Certamente já se viu num daqueles jantares de amigos, em que todos bebem vinhos caros e regam a digestão a uisque, enquanto você não passa dos refrigerantes. Tudo muito bem, excepto na hora de pagar. Por um lado não se sente à vontade para dizer que só paga a sua parte, mas por outro quem sofre é a sua carteira. A vida seria bastante mais fácil se se seguisse à risca o velho ditado "amigos, amigos, negócios à parte". Seriam assim evitadas situações constrangedoras, não só na hora de pagar contas, mas também noutros casos, como os pedidos de empréstimo por parte de pessoas mais ou menos chegadas.
"A conversa sobre dinheiros é sempre tabu", observa Paula Bobone, especialista em etiqueta. De facto, é verdade. Mais facilmente as pessoas abordam assuntos de natureza intíma do que falam, por exemplo, dos seus ordenados, e muito menos da divisão de despesas. Algumas chegam a sofrer em silêncio, com falta de dinheiro que aceitaram emprestar. "Nunca tenho coragem de pedir o meu dinheiro de volta. Nunca emprestei grandes quantias, mas já me têm pedido 10 euros para almoçar ou para uma compra de emergência e, se a pessoa não me devolver, tenho vergonha de pedir. O pior é que fico a perder", explica Francisca Mateus, 28 anos, maquilhadora.
Para que não fique sempre a perder, Paula Bobone dá alguns conselhos, para que saia airosamente de certas situações constrangedoras.
A SITUAÇÃO – É convidada para um jantar de grupo e, não só por questões económicas, mas também de saúde, não bebe vinho nem digestivos e come uma salada. A conta deve ser dividida por todos, de igual modo, ou é correcto cada um pagar apenas o que conseguiu?
A SOLUÇÃO- "Entre amigos de orçamentos mais modestos, é natural que sejam os consumidores dos bens mais caros a tomar a iniciativa de os pagar. Não é à pessoa que não comeu ou bebeu que compete dizer que não paga. Tudo passa por as pessoas terem sensibilidade, sendo essa, aliás, a regra básica das boas maneiras. De qualquer das formas é injusto que os que fizeram menos despesa estejam a pagar por algo que não consumiram. Mas a divisão diferenciada da conta tem que partir, de forma delicada, dos que mais consumiram."
A SITUAÇÃO: Tem poucos recursos, mas os seus amigos mais abastados estão sempre a convidá-la para sítios caros. Como contornar a situação?
A SOLUÇÃO: "Se não estiver em causa a divisão de despesas, a pessoa deve aceitar. Quem tem menos dinheiro não se deve sentir inferiorizada, porque certamente tem outros valores com os quais pode retribuir e agradar. Se o convite implicar que cada um paga a sua parte, a pessoa que não pode ir deve arranjar um pretexto. Não vai dizer abertamente "não tenho dinheiro." As pessoas não precisam de contar a sua vida ao pormenor, os outros entendem. Basta dizer "não me dá jeito." Sobretudo, ninguém se pode arriscar a contrair despesas que depois não possa pagar."
A SITUAÇÃO: Co mo reagir a alguém que nos pede dinheiro emprestado?
A SOLUÇÃO: "Eu sou de opinião que não se deve emprestar dinheiro, excepto se for um amigo num grande embaraço e, aí, estamos lá para ajudar. A pessoa abordada deve usar a chamada mentira piedosa, dizer que de momento não lhe convem. Porque, de facto, se se ceder corre-se o risco do pedido se transformar num hábito. Quem pede emprestado deve ter o cuidado de reembolsar e agradecer o mais rapidamente possível."
A SITUAÇÃO: Tem uma amiga que passa a vida a esquecer-se da carteira, quer vão só ao café do lado, quer vão às compras. Como avisá-la, delicadamente, dessa situação?
A SOLUÇÃO: "Há várias maneiras de resolver esse problema, tudo dependendo do género de relação que se tem com a pessoa ‘esquecida’. Às vezes basta uma gracinha, uma piadinha irónica, do género "olha, não te esqueças da carteira." E a pessoa, que não é parva, se o fazia de propósito vai deixar de o fazer. Se era mesmo esquecimento, até agradece."
A SITUAÇÃO: Vai de férias com uma amiga e ela esquece-se do cartão de crédito. Resultado: tem que assegurar boa parte das despesas. Como reagir?
A SOLUÇÃO: "Hoje em dia as pessoas têm que ter consciência de que têm grandes responsabilidades. Cada um de nós funciona como uma firma. Podemos ter dívidas, mas temos que nos assegurar de que as podemos pagar. Por isso, parece-me que poucas são as pessoas que vão de férias e se esquecem da ferramenta essencial que é o cartão de crédito. Se for mesmo uma amiga, em quem tem a maior das confianças… Mas se a pessoa se esquecer do cartão arranja maneira de ir a um banco e ter dinheiro. Sacrificar uma amiga com esse encargo seria uma atitude grosseira."