O escritório e ateliê de Dino Gonçalves, arquiteto, reflete o seu estilo pessoal, com misturas de texturas e objetos de vária ordem. “Acho detestável um escritório de ambiente laboratorial ou minimal, sobretudo se for em casa. No escritório não há que ter medo de exagerar no que se gosta”, defende. O arquiteto gosta de misturas. Há um tampo Ikea, uma mesa de obra toscamente reabilitada, esculturas valiosas, telas pintadas pelo próprio, objetos étnicos, cadeiras estofadas com dois padrões de tecido Ralph Lauren. O cúmulo do estilo? Os lapiseiros em casquinha de prata que, na realidade, fazem parte de um serviço de chá ‘perseguido’ pelo arquiteto durante muito tempo. Depois de o ter comprado quis tê-lo a uso, perto de si todos os dias.
Definir o melhor lugar para o escritório doméstico é um jogo de equilíbrio entre espaço disponível, espaço necessário, vida familiar e número de utilizadores . Terence Conran, designer londrino e fundador das lojas Habitat, lembra, em ‘O Livro Essencial da Casa’, que é melhor situar o escritório num recanto “tranquilo, afastado dos principais sítios de passagem e não numa sala por onde as crianças corram, mas também com boa iluminação e, se possível, uma vista agradável”. Se recebe clientes ou colegas em casa, o espaço deve ficar distanciado da vida doméstica. “É difícil manter um ar profissional se for preciso circular por entre roupa estendida ou por uma cama desfeita”, acentua Conran. Se a casa for suficientemente ampla, pode dar-se ao luxo de ocupar uma sala inteira.
Outra opção é criar uma divisão com dupla função: por exemplo, no quarto, por tender a ser um espaço sem utilização durante o dia. No entanto, é pouco saudável dormir no mesmo local em que se esteve a trabalhar. Se não houver alternativa, minimize danos criando uma área de trabalho “delimitada, se possível junto à janela e de modo a ficar de costas para a cama”, aconselha Conran. A sala é outra divisão, nem sempre em pleno uso, onde é viável inserir um recanto de trabalho. Neste caso, procure harmonizar as peças de mobiliário da zona de trabalho com o resto da decoração. Necessitará de bons sistemas de arrumação e arquivo para manter papéis fora de vista quando não estão em uso. Em qualquer caso há alguns preceitos de ‘boa vizinhança’ e higiene de vida a ter em conta. Alexandre Saldanha da Gama, consultor de Feng Shui, autor do livro ‘Feng Shui@Lares e Costumes Portugueses’ recomenda que cinco minutos antes de abandonar o trabalho seja tudo arrumado, deixando o espaço como se outra pessoa o fosse utilizar de seguida. Este procedimento, defende, “obriga-nos a ter sempre tudo em dia e a preparar os próximos passos de trabalho”. Como critério de arrumação, aquele consultor propõe prateleiras mais altas para trabalhos relacionados com o futuro, de altura média para trabalhos a decorrer e prateleiras mais baixas para trabalhos já executados. E se os arquitetos de interiores, por norma, recomendam a existência de uma fonte de luz natural lateral à secretária, os especialistas em Feng Shui são mais exigentes quanto à localização e orientação do escritório: “Cada caso é um caso, mas, genericamente, arrisco propor noroeste como uma boa orientação para um executivo ou um diretor, por favorecer o planeamento e o controlo das situações”, avança Alexandre da Gama.
Não descurando o conforto e a eficiência, considera-se que além das peças necessárias ao trabalho, a existência de dois ou três objetos mais pessoais, para personalizar o espaço, também são pertinentes e, se possível, plantas! Sofia Pinheiro, designer gráfica e de interiores, colaboradora habitual de Casa Cláudia Ideias, e cada vez mais adepta do Feng Shui, frisa que a mesa de trabalho deve estar virada “sempre para o centro do espaço e nunca para a parede”. Também defende que um escritório integrado num espaço familiar precisa de acessórios personalizados e adequados a um ambiente não institucional. “Bases de secretária, agrafadores e afins podem tornar-se peças interessantes e lúdicas no esquema decorativo, substituindo os acessórios anónimos tradicionais.” Dino Gonçalves, arquiteto apaixonado pela decoração, leva ao extremo a ideia de personalização do espaço, muitas vezes até contra os cânones da profissão. Para ele, o pior que se pode fazer num escritório em casa é dar-lhe um ar laboratorial ou minimal. “É o espaço que melhor caracteriza a pessoa, por isso não há que ter medo de carregar no que se gosta.”
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