ou portas de madeira com vidrinhos. A paleta de cores dá primazia a vários tons de cinza, ao bege e ainda ao preto e castanho. Algumas paredes parecem brancas, embora não o sejam pois Cristina manipulou as cores, adicionando-lhes pigmentos. Não houve receio de usar cores escuras, nomeadamente na cozinha e casa de banho. Na primeira, na zona oposta à bancada, foi usado papel de parede, revestimento pouco comum numa cozinha, mas que, na opinião da designer, lhe confere ‘maior conforto e retira o ar de cozinha’. Os quartos das crianças destacam-se pelas cores vivas, enquanto o do casal é mais sofisticado. A cabeceira da cama, por exemplo, incorpora painéis acolchoados e espelhos laterais.
Esta é a quinta vez, desde que vive em Lisboa, que a designer muda de casa. E não será a última, porque, apesar de criar espaços e objectos, não se mostra muito apegada a estes. ‘Não tenho uma relação muito intimista com as coisas’, admite. O mesmo acontece a Lisboa: "A minha cidade de eleição é a que conciliar o Rio de Janeiro com a arquitectura de Paris e o estilo dos italianos." Eis um desafio.