"São jovens até aos 18 anos, fizeram o corte com a família, têm carências a nível de saúde e problemas com a justiça porque utilizam o ilícito como estratégia de sobrevivência – furtos, tráfico de droga, prostituição infantil." É assim que, em breves linhas, Matilde Sirgado, de 41 anos, define a complexa realidade das crianças de rua, o alvo do seu trabalho desde que, em 1994, assumiu os comandos do Projecto Rua.
Esta instituição revolucionou a intervenção social com menores em Portugal e em Outubro faz 20 anos. Só nos primeiros seis, tiraram 600 crianças da rua. Hoje, apoia os menores do distrito de Lisboa através de várias acções.
Todos os dias, uma equipa percorre as zonas de risco da cidade na unidade móvel, dialogando com os menores e procurando respostas para a sua reinserção social. Estabeleceram também Núcleos de Apoio à Comunidade em bairros como a Zona J de Chelas, Olival do Pancas e 6 de Maio, locais de residência de muitos destes jovens, onde apostam numa relação de proximidade com a população. Aqui medeiam-se conflitos familiares, criam-se ateliês de tempos livres e animação escolar para as crianças; incentivam-se os jovens a agir com os seus próprios projectos de solidariedade social.
Para dar uma segunda oportunidade àqueles que já têm comportamentos pré-delinquentes, o projecto criou, ainda, o curso ‘Educar e Formar para Inserir’, onde aprendem competências teóricas, práticas e pessoais. Mais de 80 formandos já ganharam os seus certificados nos últimos três anos. Uma área de acção vastíssima, que ainda se completa através do trabalho de procura de menores em fuga: só em 2008 encontraram cerca de 100 jovens desaparecidos de casa – mais de 30 casos foram sinalizados pela Linha SOS Criança.