Ela adora a força das danças ciganas e espanholas. Talvez por ‘toda a vida ter sido um pouco nómada’. Lucília nasceu em Moçambique há 28 anos e veio com ano e meio para Portugal. Cresceu em Aveiro, migrou para Portalegre na ado-lescência, trabalhou na Guarda e há uns anos ‘estacionou’ em Lisboa. Começou a dançar aos 9 anos; na adolescência rendeu-se à dança contemporânea e aos 16 já dava aulas de dança jazz, mas paixão achou-a nos ritmos espanhóis. ‘Percebi que me levavam ao clímax. É uma conversa fei- ta com os pés e com o corpo. O público reage logo.’ Apren-deu os rudimentos na Associa-ção Juventude da Galiza, em Lisboa, e ganhou uma bolsa para a Escola Amor de Dios, em Madrid, onde aprendeu com os melhores professores de fla-menco do mundo, ‘pessoas de uma humildade como nunca encontrei cá’, lembra.
FLAMENCO INFANTIL
Lucília descobriu que as crianças respondiam muito bem ao flamenco e às sevi-lhanas. Hoje tem alunos dos 3 aos 50 anos em Sintra, Loures e Azambuja. ‘Percebi que há miúdas hiperactivas que não se adaptam aos movimentos rígi-dos do balé. A dança espanhola é muito cativante para elas.’ As vantagens são enormes e o de-senvolvimento psicomotor da criança agradece. ‘Aumenta–lhes a consciência de corpo, a noção de latera-lidade, põe-nas a contar os compas-sos e o ritmo.’ E a boa notícia é que já vão aparecendo rapazes. A sua tur-ma de elite é a das ‘juniores’, dos 8 aos 14 anos, que já actuam como gente grande em espectáculos da Companhia de Dança de Sintra, fundada por Lucília depois de anos de poupanças, que já vai na 7.ª turné nacional. Entre aulas e ensaios, a sua vida é um corrupio, mas há um novo ‘dançarino’ que a orienta: Afonso, o filho de ano e meio.